Começa hoje a nova vida da Volta a Portugal

A Volta vai andar por Portugal à procura de um novo “proprietário”, agora que quase uma década de domínio da W52-FC Porto vai ser interrompida pela suspensão daquela que tem sido a melhor equipa portuguesa de ciclismo.

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O pelotão da Volta em 2021 LUÍS FORRA

A W52 conquistou oito das últimas nove edições da Volta a Portugal – domínio ainda mais claro desde a parceria com o FC Porto. Para 2022, não há W52. Não há FC Porto. Não há também os ciclistas que têm sido os crónicos candidatos ao triunfo, entre os quais o actual bicampeão, Amaro Antunes.

O caso de doping a envolver a equipa nortenha ainda está com conclusões por averiguar, pelo que, para já, por ordem da União Ciclista Internacional, não há lugar a actividade algumanem sequer com os ciclistas livres de suspensões, como até era o caso de Amaro Antunes.

E está por saber a extensão desta teia de doping, já que a Polícia Judiciária fez novas buscas nas últimas horas, desta vez a envolver atletas de outras equipas relevantes na Volta: a Efapel, o Boavista e a Glassdrive.

Há, portanto, uma nova Volta a Portugal. É uma Volta com menos valor individual, que a W52-FC Porto apresentava plantéis luxuosos para a realidade nacional, mas também, em tese, com mais competitividade.

Na estrada, será uma Volta sem um “papão” capaz de controlar a corrida etapa sim, etapa sim. Mas será, por outro lado, uma Volta sem a postura ofensiva permanente de quem pode “queimar” vários ciclistas de bom nível em ataques – também isso etapa sim, etapa sim.

Em suma, esta será uma Volta diferente – e desta quinta-feira até dia 15 veremos se para melhor.

Glassdrive e as outras

Esta Volta terá, como habitual, um contingente estrangeiro modesto. Não há nenhuma equipa World Tour e estão apenas quatro continentais, as do segundo escalão do ciclismo mundial. Ao contrário da Volta ao Algarve, a prova de âmbito nacional terá, portanto, de se contentar com a nata portuguesa e mesmo essa está reduzida, como se sabe.

A Glassdrive traz, em tese, o bloco mais preparado para suceder à W52-FC Porto, até porque tem os dois principais candidatos ao triunfo: Frederico Figueiredo e Maurício Moreira.

Uma das grandes curiosidades da corrida é perceber a gestão que a equipa fará do estatuto dos dois ciclistas, até porque apresentam valências diferentes: Figueiredo, que chega à Volta em boa forma, terá de ganhar tempo na montanha, ainda que se defenda cada vez melhor no contra-relógio, enquanto Moreira, forte no “crono”, poderá ser menos ousado em terreno montanhoso. E o uruguaio chega a esta corrida depois de alguns problemas de saúde.

Num segundo patamar de favoritismo surgem dois clássicos chamados Alejandro Marque, do Tavira, e Vicente Garcia de Mateos, do Louletano (foi o melhor de equipas nacionais na Volta ao Algarve, no início do ano), e um trio de portugueses que, se cumprirem os intentos do director-desportivo José Azevedo, poderão fazer qualquer coisa pela Efapel: Joaquim Silva, Henrique Casimiro e Tiago Antunes.

Neste patamar surgem ainda dois estrangeiros. Kyle Murphy, campeão norte-americano da Human Powered Health, que em 2022 somou dois lugares no top-35 em provas importantes (GP Industria e GP Miguel Indurain) e outro sem resultados de primeira linha em provas importantes, mas que vai somando alguns momentos de relevo em corridas secundárias, como é a Volta a Portugal. Falamos de Serghei Țvetcov, romeno da Wildlife Generation que é já somou cinco títulos de campeão romeno de contra-relógio. E a luta contra o cronómetro poderá ser relevante nesta Volta.

Percurso inovador

A prova começa e acaba com “cronos”: um primeiro, curto (5,4 quilómetros), em Lisboa, que dará ao melhor contra-relogista a camisola amarela (Rafael Reis é o candidato mais óbvio), e um a fechar, mais longo (18,6), no Porto.

Entre um “crono” e outro teremos nove etapas para todos os gostos, mas com uma clara preocupação da organização em reduzir o peso dos terrenos duros – há menos sete contagens de montanha do que em 2021 e apenas três chegadas em alto.

Além das habituais subidas à Torre (etapa 3) e Senhora da Graça (etapa 9), haverá uma escalada inédita ao Observatório do Parque Eólico de Vila Nova, no concelho de Miranda do Corvo. Estamos a falar de um dia com potencial para ser divertido, já que é uma subida com quase dez quilómetros a 9% de inclinação e com uma zona final de 1,7 a 12%.

Também ao contrário de em 2021, haverá, em tese, quatro dias para sprinters (etapas 1, 2, 4 e 6) e um dia “híbrido” (etapa 8), com um final em empedrado que certamente vai seduzir puncheurs ou velocistas versáteis.

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