União Ciclista Internacional leva W52-FC Porto a temer pelo futuro

A UCI retirou a licença desportiva à W52-FC Porto, que falha a Volta a Portugal. Equipa ainda pode recorrer para o Tribunal Arbitral do Desporto.

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Samuel Caldeira foi um dos ciclistas da W52-FC Porto suspensos pela ADoP LUSA/NUNO VEIGA

Adriano Quintanilha, patrão da equipa continental de ciclismo da W52-FC Porto, tinha ameaçado, há menos de uma semana, mudar-se de armas e bagagens para Espanha, isto caso Portugal não soubesse respeitar os vencedores das últimas nove Voltas.

Agora, depois da Federação Portuguesa de Ciclismo ter confirmado a suspensão internacional da equipa portuguesa, que perdeu a licença desportiva e não poderá competir, a W52-FC Porto sofreu novo golpe, ficando isolada e sem garantias quanto ao futuro, a começar pelos patrocínios e a acabar no possível divórcio com o FC Porto.

O responsável pela equipa que há seis anos se coligou aos portistas exercia, antes da decisão da UCI, uma previsivelmente falível chantagem emocional, ao mesmo tempo que recorria à figura da providência cautelar para vincar a contestação às conclusões da operação “Prova Limpa”, desencadeada há cerca de ano e meio, e que levou já à detenção do treinador Nuno Ribeiro, assim como o seu adjunto, José Rodrigues, e à suspensão de praticamente todos os ciclistas.

Na última prova, depois de um primeiro protesto na terceira etapa do Grande Prémio O Jogo, em Vila Nova de Paiva, a W52-FC Porto viu-se reduzida a um corredor no Grande Prémio do Douro Internacional, ganho pelo “sobrevivente” José Neves. Tudo, na sequência da suspensão (durante 120 dias) de oito ciclistas e dois outros elementos, determinada pela Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP).

Ainda assim, Adriano Quintanilha mostrou-se surpreendido pela suspensão ontem decretada pela União Ciclista Internacional, notícia que provocou um “bombardeamento” de telefonemas e mensagens quando o patrão da W52-FC Porto se encontrava em Espanha, precisamente para contratar corredores que permitissem a participação na 83.ª edição da Volta a Portugal, cujo arranque está agendado para dia 4 de Agosto.

Uma notícia que contribuiu para afundar ainda mais a reputação da equipa, já abalada pela recente suspensão do espanhol Raul Alarcón, antigo ciclista a quem foram anulados os resultados desportivos obtidos entre 28 de Julho de 2015 e 21 de Outubro de 2019, com destaque para as duas Voltas a Portugal de 2017 e 2018.

Alarcón foi, então, confrontado com a decisão do Tribunal Arbitral do Desporto (TAS), que confirmava as anomalias no passaporte biológico, considerando que o perfil hematológico do espanhol evidenciava grande probabilidade de manipulação sanguínea, já que as anomalias coincidem com as datas das Voltas a Portugal de 2015, 2017 e 2018. Perante este cenário de ameaça de implosão da equipa, importa discutir o futuro da W52-FC Porto, que ainda tem a possibilidade de apresentar recurso junto do TAS.

Adriano Quintanilha já tinha assumido que haveria uma conversa com o FC Porto, reforçando a ideia de que Pinto da Costa confiava totalmente no dono da equipa, que, por sua vez, nunca pedira a Nuno Ribeiro resultados desportivos que ignorassem ou violassem a lei. Quintanilha pode levar até ao fim a convicção de que este terramoto não passará de um equívoco, no limite de uma infracção individual, mesmo que nada o leve a desconfiar da palavra dos ciclistas.

Mais difícil será lidar com o passado de responsáveis como o director Nuno Ribeiro — constituído arguido e obrigado a apresentações semanais —, também ele despojado do troféu de vencedor da Volta a Portugal de 2009, ao serviço da Liberty Seguros. Mancha surgida após um controlo positivo a EPO-CERA (eritropoietina de acção prolongada) realizado fora da competição dois dias antes do início da prova e que motivou uma suspensão de dois anos. O antigo ciclista tinha já vivido uma experiência comprometedora ao serviço dos espanhóis da Pro Tour Liberty Seguros, experiência que durou menos de seis meses, já que acusou positivo num controlo anti-doping antes da Volta a Itália.

Nuno Ribeiro encerrou a carreira de ciclista na OFM Quinta da Lixa em 2014, assumindo no ano seguinte o cargo de director desportivo da W52. Agora, é tempo de juntar as peças e reflectir para reformular o futuro.

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