Olena Zelenska: “Somos todos ucranianos, primeiro que tudo”
A primeira-dama ucraniana deu uma entrevista em exclusivo à Vogue, na qual destacou o forte patriotismo que mantém o povo ucraniano unido.
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Olena Zelenska dormia quando acordou sobressaltada, por volta das quatro da manhã, com o som de uma explosão. “Começou”, confirmou o marido, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, que já estava de pé, de fato vestido. E agora? “Digo-te em breve, mas, pelo sim pelo não, reúne as coisas essenciais e os documentos”, respondeu o governante à companheira antes de sair de casa. Foi assim que se viveram os primeiros momentos da invasão russa na casa dos Zelensky, em Kiev, no dia 24 de Fevereiro. Era “impossível de acreditar que fosse mesmo acontecer”, confessa a primeira-dama ucraniana em entrevista exclusiva à edição britânica da revista Vogue.
Enquanto “alvo número dois de Putin”, logo a seguir ao chefe de Estado — como o próprio avançou com base em informações dos serviços secretos —, Olena Zelenska foi obrigada a fugir para uma parte mais segura na Ucrânia com os dois filhos do casal, de 9 e 17 anos. Perante um ambiente de guerra, “vivemos da mesma forma que todos os outros ucranianos”, sublinha, unidos por um desejo comum: “Ver a paz chegar.”
A primeira-dama ucraniana tem sido assídua nas redes sociais, a lançar apelos à ajuda humanitária, a encorajar a resistência do povo ucraniano e a denunciar as “atrocidades” levadas a cabo pelas tropas russas contra civis ucranianos. À Vogue enumera algumas consequências destes ataques: os cadáveres nas ruas, o número de crianças mortas, as valas comuns a serem cavadas junto a parques infantis, a destruição na cidade de Bucha, que era “uma das cidades mais bonitas nos arredores da capital” e que o mundo “ficou a conhecer” pelas piores razões. Imagens estas que a “deixam sem palavras”, confessa Olena Zelenska, mas que “precisam de ser mostradas”.
Para a ex-guionista, Vladimir Putin fez um “erro fatal” ao subestimar o patriotismo do povo ucraniano: “Queria dividir-nos, despedaçar-nos, provocar um confronto interno”, mas com a invasão só aumentou a “raiva e a dor pessoal”, activando “a sede de agir e de defender a nossa liberdade”, explica. “Somos todos ucranianos, primeiro que tudo, e só depois tudo o resto.” E a guerra está a acelerar o desenvolvimento deste sentimento patriota nas próprias crianças, defende, que “crescerão como defensoras da sua pátria.”
Mulheres de armas
Enquanto activista pelos direitos das mulheres e das crianças, Olena Zelenska realça, na entrevista, a coragem das mulheres ucranianas, que passaram de um estilo de vida “pacífico e moderno” para terem de dar à luz em bunkers, por recearem ataques semelhantes ao que aconteceu a uma maternidade em Mariupol, a 9 de Março, que provocou pelo menos 17 feridos e três mortos, entre os quais uma mulher grávida e um bebé.
“O que estas mulheres, frágeis e elegantes em tempos de paz, são capazes de fazer quando há uma guerra por perto!”, elogia a primeira-dama, passando a dar exemplos concretos: Natalia, que cuidou de 30 crianças num bunker, em Chernihiv, até que finalmente conseguiram fugir; ou Iryna, uma médica que com os seus “actos de coragem diários” tratou feridos e fez um parto numa casa, sem electricidade nem água, debaixo de um ataque.
Milhares de mulheres e crianças continuam numa situação de extrema insegurança e sob ameaça constante de violência, avisa ainda a primeira-dama, sobretudo em Mariupol, onde os populares “procuram comida, debaixo de fogo”, para alimentar os filhos, perante os esforços em vão das organizações humanitárias de entrar na cidade sitiada.
Paralelamente às pessoas que ficaram no país, outras tantas tiveram de fugir e a sua situação também levanta preocupação, continua. “Como será viver quando nem sequer podes usar a tua roupa pessoal? Como explicar a uma criança a razão pela qual não está a dormir na sua cama?”, pergunta. É por isso que apela aos governos dos outros países e aos cidadãos comuns que tratem os refugiados “como se fossem um dos seus”, pois nenhum ucraniano “planeou ser refugiado”.
Aos aliados ocidentais pede ainda que não dêem apenas armas, mas que também lhe confiram protecção, fechando “os céus”, por exemplo, através de uma zona de exclusão aérea. E também que não se habituem à guerra, resumindo-a a “estatísticas”, reiterando o apelo feito no final do mês passado, durante o concerto solidário “Save Ukraine - #STOP WAR”, que foi transmitido em mais de 20 países. Até porque, conclui, esta é uma guerra que não é só dirigida aos ucranianos. “Isto pode vir a acontecer a qualquer país de que a Rússia não goste”, avisa.