A Região Demarcada do Douro vai transformar um total de 116 mil pipas de mosto em vinho do Porto nesta vindima, mais 12 mil do que no ano anterior, decidiu esta quinta-feira o conselho interprofissional da região.
O benefício de 116 mil pipas (550 litros cada) de mosto para produção de Vinho do Porto foi o principal resultado do comunicado de vindima aprovado hoje pelo conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), que esteve reunido no Peso da Régua, distrito de Vila Real.
“Este é um sinal de confiança que é dado pelo sector e que visa a sustentabilidade económica e social da região num ano de grande imprevisibilidade”, afirmou o presidente do IVDP, Gilberto Igrejas.
A quantidade de vinho do Porto que irá resultar da próxima vindima sofre um aumento de 12 mil pipas relativamente a 2021, ano que o designado benefício foi fixado nas 104 mil pipas.
O benefício é a quantidade de mosto que cada viticultor pode destinar à produção de vinho do Porto e é uma importante fonte de receita dos produtores do Douro.
O valor resulta da análise multidisciplinar de vários cenários, como as vendas, os stocks das empresas ou a produção prevista.
O presidente do IVDP apontou que “2021 foi um ano excepcional, em que foram atingidos valores recorde e que os dados disponíveis do primeiro semestre deste ano mostram, igualmente, um bom comportamento”, se for tido em conta “o contexto internacional”.
Em 2021, foram vendidos 607 milhões de euros de vinho de Porto.
Gilberto Igrejas enfatizou ainda o “excelente comportamento do mercado nacional”, que “tem vindo em crescendo”.
"Sinal de harmonia” no sector
“Há também uma preocupação de natureza social e económica com a região”, frisou, realçando que o benefício fixado é um “sinal de harmonia” das quatro associações que estão, agora, representadas no interprofissional: a Associação das Empresas de Vinho do Porto, a Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal, a Federação Renovação do Douro e a Associação da Lavoura Duriense.
Para além do presidente do IVDP, Gilberto Igrejas, que representa o Estado, o conselho interprofissional é composto pelos dois vice-presidentes e representantes da produção e do comércio distribuídos pelas duas secções especializadas (Porto e Douro).
“Conseguimos chegar a um valor de consenso e é importante para a sustentabilidade da região. Falamos muito em sustentabilidade ambiental, mas nós precisamos de ter sustentabilidade social e económica”, salientou o vice-presidente indicado pela produção, Rui Paredes.
O responsável lembrou que o Douro é um património “humanizado”, trabalhado pelo homem e, por isso, frisou que “nesta equação é necessário o homem”. Na sua opinião, o “benefício é uma salvaguarda”.
O vice-presidente indicado pelo comércio, António Filipe, disse tratar-se de um “valor equilibrado” e que “projecta o futuro”.
“Não estamos a olhar para o que se passa hoje, com a inflação, com as taxas de juro, com guerras, se calhar a posição teria sido um bocadinho mais cautelosa, mas nós temos é que projectar o futuro”, frisou, referindo que o benefício de 116 mil pipas “representa claramente um volume maior de vinho produzido do que são as vendas expectáveis para este ano”.
Na sua opinião, foi reconfortante perceber que “há um alinhamento de propósitos”, uma “vontade de estabilidade” e “uma vontade de encarar com responsabilidade um problema sério, que é um problema de viabilidade e de sustentabilidade desta região e deste produto”.
O IVDP disse ainda que, este ano, emitiu, tal como tinha vindo a ser trabalhado com as instituições do sector, um pré-comunicado de vindima “em nome do rigor e da transparência” e para uma melhor orientação dos produtores.
O ano de 2022 é de “incertezas” para a mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo — o Douro — devido às condições que se fazem sentir, como a falta de água, que provoca stress hídrico na videira, e o calor intenso.
Precisamente por causa da seca e das temperaturas muito quentes, a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID) perspectiva uma quebra de produção de vinho “assinalável” nesta vindima na Região Demarcada do Douro.
No ano passado, a produção declarada de vinho no Douro atingiu as 264 mil pipas.