Porque somos alérgicos?
Estudos epidemiológicos mostram claramente que a doença alérgica nas suas diferentes manifestações está a aumentar. E, se não for controlada, tem um profundo impacto negativo no bem-estar físico, social e psicológico.
A doença alérgica resulta sempre de uma resposta exagerada do nosso organismo a determinadas substâncias, o que desencadeia uma série de sintomas e sinais que levam às manifestações caraterísticas desta doença. As reações alérgicas são diferentes de doente para doente, podendo afetar diferentes órgãos. As mais comuns são a rinite, a conjuntivite, a asma, a dermatite atópica, a urticária, a alergia a alimentos, a alergia a medicamentos, a alergia a venenos de insetos, a anafilaxia, entre outras.
De uma forma geral, estima-se que até um quarto da população portuguesa apresente alguma forma de manifestação da doença alérgica, podendo afetar desde o recém-nascido até ao doente idoso. Estudos epidemiológicos estimam uma prevalência global de rinite de 25%, asma de 10%, alergia alimentar e medicamentosa até 5% da população, anafilaxia e a alergia aos venenos de himenópteros (abelhas e vespas) entre 1 a 2%.
Os principais alergénios em Portugal são os alergénios respiratórios (aeroalergénios), os medicamentos, os alimentos e os venenos de abelhas e vespas.
Os aeroalergénios são os ácaros do pó, os pólenes de gramíneas, de árvores e de ervas. No site da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, está disponível o mapa acarológico de Portugal e o mapa polínico com toda a informação sobre as principais espécies, períodos de polinização, constituindo uma valiosa ferramenta para os doentes.
Quanto aos medicamentos mais comummente implicados são os anti-inflamatórios não esteroides, os antibióticos e os anestésicos. Em relação aos alimentos qualquer um pode induzir reação alérgica, mas os mais frequentemente implicado são o leite, ovo, trigo, peixe, amendoim, frutos secos, frutos frescos e marisco.
A alergia é assim uma doença do sistema imunológico. Este ao entrar em contacto com diferentes substâncias, por exemplo ambientais ou alimentares, reconhece-as e monta uma resposta imunológica para as tolerar ou lutar contra elas.
Os estudos epidemiológicos mostram claramente que a doença alérgica nas suas diferentes manifestações está a aumentar e também sabemos que o estilo de vida industrializado nomeadamente uma dieta menos mediterrânica com uso de alimentos mais processados e a poluição, entre outros, amplificam a resposta imunológica e a doença alérgica. Cada vez temos mais crianças com alergia alimentar com aparecimento mais precoce e com quadros mais graves na sua apresentação. Em relação aos alergénios respiratórios, o aquecimento global e os períodos mais longos de polinização aumentaram a expressão, duração e gravidade da alergia aos pólenes.
Classicamente, as doenças alérgicas estão associadas a múltiplas comorbilidades. Por exemplo, a rinite alérgica tem uma forte associação com a asma em todas as idades e a doença alérgica associa-se ainda a várias outras doenças como a rinossinusite, polipose nasal, disfunção tubar, otite serosa, otites recorrentes, tosse crónica, roncopatia com ou sem apneia obstrutiva do sono, laringites e infeções respiratórias de repetição.
De uma forma geral, a patologia alérgica não controlada tem um profundo impacto negativo no bem-estar físico, social e psicológico, estando associada a grandes perturbações da qualidade do sono, produtividade profissional e escolar e comportamento psicossocial do doente. Para todas as doenças alérgicas existem atualmente fármacos seguros e eficazes para o seu tratamento, e para a maioria das doenças alérgicas a melhor abordagem e tratamento estão organizados em normas orientadoras nacionais.
Assim, campanhas de maior consciencialização sobre a prevenção da doença alérgica, o conhecimento da sua forma de expressão no doente, os seus efeitos prejudiciais na qualidade de vida incentivam cada vez mais o diagnóstico e o tratamento precoce a fim de minimizar o impacto desta doença.
A visita médica a um imunoalergologista vai permitir ao doente conhecer a sua doença, abordá-la e tratá-la, bem como serem instituídas uma série de medidas preventivas para impedir a natural evolução desta doença imunológica.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990