De “palhaço” a “especial”: as reacções da Rússia e da Ucrânia à demissão de Boris Johnson
O ainda primeiro-ministro britânico, apresentou a demissão esta quinta-feira. Na Rússia, o “palhaço estúpido” que finalmente “vai embora” é pouco profissional. Na Ucrânia, há quem já trate este “homem sem medo” por “Borys Johnsoniuk”.
Boris Johnson anunciou, na manhã desta quinta-feira, a sua demissão. O ainda primeiro-ministro britânico envolveu-se empenhadamente na condenação da invasão russa na Ucrânia. Como tal, os ecos da sua saída fizerem sentir-se, vindos de Moscovo e do Kremlin. Se da parte dos ucranianos merece elogios, os russos criticam a sua falta de profissionalismo.
Para o porta-voz do Kremlin, é simples: “Ele [Boris Johnson] não gosta de nós, nós também não gostamos dele”. Dmitry Peskov disse ainda que esperava que os cargos importantes fossem ocupados por “pessoas mais profissionais” que conseguissem “tomar decisões através do diálogo”.
O termo “palhaço” foi também utilizado por várias entidades russas. Oleg Deripaska, um conhecido oligarca russo, partilhou no Telegrama que este era um “fim inglório” para um “palhaço estúpido” cuja consciência seria arruinada por “dezenas de milhares de vidas neste conflito sem sentido na Ucrânia”. Por sua vez, o orador da Câmara Baixa do Parlamento russo, Vyacheslav Volodin, limitou-se a resumir o acontecimento com a frase: “o palhaço vai embora”. “Ele é um dos principais ideólogos da guerra contra a Rússia até ao último ucraniano. Os líderes europeus deviam pensar até onde tal política conduz”, acrescentou.
Para a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, a queda de Boris Johnson é um sintoma do declínio do Ocidente, que foi afectado por uma crise política, ideológica e económica. “A moral da história é: não tentem destruir a Rússia. A Rússia não pode ser destruída”, resumiu.
“Borys Johnsoniuk”, o homem carismático que chama “os bois pelos nomes"
Se por um lado Boris Johnson é visto como um “palhaço” e um sinal da queda do Ocidente, por outro, há quem o considere corajoso e especial.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, elogiou o primeiro-ministro cessante: “Recordaremos sempre a sua visita à Ucrânia na hora ainda sombria de Abril. Boris Johnson é um homem sem medo, pronto a assumir riscos pela causa em que acredita”.
O conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, também se manifestou e agradeceu ao primeiro-ministro britânico por estar sempre na vanguarda do apoio à Ucrânia. No Twitter, escreveu que Boris Johnson é “uma pessoa que começou a chamar os bois pelos nomes desde o início” da invasão da Ucrânia pela Rússia.
O Presidente ucraniano partilhou também que ouviu “com tristeza” a notícia. “Não só eu, mas também toda a sociedade ucraniana simpatiza muito consigo”, disse Zelensky. “Não temos dúvidas de que o apoio da Grã-Bretanha se manterá, mas a sua liderança pessoal [de Boris Johnson] e o seu carisma tornaram-no especial”, acrescentou.
O Presidente da Ucrânia agradeceu ainda as acções decisivas que Boris Johnson tomou para ajudar a Ucrânia. Antes do início da invasão russa, a 24 de Fevereiro, Boris Johnson já tinha criticado Putin, acusando-o de ser implacável e possivelmente irracional, colocando o mundo em risco com as suas ambições. Por sua vez, após o início da invasão, o primeiro-ministro cessante tornou-se num dos maiores defensores ocidentais da Ucrânia. O país enviou armas, aplicou várias (e algumas das mais severas) sanções à Rússia e, inclusivamente, deslocou-se duas vezes a Kiev para se encontrar com o Presidente Volodymyr Zelensky.
Em resposta a tal afirmação, no discurso em que anunciou a sua demissão, Boris Johnson dirigiu-se ao povo ucraniano: “Deixem-me dizer ao povo da Ucrânia que sei que nós, no Reino Unido, vamos continuar a apoiar a vossa luta pela liberdade, durante o tempo que for necessário”.
O apoio de Boris Johnson à Ucrânia tem sido tão marcante que o britânico já é conhecido como “Borys Johnsoniuk” por alguns em Kiev, revela a agência Reuters. Inclusivamente, terminou vários discursos com o termo “Slava Ukraini” (“Glória à Ucrânia”, em português).
Em Fevereiro, Boris Johnson chegou a falar russo, comunicando ao povo de leste que a guerra “desnecessária e sangrenta” estaria em seu nome. Este mês, a cidade de Odessa atribuiu a Boris Johnson o prémio de cidadão honorário, graças ao seu apoio à Ucrânia, sendo o primeiro britânico a receber tal prémio.