Encontradas 51 pessoas mortas num camião no Texas

A polícia diz que se tratam de migrantes que atravessaram ilegalmente a fronteira com o México e que foram vítimas de uma rede de tráfico de seres humanos. Morreram ao fim de horas num camião sem refrigeração com temperaturas próximas dos 40 graus.

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O camião foi encontrado nos arredores de San Antonio na segunda-feira à noite KAYLEE GREENLEE BEAL / Reuters

Os cadáveres de 51 pessoas foram encontrados num camião abandonado nos arredores de San Antonio, no Texas, na segunda-feira à noite. As autoridades locais disseram tratar-se de migrantes que podem ter sido vítimas de uma rede de tráfico de seres humanos.

Para além das vítimas mortais que estavam a bordo, outras 16 pessoas, incluindo quatro crianças, foram hospitalizadas e apresentavam sinais de terem sofrido insolações, embora estivessem conscientes. As equipas de emergência que chegaram ao local disseram que os feridos estavam “a escaldar”. Três pessoas morreram já no hospital, elevando o número total de vítimas mortais.

Na região de San Antonio, as temperaturas variaram na segunda-feira entre os 32 e os 37.º C, de acordo com os serviços meteorológicos. O chefe dos bombeiros da cidade, Charles Hood, disse que o camião tinha sistema de ar condicionado, mas não pareceu ter sido ligado.

San Antonio é um local de passagem comum na rota de migração irregular proveniente da América Central e as redes de tráfico de seres humanos usam frequentemente camiões para esconder os migrantes.

“Eles tinham famílias e estavam a tentar encontrar uma vida melhor”, lamentou o autarca Ron Nirenberg. “Isto é nada menos que uma tragédia humana horrível”, acrescentou.

O Departamento de Segurança Interna abriu uma investigação depois de ser alertado pela polícia de San Antonio para um “alegado acontecimento ligado a tráfico humano”. O secretário Alejandro Mayorkas disse estar “desolado” pelas mortes. “Demasiadas vidas já se perderam sempre que indivíduos, incluindo famílias, mulheres e crianças, fazem esta viagem perigosa”, afirmou. Foram detidas três pessoas, mas o seu tipo de envolvimento neste caso ainda está por apurar.

Episódios como este são comuns nos pontos de passagem da rota de migração para os EUA, mas nunca tinha havido um número tão elevado de vítimas. Em 2017, dez pessoas foram encontradas mortas numa carrinha estacionada perto de um supermercado em San Antonio. Em 2003, tinham sido 19 pessoas encontradas numa carrinha de transporte de lacticínios.

Com eleições estaduais marcadas para Novembro, o incidente rapidamente se transformou em arma política usada pelos candidatos. O governador Greg Abbott, republicano que vai tentar ser reeleito, responsabilizou o Presidente Joe Biden pelas mortes que disse serem “resultado das suas políticas mortais de portas abertas”.

O candidato democrata, Beto O’Rourke, deixou um apelo para o “desmantelamento das redes de tráfico humano e a sua substituição por avenidas alargadas para a migração legal”.

Biden tem tido dificuldades em travar a imigração ilegal através da fronteira com o México, sobretudo num contexto de agravamento das condições de vida em vários países latino-americanos. Apesar de ter prometido suavizar as medidas restritivas de migração de Donald Trump, as detenções de migrantes na fronteira têm batido recordes. Em 2021, foram detidas 1,73 milhões de pessoas que tentavam chegar aos EUA e este ano esse número deverá ser superado, diz a BBC.

“A fronteira está hoje mais fechada do que em quase qualquer outra altura na história”, disse ao Texas Tribune a advogada especializada em imigração, Allison Norris. “Isto tem levado as pessoas a recorrer cada vez mais a traficantes e a apostar em formas mais perigosas de atravessar a fronteira”, acrescentou.

Só no ano passado, morreram 650 migrantes na fronteira entre os EUA e o México, um recorde desde que a Organização Internacional para as Migrações começou a recolher estes dados, em 2014.

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