São João do Porto: a noite mais longa do ano ainda é o que era

Depois de dois anos de pandemia, o São João voltou às ruas da Invicta. A música que ecoa nas ruas e os sorrisos dos portuenses garantem: a noite mais longa do ano voltou em todo o seu esplendor.

NEG - 23 JUNHO 2022 - sao joao
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O São João “já não é uma festa só do Porto, só de Portugal. É uma festa internacional” Nelson Garrido
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O São João “já não é uma festa só do Porto, só de Portugal. É uma festa internacional” Nelson Garrido
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O São João “já não é uma festa só do Porto, só de Portugal. É uma festa internacional” Nelson Garrido

A música popular, o som dos martelinhos e o cheiro a sardinha leva-nos a um passado que nos parece mais longínquo do que o que é realmente: 2019. Dois anos depois, as festividades do São João saíram do confinamento e voltaram a encher as ruas da cidade Invicta. Não falta bailarico e assadores pelas ruas, alho porro e as amigáveis marteladas em quem passa, seja familiar ou estranho.

Os milhares de pessoas que passeiam e dançam pelas ruas do Porto fazem com que a pandemia pareça uma espécie de memória distante, uma realidade que se enfiou nas mesmas gavetas de onde se tiraram os martelinhos de plástico colorido.

Na rua Dr. Barbosa de Castro, Marco Alves e a sua família assam sardinhas à porta de casa. Depois destes dois anos, resolveram voltar a abraçar a tradição familiar que cumpriam anualmente. Para Marco, os portuenses este ano têm uma vontade redobrada de festejar: “Vai ser um São João ainda mais eufórico do que o costume. As pessoas estão sedentas de São João”, diz entre sorrisos.

Festa do São João, no Porto
Festa do São João, no Porto
Festa do São João, no Porto
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Festa do São João, no Porto Nelson Garrido
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NEG - 23 JUNHO 2022 - sao joao Nelson Garrido
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Festa do São João, no Porto

Uns metros acima, ao pé do Jardim da Cordoaria, também atrás do assador, mas em trabalho, Marco Paulo não esconde a felicidade que sente em ver o regresso das festividades à forma plena: “É bonito de ver outra vez”, exclama. Este São João é o 16º que Marco passa a trabalhar. Para ele, a enchente de pessoas que passa do outro lado do seu assador vai tentar compensar o tempo perdido, ou “pelo menos um ano”, brinca.

Nas esplanadas, os lugares vagos são quase uma miragem. E se na noite de São João, a pronúncia do Norte soa ainda mais carregada e mais pujante, os sotaques estrangeiros misturam-se cada vez por entre os tiles exagerados e os B's que substituem V's. Américo Aguiar, criado na cidade, considera que a festa, ainda que seja 100% portuense, é uma festa para toda a gente, independentemente da nacionalidade: “Já não é uma festa só do Porto, só de Portugal. É uma festa internacional”, afirma.

Jenna Mackle é a prova disso. A jovem de 29 anos é natural da Irlanda e está de férias em Portugal. Foi completamente apanhada de surpresa pela festa: “Não fazia a mínima ideia até ontem”, conta. Jenna considera-se “sortuda” por ter apanhado a época do São João aquando da passagem pelo Porto. “É a melhor altura para vir a Portugal”, exclamou.

Festa do São João, no Porto Nelson Garrido
Festa do São João, no Porto
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Festa do São João, no Porto Nelson Garrido

Pelas ruas, a música popular só é interrompida pelo chiar dos martelinhos a bater nas cabeças de quem passa. Cada “martelada” é recebida com um sorriso e retribuída com outra semelhante. Mas ainda que a maioria dos instrumentos coloridos esteja nas mãos de quem festeja, alguns ainda se exibem em bancas para quem os quiser comprar à última hora, como é o caso da banca de Adão Pinto. O vendedor é natural de S. Pedro da Cova, mas já trabalha na festa do São João há mais de 13 anos. Sobre os anos em que não pode distribuir martelos, fala de um período de “muita mágoa”. Ainda que tenha dificuldade em explicar o porquê, não tem dúvidas de que o São João é “a melhor festa do Norte”.

À medida que a hora avança e o céu escurece, os balões de São João vão começando a ocupar o lugar das estrelas por cima da cidade. Perto das Fontaínhas, Álvaro Duarte cumpre de forma exímia a tarefa de fazer um balão levantar voo e partir para um lugar distante. O sucesso é recebido com um aplauso digno de um espectáculo. “Estamos habituados desde crianças, aprendemos praticamente na escola a lançar balões. E isto é uma tradição que não se pode perder”, afirma. Álvaro conta que já visita as festas são joaninas há 29 anos, desde que conheceu a esposa.

Festa do São João, no Porto Nelson Garrido
Festa do São João, no Porto
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Festa do São João, no Porto Nelson Garrido

E se uns são veteranos da festa, há quem a esteja a viver pela primeira vez. Francisco Capelas de 41 anos, traz num carrinho de bebé a sua filha de 9 meses, nascida já durante a pandemia. Habitante do Porto há onze anos, esforça-se para passar as tradições da cidade aos filhos, desde pequenos. “É importante para nós que os miúdos cresçam com as tradições de onde nós estamos a morar. Uma vez que sou transmontano e a minha mulher é da Covilhã, para nós é importante que eles absorvam as culturas de onde estão”, explica.

No ano de regresso, a panóplia de artistas que musicaram a noite mais longa do ano contemplou artistas como Toy e José Malhoa, no Largo Amor de Perdição, Romana, Saul e Marante no Palácio de Cristal e Chico da Tina na Casa da Música.

À meia-noite, como não podia deixar de ser, baixaram as luzes e os olhos do Porto viraram-se para o rio Douro, de onde saiu o fogo-de-artifício que tornou a pintar o céu da Ribeira do Porto. O espectáculo pirotécnico contou com um espectáculo musical de acompanhamento. No final, muitos aplausos.

Não ficam dúvidas: no tempo em que os portuenses se viram fechados em casa — como o resto do mundo — incapazes de trazer o São João às ruas, nada se perdeu. A tradição é o que era. Américo Aguiar resume o sentimento: “O São João é sempre o São João. É único.”

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