Sou jovem, residente no concelho de Pedrógão Grande, e na minha curta vivência sempre me deparei com um país a duas velocidades, repartindo-se entre o litoral, densamente habitado, onde as oportunidades de emprego são abundantes e os negócios e o empreendedorismo florescem, e um interior, demograficamente desertificado, onde as oportunidades de emprego escasseiam e a resignação parece ser a palavra-chave. Terá mesmo esta de ser a sua sina?
O próprio termo interior parece circunscrever parte do território de um país, assinalando e demarcando diferenças estruturais, que perpetuam diferenças em termos de oportunidades e que continuamente vêm prejudicando esta faixa de território. O que muitos idealizam ao pensar no interior é uma realidade onde haverá salários baixos, pouco acesso a cuidados de saúde, a cultura e pouca oferta formativa. Daí que se imponha a questão – porque continuamos a perpetuar um ciclo, que continuamente falha na captação dos jovens para o interior? Que falha na captação de empresas? Que falha na protecção do seu património natural e florestal? O que, afinal, tem falhado?
A grande falha a apontar é do Estado e de quem o tem administrado. Pela falta de reformas tão necessárias, pela falta de visão nas políticas públicas a implementar nesta região, pela falta de novos programas e apoios estatais que venham diversificar e criar novas actividades económicas no interior e pela falta de originalidade no aproveitamento das oportunidades que a pandemia nos veio proporcionar, nomeadamente através do teletrabalho.
Podemos, pois, constatar que há um interior envelhecido, rural, estagnado. Há, por certo, razões históricas que o poderão justificar e que aliadas à distribuição geográfica da actividade económica cimentam e aprofundam assimetrias. Pelo que é de sublinhar que o interior representa cerca de 70% do território nacional e tem já menos de 30% da população.
Desta forma, desde 2015, que vemos o primeiro-ministro afirmar o seu desejo de apostar no interior. Mas, ao mesmo tempo, vão-se encerrando serviços, vai-se deteriorando o acesso aos cuidados de saúde, havendo populações sem acesso a médicos de família, e que, esquecidas, se vêem forçadas a satisfazer as suas necessidades em centros urbanos mais próximos.
Há que contrariar um ciclo vicioso que se foi instalando, onde a diminuição da população gera menos actividade económica, levando ao encerramento de empresas, passando a escassear oportunidades de emprego e equipamentos básicos.
Desta forma, a solução passará pelos jovens e pela captação de população, no sentido de promover e restruturar a actividade económica do interior. É necessário arrojo e visão estratégia, integradas numa política de gestão do território sustentável, garantindo medidas de discriminação positiva.
Este “nosso” interior é uma região de potencial, com qualidade de vida, com tradições seculares e especialista na arte de bem receber. Restará agora ao Governo deixar um sinal positivo de que estas não são regiões esquecidas.
Concluo, reafirmando que ser jovem no interior em 2022 é perspectivar com esperança o futuro. É saber que há um longo caminho a ser feito, mas que sem nós, jovens, será impossível contrariar esta tendência de despovoamento e desertificação.