Novos manuais escolares de Hong Kong dizem que a cidade nunca foi uma colónia britânica
Livros alegam que a China nunca reconheceu os tratados que cederam o território ao Reino Unido em 1842, após as guerras do ópio.
Todos os livros de história dizem que Hong Kong foi uma colónia britânica. Todos? Na verdade, não. Os novos manuais escolares do território que faz hoje parte da China vão ignorar o facto de que, durante mais de século e meio, foi a Union Jack, a bandeira britânica, que pairou sobre Hong Kong.
Segundo o South China Morning Post, os novos manuais vão ensinar que a China nunca reconheceu os tratados que cederam a cidade ao Reino Unido após as guerras do ópio, em 1842. Com a excepção do período de ocupação japonesa, entre 1941 e 1945, Hong Kong manteve-se como colónia e território dependente da coroa britânica até 1997, ano da transferência definitiva do poder para a China.
“Os novos manuais ensinam que Hong Kong nunca foi uma colónia britânica, já que o Governo chinês nunca reconheceu os tratados injustos ou desistiu da soberania sobre a cidade”, refere o jornal, acrescentando que os livros dizem também que as Nações Unidas retiraram Hong Kong de uma lista de colónias por exigência da China.
Na realidade, o que a ONU fez nesse ano foi retirar Hong Kong - e Macau, colónia portuguesa - da lista de territórios não autónomos, que as Nações Unidas definem como os “territórios cujos povos ainda não atingiram a plenitude do governo próprio”, estando assim na antecâmara da independência.
Os novos manuais esforçam-se para explicar as diferenças entre colónia e domínio colonial, declarando que para um país classificar um território externo como colónia precisa de ter soberania e exercer a governação sobre ele. No caso de Hong Kong, o Reino Unido “apenas exerceu o domínio colonial, pelo que Hong Kong não foi uma colónia britânica”, alega-se nos livros escolares.
Os livros foram elaborados para um curso específico que será ministrado nas escolas de Hong Kong, focado nos “ideais de cidadania, legalidade e patriotismo” e que vai substituir uma disciplina que ensinava pensamento crítico e educação cívica. As autoridades de Hong Kong já tinham manifestado o seu descontentamento com esta disciplina durante os protestos pró-democracia de 2019, afirmando que foi responsável pela “radicalização” dos jovens da cidade ao promover “ideias erradas”.
Para precaver que os estudantes de Hong Kong tenham “ideias erradas”, numa passagem dos novos manuais lê-se, a propósito dos protestos, que “a secessão e a subversão contra o governo foram defendidas em algumas dessas actividades, que representam uma ameaça à soberania, segurança e interesses nacionais”.
“É necessário que as escolas ensinem os alunos a pensar positivamente e a amar sua nação”, disse, na segunda-feira, o chefe do departamento de educação de Hong Kong.