Quando os advogados terminaram as alegações finais, na última sexta-feira, muitos acreditavam que o veredicto não iria tardar, até pelo cansaço do júri, “preso” a este julgamento desde 11 de Abril. Mas os sete jurados, escolhidos por sorteio entre os nove que presenciaram o julgamento, parecem não ter tantas certezas como quem assiste de fora e deixaram a decisão para esta semana. Só que, ao fim de um dia inteiro, não chegaram a nenhuma conclusão acerca da disputa milionária entre Johnny Depp e a sua ex-mulher, Amber Heard.
Johnny Depp interpôs uma acção por difamação contra a sua ex-mulher a propósito de um ensaio que a actriz assinou em 2018, publicado no The Washington Post, em que se descreveu como uma figura pública que tinha sido vítima de violência doméstica. Depp nega todas as acusações de abuso e alega que o artigo prejudicou a sua carreira, procurando uma indemnização de 50 milhões de dólares, com base no valor que terá deixado de facturar com o sexto episódio da saga Piratas das Caraíbas, que ficou na gaveta, e com a sua saída da franquia Monstros Fantásticos.
Como resposta, Amber Heard deu entrada com uma contra-acção no valor de 100 milhões de dólares, acusando o advogado Adam Waldman, que representava na época Johnny Depp, de ter proferido várias declarações que minaram a sua carreira, nomeadamente que as acusações de abusos eram um “embuste”.
Foi precisamente o artigo publicado pelo The Post, que não foi parte deste processo, que suscitou dúvidas entre os jurados. Durante as deliberações desta terça-feira, o júri enviou uma pergunta à juíza Penney Azcarate questionando se deveria considerar o artigo na íntegra ou apenas o título: Falei contra a violência sexual — e enfrentei a ira da nossa cultura. Isso tem de mudar. A magistrada respondeu que a declaração proferida no título era o que deveria ser considerado para se chegar a um veredicto.
Durante seis semanas, os advogados de Heard argumentaram que a actriz tinha dito a verdade e que os seus comentários estavam protegidos pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que protege a liberdade de expressão. Mas a equipa de Depp tratou de demonstrar que a actriz teve comportamentos abusivos e que tinha mentido, como no que se refere aos sete milhões de dólares que a Mera de Aquaman disse ter doado a duas instituições, o que não fez, minando a sua credibilidade.
Da parte de Amber Heard, defendeu-se a tese de que Depp tinha sido abusivo ao longo de toda a relação, física e sexualmente, com a actriz a relatar um episódio em que disse que o ex-marido a violou com uma garrafa.
Todos os instantes em tribunal, num julgamento transmitido em directo, foram amplamente divulgados e manipulados nas redes sociais, nas quais Amber Heard está em clara desvantagem face a Johnny Depp. No TikTok, por exemplo, a etiqueta #JusticeForAmberHeard soma, à data da publicação deste artigo, menos de 80 milhões de visualizações; #JusticeForJohnnyDepp reúne mais de 18.500 milhões de visualizações.
Enquanto o júri delibera e muitos continuam em Fairfax, Virgínia, à espera de um desfecho, foi avançado que Depp continuava no Reino Unido, depois de ter marcado presença, no fim-de-semana, num concerto de Jeff Beck, com o qual estava previamente comprometido, como informaram os representantes do actor.