Portugal pode ser pioneiro na utilização de cânhamo em vez de betão

Climax Change!: How Architecture Must Transform in the Age of Ecological Emergency, livro de Pedro Gadanho, é apresentado este sábado, 28 de Maio, no Porto. O arquitecto defende “uma arquitectura mais local”.

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Esteban Lopez/Unsplash

O arquitecto Pedro Gadanho, autor do livro Climax Change!: How Architecture Must Transform in the Age of Ecological Emergency, defende “uma arquitectura mais local” e refere o potencial português na produção de cânhamo em alternativa ao betão. “Portugal é um país que já teve uma cultura de cânhamo muito, muito forte, e que depois foi abandonada, por razões económicas. Hoje em dia, o cânhamo está a ser utilizado como alternativa ao betão. Portugal podia-se tornar pioneiro na utilização de cânhamo na produção de um material alternativo ao betão”, diz ao autor, em entrevista à Lusa.

Climax Change!: How Architecture Must Transform in the Age of Ecological Emergency, ainda sem tradução em português, é editado pela Actar e lançado este sábado, 28 de Maio, às 18h na livraria Circo de Ideias, no Porto.

Para fazer face à emergência climática, o arquitecto sugere que a disciplina olhe para “a questão da economia circular, no facto de, também nas construções que são feitas, estar previsto o reaproveitamento dos materiais após a exaustão do seu uso no edifício, e isso são coisas que estão a ser investigadas, e fazem parte dessa tal inovação tecnológica que o livro também refere como um dos caminhos, não uma solução mágica, (...) mas uma das possibilidades que temos de encarar para responder à escala massiva dos problemas que vêm aí”.

Segundo o arquitecto, a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia vieram evidenciar a crise dos recursos: “É óbvio que estamos a esgotar os materiais todos com os quais estamos habituados a construir, ou estamos a usar materiais que contribuem para o ecocídio o último crime reconhecido pelo Tribunal Penal Internacional.”

“Mesmo após a pandemia, aqueles que advogam um regresso ao normal não se aperceberam de que havia aqui uma oportunidade, que a pandemia mostrou bem até fomos capazes de parar o nosso crescimento económico —, para rever como é que fazíamos uma transição justa.”

O autor reconhece que “a Europa de facto advoga” princípios como “uma transição energética, económica e a nível de recursos”, mas “às vezes não é implementado com a rapidez que era necessário”. “Daí a necessidade de todos poderem contribuir para a mudança”, considera, “e o campo da arquitectura, seguramente, pode ser um dos que tem um papel decisivo”.

Para isso, é preciso recuperar “uma arquitectura mais local, que usa recursos locais”, que podem tornar-se economicamente viáveis através da “inovação tecnológica”.

O caminho é o “regresso à arquitectura orgânica, muito mais inspirada na natureza”, considera. “Hoje em dia, com as tecnologias digitais que temos disponíveis, é possível fazer imitações da natureza muito mais perfeitas e muito mais dinâmicas do que era possível no passado.”

Há já, relata, “arquitectos que estão a investigar as qualidades estruturais de plantas e a adaptar esses modelos através de inteligência artificial para criar novas estruturas mais resistentes e mais leves no campo da arquitectura”.

Mas até que essas excepções se tornem norma, diz, “tem de haver uma mudança de mentalidades também nos arquitectos, para abraçarem esses caminhos, e não estarem à espera que [as inovações] façam o seu caminho lento”. “Tem de haver uma certa pressão para que haja essa mudança”, conclui.

Pedro Gadanho é professor convidado da Universidade da Beira Interior e leccionou também, entre 2000 e 2012, na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.

Foi Loeb Fellow na Universidade de Harvard, entre Julho de 2019 e Junho de 2020, o que o ajudou na preparação deste livro. No campo da cultura, foi curador de arquitectura contemporânea no Museum of Modern Art (MoMA), em Nova Iorque, entre 2012 e 2014, director do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, de 2015 a 2019, e dirigiu a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027, de 2020 a 2022.