Rasmus Munk e Alexandre Silva, um jantar de luxo e a arte de provar Portugal (e a Dinamarca)
Alexandre Silva (Loco, 1 estrela Michelin, e Fogo) é o anfitrião. Rasmus Munk (Alchemist, 2 estrelas, Copenhaga) é o convidado. Os chefs vão trabalhar produtos e sabores nacionais para um jantar onde a portugalidade e a sazonalidade serão servidos com irreverência e criatividade. Um luxo para 30 pessoas por 400 euros a 31 de Maio em Lisboa.
O que têm em comum o chef português Alexandre Silva e o chef dinamarquês Rasmus Munk? A irreverência e a criatividade nas suas propostas gastronómica – além das estrelas Michelin (uma para o Loco, de Alexandre Silva, duas para o Alchemist, de Rasmus Munk). Por isso, espera-se um jantar verdadeiramente único no próximo dia 31 de Maio, no Verride Palácio Santa Catarina, em Lisboa (promovido pela plataforma The Art of Tasting Portugal), onde os dois chefs serão os responsáveis pelo menu, que apresentará pratos icónicos de ambos e algumas surpresas certamente inspiradas nesta viagem em que embarcam – para o chef dinamarquês, a viagem será mais literal e no seu roteiro português em busca de inspiração estão Peniche e as Berlengas.
Será a primeira vez de Rasmus Munk em Portugal. “Estou muito entusiasmado por ir a Portugal cozinhar pela primeira vez com a equipa do Alchemist. Será uma oportunidade para explorar alguns produtos locais e potenciar o nosso processo criativo, quem sabe, com algumas inspirações portuguesas nos nossos próximos menus.” Alexandre Silva também não esconde o entusiasmo com este evento de três dias, mas que terá aberto ao público apenas o jantar: “Acredito que a viagem às Berlengas será marcante para perceber a diversidade de produto da nossa costa e vai inspirar algumas surpresas no menu deste jantar que iremos desenvolver em conjunto”.
Já percebemos que não faltarão produtos do mar no jantar. Esperem-se, refere-se em comunicado, “algas, peixes e mariscos” (além de vinhos seleccionados por Dirk Niepoort, que vai estar presente). E não faltará também a ousadia, que caracteriza os actuais projectos de ambos. Coincidentemente, 2015 é o ano fulcral nos dois percursos. Foi este o ano em que Copenhaga viu nascer o Alchemist, o restaurante com que Rasmus Munk, então com 24 anos (tem 31 actualmente), se emancipou, digamos, no seu caminho de cruzamento de ingredientes, texturas e sabores inesperados em formatos improváveis.
Foi o primeiro passo para conseguir pôr em prática o que chama de “cozinha holística”, que atingiu a sua plenitude em 2019 (sete meses depois chegaram as duas estrelas Michelin), num novo espaço de 2000 m2 (um antigo estaleiro de navios), e em que a comida faz parte de uma encenação que integra arte, performance, estimulação sensorial, tecnologia visual, activismo e a própria arquitectura do espaço.
É uma experiência teatral como poucas, onde os pratos, não raras vezes, são vistos como declarações políticas – algo a que Munk não se esquiva: à revista Forbes afirmou que “a comida pode ser uma ferramenta poderosa de comunicação sobre temas importantes, mas os restaurantes têm evitado seguir esse caminho”; e algo que Ferran Adrià, do mítico El Bulli e um dos ídolos de Munk, salienta na mesma publicação: “Não se pode olhar para locais como o Alchemist como um restaurante normal. Não é um sítio onde se vai socializar. O Alchemist é um local onde se pode reflectir sobre as nossas limitações como humanos”.
Entretanto, em Lisboa, em 2015, Alexandre Silva, 41 anos, apresentava o seu Loco, que que desde logo se assumiu como um projecto de fine dining disruptivo - 24 lugares apenas para uma cozinha que foi (é) uma espécie de laboratório para novas técnicas, produtos e criações. A “sorte criativa” protege os audazes: oito meses depois da abertura, o Loco conseguiu a sua primeira estrela Michelin, que mantém até hoje; entretanto, com a abertura do Fogo, Alexandre Silva avançou por um caminho mais conceptual que é quase um regresso à essência, já que o chef, nascido na aldeia de Abrigada, se dedica aí à cozinha de fogo que reivindica como a base do receituário português.
Alexandre Silva, informa a organização, “será predominante na sequência do menu deste jantar”, que contará com “contributos marcantes” por parte de Rasmus Munk. O preço é 400€, estão disponíveis apenas 30 lugares e o início está marcado para as 19h.
Este jantar luso-dinamarquês, chamemos-lhe assim, é o primeiro de um ciclo de eventos com os quais a The Art of Tasting Portugal pretende “apresentar o país, os seus produtos e promover sinergias entre alguns dos mais mediáticos chefs internacionais da actualidade e alguns dos chefs portugueses com maior projeção no panorama gastronómico nacional e internacional”.
Horário: chegada às 19h15, jantar às 20h. Reservas: hello@theartoftastingportugal.com. Site