CES junta um economista e um psiquiatra para estudar “raspadinha”

O protocolo para o estudo sobre a raspadinha será assinado esta quarta-feira, no Conselho Económico e Social. As conclusões deverão ser conhecidas dentro de “poucos meses”. A assinatura do estudo acontece exactamente um ano depois de o Governo ter lançado a “raspadinha” do Património.

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Em 2020, os portugueses gastaram 4 milhões de euros por dia em raspadinhas SEBASTIAO ALMEIDA

Um ano depois de o Governo ter lançado a “raspadinha” do Património, um jogo de lotaria instantânea criado em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para arrecadar verbas destinadas a intervenções de salvaguarda e valorização patrimonial, o Conselho Económico e Social (CES) irá lançar um estudo inédito sobre o perfil dos apostadores e a sua relação com comportamentos de vícios e dependências. As conclusões deverão ser conhecidas “em poucos meses”.

A promessa do estudo organizado pelo CES recua ao lançamento da “raspadinha” do Património, mas a dificuldade de financiamento e depois a dissolução do Parlamento adiaram o objectivo traçado pelo presidente do CES, Francisco Assis. Mas o objectivo manteve-se: apurar quem é que paga os milhões de euros que todos os dias são gastos neste jogo e perceber se existe um problema de dependência em várias camadas da população, nomeadamente naquelas com maior carência económica e social.

O estudo, que será apresentado esta quarta-feira pelas 18h nas instalações do CES, será conduzido pelos docentes e investigadores da Universidade do Minho, Pedro Morgado e Luís Aguiar-Conraria. Para já, o financiamento apenas está garantido para a primeira de três fases do estudo e caberá a quatro entidades: a Apifarma; a Fundação Mestre Casais; a Fundação Manuel António da Mota e a Fundação Social Bancária.

Ao PÚBLICO, Luís Aguiar-Conraria explica que na primeira fase haverá uma caracterização demográfica e económica de uma amostra aleatória para determinar a percentagem da população que joga na “raspadinha”. Depois, seguir-se-á a caracterização e diagnóstico “de um complemento problemático” apenas dos apostadores — o que ficará a cargo da coordenação do investigador Pedro Morgado, também médico psiquiatra do Hospital de Braga.

A última fase incluirá ressonâncias magnéticas a um grupo restrito de jogadores “para perceber como é que o cérebro delas funciona” face ao apelo das “raspadinhas” (uma metodologia que tem sido utilizada no estudo de outros vícios, mas não aplicada aos “jogos de azar"), conta o economista Aguiar-Conraria.

De acordo com os dados disponibilizados no relatório de 2020 da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, tendo em conta a média dos prémios atribuídos por semana, a “raspadinha” continua a ser a ‘rainha’ dos jogos sociais ao atribuir cerca de 2,8 milhões de raspadinhas com prémio por semana, o que se traduz em mais de 17,2 milhões de euros” entregues aos apostadores, lê-se. E quanto é que os portugueses gastam a tentar essa sorte? Aproximadamente 1,4 mil milhões de euros. Ou seja, 4 milhões de euros por dia (ou 140 euros por português num ano).

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O economista e investigador Luís Aguiar-Conraria é um dos especialistas que irá coordenar o estudo sobre a raspadinha Anna Costa

Porém, sublinhe-se que estes números não correspondem à trajectória de crescimento de gastos na raspadinha” que vinha a demonstrar-se desde 2018. Nesse ano, os portugueses gastaram perto de 1,6 mil milhões de euros neste jogo, enquanto os espanhóis foram mais contidos (gastaram cerca de 600 milhões, isto é, aproximadamente 14 euros por pessoa — um valor significativamente mais baixo do que os 160 euros por português de 2018).

E em 2019, o valor gasto em “raspadinhas” em Portugal continuou a crescer, ultrapassando os 1,7 mil milhões o equivalente a um gasto de 4,7 milhões de euros por dia. O que explica então o decréscimo ligeiro da despesa dos portugueses com a “raspadinha” em 2020? Segundo o relatório, o tímido recuo nas contas deve-se aos efeitos da pandemia, nomeadamente ao encerramento temporário de alguns estabelecimentos de venda destes jogos, admitindo que desde então a sua venda irá retomar a tendência de crescimento.

O encerramento da apresentação do estudo caberá a Francisco Assis, recentemente reeleito presidente do CES.

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