Hipertensão arterial: um número que condiciona a nossa vida
No dia 17 de Maio celebra-se o dia mundial da Hipertensão Arterial e por ser uma importante doença crónica, escrevo sobre os seus números. A pressão arterial elevada continua ser o maior fator de risco que contribui para a morte global e a carga mundial de doenças. Preveni-la e controlá-la são acções indispensáveis para a nossa saúde.
No decorrer dos dias de hoje estamos cada vez mais focados na importância dos números, e no impacto causado pelos mesmos. O valor da gasolina, o número de votos obtidos, o constante crescimento da inflação, o número de mísseis abatidos, o número de pessoas resgatadas… Números atrás de números. Os números influenciam directamente a nossa vida.
No meio da crise económica, política, luta contra a pandemia e constante preocupação com o futuro da humanidade, será que acabamos por esquecer a tensão arterial e a prevenção de possíveis doenças causadas por números que não estão controlados?
O professor Neil Poulter, ex-presidente da Sociedade Internacional de Hipertensão e investigador-chefe da MMM (May Measure Month, campanha global de consciencialização sobre o rastreio da pressão arterial) declarou que, mesmo com o aumento das ameaças à saúde pública no ano passado, a pressão arterial elevada continua ser o maior factor de risco que contribui para a morte global e a carga mundial de doenças.
De acordo com vários estudos, estima-se que a nível da Europa, 30-45% da população tem Hipertensão Arterial (HTA). Em Portugal mais de três milhões de portugueses sofrem por esta doença e cerca de 30% desconhece o seu estado de saúde.
E porque é que a pressão arterial (PA) aumenta?
A tensão arterial é a força com que o sangue circula pelo interior das nossas artérias. A HTA ocorre quando esta pressão se encontra elevada de forma crónica. Tem duas medidas: sistólica ou “máxima” e diastólica ou “mínima”, cujos valores devem ser inferiores a 140/90 mmHg, respectivamente. Existem dois tipos de HTA: primária e secundária. Sendo que o primária, corresponde a cerca de 90% dos casos e não apresenta uma causa identificável, dependendo mais de factores genéticos e epigenéticos, tal como a obesidade, tabagismo, exposição contínua ao stress, consumo excessivo de álcool e de sal, entre outros. Já a causa secundária (<10%) é identificável e possibilita um tratamento mais específico e dirigido à sua etiologia.
Na luta contra a hipertensão arterial, e consequente redução do seu impacto negativo, é importante desmistificar certos mitos existentes.
Algumas pessoas acreditam que se os números elevados da pressão arterial forem sem sintomas, não prejudicam a saúde. Contudo, sabe-se que a hipertensão arterial é uma doença silenciosa e que se não controlada pode provocar lesões graves, sendo as mesmas, maioritariamente, irreversíveis, atingindo órgãos alvo, como os olhos, coração, rins e cérebro.
A título de exemplo, cerca de 70% das pessoas que tiveram acidentes vasculares cerebrais (AVC), eram portadores de hipertensão arterial. Os dados do estudo PHYSA 2011-2012 (Prevalence, awareness, treatment and control of hypertension and salt intake in Portugal: changes over a decade) revelaram que os portugueses consomem demasiado sal, 10,7 gramas por dia, em média, quando as recomendações internacionais estabelecem um limite de 5,8 gramas por dia. De acordo com a Sociedade Portuguesa de Hipertensão, sendo o sal um importante factor de risco para a ocorrência de AVC, o seu consumo diário por pessoa em menos dois gramas teria um impacto na redução dos números de AVC em Portugal. Esta redução foi estimada em menos 11 mil casos de AVC por ano e ainda, uma redução até 40% nos cinco anos seguintes.
Por outro lado, estima-se que cerca de metade das pessoas hipertensas que recorreram ao médico e obtiveram controlo adequado da sua pressão arterial, acreditaram estar curadas e, por isso, abandonam a medicação anti-hipertensora passado um ano.
Não podemos esquecer que a hipertensão arterial é uma doença crónica que exige controlo contínuo e a toma regular da medicação, com idas periódicas as consultas médicas especializadas para revisão e reajuste das medidas implementadas para cada caso específico. Só estamos protegidos quando temos valores de tensão controlados.
Para prevenir a hipertensão arterial os profissionais de saúde aconselham:
- Controlar os níveis da pressão arterial regularmente;
- Manter o peso saudável, sendo que a redução do mesmo ajuda na diminuição dos valores da pressão arterial;
- Fazer exercício físico regularmente, no mínimo cerca de 30 minutos por dia;
- Reduzir o consumo de sal. Substituí-lo por ervas e temperos, sendo esta uma ótima forma de reduzir o consumo de sódio, um dos principais inimigos da doença;
- Diminuir as quantidade de gordura e açúcares nas refeições, tomando especial atenção às gorduras ‘trans’, bem como açúcares ’escondidos’ sobre outros nomes tal como sacarose, dextrose, frutose ou glicose;
- Parar de fumar: o tabaco provoca rigidez arterial e aumenta o risco de trombos, que podem causar inúmeros problemas de saúde, para além da subida da pressão arterial;
- Limitar o consumo de álcool até ao máximo de 1-2 bebidas por dia, entendendo-se como bebida um copo de vinho ou cerveja;
- Reduzir o consumo de cafeína, tomando em atenção que a cafeína não se encontra apenas no café mas também em chás e na maioria das bebidas gaseificadas.
E, por último, gostaria de deixar uma mensagem: Controle a sua tensão arterial, viva mais tempo e com melhor qualidade! Para isso, visite o seu médico regularmente, adapte o seu estilo de vida a hábitos saudáveis e, se é hipertenso, não se esqueça de tomar a sua medicação.