Álbum reúne pela primeira vez composições originais portuguesas para cavaquinho
Álbum, o terceiro editado pela associação Cultural Museu Cavaquinho, conta com uma introdução do etnomusicólogo Nuno Cristo.
A associação cultural Museu Cavaquinho edita esta semana um álbum que reúne, pela primeira vez, composições originais portuguesas para este instrumento, e dá mais um passo no processo de candidatura a património imaterial da UNESCO.
Cavaquinhos.pt, coordenado pelo músico Daniel Pereira Cristo, é um álbum que reúne 13 músicas inéditas para cavaquinho e braguesa, compostas por outros tantos músicos e estudiosos portugueses deste pequeno instrumento de cordas, como Júlio Pereira, Paulo Esteireiro, Luís Peixoto e Paulo Bastos.
“Quem gosta de tocar cavaquinho é confrontado [neste álbum] com maneiras de tocar que nunca ouviu”, afirmou à agência Lusa o músico Júlio Pereira, que dirige a associação cultural Museu Cavaquinho.
O álbum conta com uma introdução do etnomusicólogo Nuno Cristo, que descreve o trabalho discográfico como “um importante documento para o estudo comparativo dos pequenos tetracórdios” e que, pela primeira vez, permite apreciar “um espectro tímbrico muito completo” destes instrumentos.
Este é o terceiro álbum discográfico editado pela associação Cultural Museu Cavaquinho, cumprindo uma das missões desta organização sem fins lucrativos, criada em 2013 para investigar, inventariar, estudar e dar a conhecer quem constrói, quem compõe para este instrumento e quem é que hoje ainda o toca.
“Toda a prática deste instrumento tem evoluído muito e andado muito depressa. (...) É incrível a crescente prática do cavaquinho”, afirmou Júlio Pereira à Lusa, calculando que actualmente existam cerca de 300 grupos de cavaquinhos, o que significa entre 2600 e 3000 tocadores pelo país.
Em quase dez anos de existência, a associação cultural Museu Cavaquinho reuniu e disponibilizou online informação sistematizada sobre este instrumento em Portugal e no mundo, fruto também de um protocolo com a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), destinado a documentar os conhecimentos e as técnicas relativos à construção do cavaquinho.
“Aquilo que eu não estava à espera foi uma crescente prática envolvendo construtores, músicos e estudiosos. (...) Chegámos a um número fantástico, se considerarmos o tamanho do nosso país e o panorama da construção de cordofones na Europa. É incrível que tenhamos mais de 40 construtores de cavaquinho”, exclamou Júlio Pereira.
Na página da associação é possível também conhecer alguns dos cerca de 250 modelos de cavaquinhos minhotos, urbanos e braguinhas ou machetes existentes.
Todo este trabalho de mapeamento do cavaquinho tem ainda como finalidade apresentar uma candidatura a património imaterial da Humanidade, da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Para já, a associação acaba de submeter um pedido de registo dos “Saberes e práticas tradicionais de construção do cavaquinho” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, da DGPC, mas Júlio Pereira reconhece que o processo é moroso.
De acordo com a DGPC, a inscrição naquele inventário nacional é “condição indispensável” para a sua eventual candidatura “à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade ou à Lista do Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente”.
Em 2014, pouco depois de criar a associação Museu Cavaquinho, Júlio Pereira - hoje com 68 anos - contava à agência Lusa que este era um projecto de vida, o de cartografar a identidade de um pequeno instrumento de cordas, popular, de tradição minhota e que deu a volta ao mundo ao longo dos séculos, deixando descendência no Brasil, em Cabo Verde, no Havai e na Indonésia.
Com a ajuda da Internet, que dá visibilidade e impulsiona a divulgação musical, Júlio Pereira reconhece que o “processo da prática do cavaquinho esteja cada vez maior”.
A existência de 300 grupos de tocadores, a identificação de construtores de várias idades, e até a criação de um mestrado dedicado ao cavaquinho, na Universidade de Aveiro, são disso exemplo.