Rússia diz que invasão da Ucrânia “liberta o mundo da influência do Ocidente”

Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, acusa os países ocidentais de “tentarem suprimir, pelos métodos mais brutais, quem segue um curso independente na política interna e externa”.

Foto
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, foi entrevistado pela agência Xinhua Reuters/POOL

Depois de ter justificado a invasão da Ucrânia com a necessidade de “desnazificar” o país e de “pacificar” as repúblicas separatistas de Donetsk e de Lugansk, o Governo russo diz agora que a sua ofensiva militar está a ajudar “a libertar o mundo da influência do Ocidente”.

Numa entrevista à agência estatal chinesa Xinhua, no sábado, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, disse que a invasão da Ucrânia — a que o Kremlin se refere como “operação militar especial” — “contribui para o processo de libertação do mundo da opressão neocolonial do Ocidente, fortemente misturada com racismo e com um complexo de exclusividade”.

“Os ocidentais estão a tentar suprimir, pelos métodos mais brutais, quem segue um curso independente na política interna e externa”, disse Lavrov, não especificando a que se referia.

Na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de Fevereiro, os Estados Unidos e a União Europeia aplicaram sanções económicas e financeiras a empresas e indivíduos russos; e as Nações Unidas aprovaram um voto de condenação da invasão, no início de Março, com 141 dos 193 países-membros a votarem a favor.

Na entrevista à Xinhua — no mesmo dia em que a agência chinesa entrevistou o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba —, Lavrov acusou os EUA de quererem “ditar como e por que padrões deve viver a América Latina”, usando o exemplo para se referir às sanções do Ocidente contra a Bielorrússia, o principal aliado militar da Rússia na invasão da Ucrânia.

“Expansão temerária”

Repetindo antigas acusações contra a adesão à NATO de países próximos das fronteiras da Rússia, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo acusou os EUA e a Aliança Atlântica de “alimentarem o sentimento anti-russo na Ucrânia, usando-o como ferramenta para conter Moscovo”.

Segundo Lavrov, “os círculos dominantes do Ocidente não se envergonham de que as sanções anti-russas já estejam a começar a prejudicar os cidadãos dos seus próprios Estados, e de que a dinâmica económica nos EUA e em muitos países europeus esteja a deteriorar-se, com a inflação e o desemprego a crescer”.

Segundo as análises internacionais, a inflação começou a subir um pouco por todo o mundo nos primeiros meses de 2021, depois de um ano de 2020 marcado pela estagnação devido à pandemia de covid-19. O problema agravou-se com a invasão da Ucrânia pela Rússia, em finais de Fevereiro.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo também responsabilizou os EUA e a NATO por uma “expansão temerária a Leste, apesar dos compromissos políticos para que a Aliança Atlântica não se expandisse”.

“Como sabe, essas promessas permaneceram vazias, e a infra-estrutura da NATO aproximou-se das fronteiras russas”, disse Lavrov.

Na sequência da queda do Muro de Berlim, em 1989, o então secretário de Estado norte-americano, James Baker, afastou uma expansão da NATO a Leste, referindo-se ao território da antiga Alemanha de Leste.

Na altura, o fim da União Soviética e do Pacto de Varsóvia ainda não era uma realidade, e o tratado assinado entre os EUA e a URSS (sobre a reunificação alemã) não incluiu qualquer referência à possível adesão à NATO de países que viriam a declarar a sua independência da URSS e a afastar-se da órbita comunista.

Após o colapso da URSS, a Rússia assinou um acordo com os EUA e com a Ucrânia, em 1994 — o Memorando de Budapeste —, em que as partes se comprometiam a não violar a integridade territorial ucraniana em troca da entrega do arsenal nuclear ucraniano.

Sugerir correcção
Ler 41 comentários