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Jean-Michel Basquiat vive!
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King Pleasure não é uma exposição sobre uma estrela. É uma tentativa de impedir que uma imagem pública apague a dimensão humana do artista: Jean-Michel Basquiat.
Realizada pelas irmãs, mostra 177 obras nunca vistas e contextualiza um percurso colado à negritude, à identidade, à irreverência. Inaugurou em Nova Iorque a 9 de Abril.
Com curadoria de Lisane Basquiat e de Jeanine Heriveaux, as duas irmãs do artista e responsáveis pelo acervo de Jean-Michel, King Pleasure ocupa o piso térreo do Starrett-Lehigh Building, em Chelsea, bem perto no rio Hudson. São mais de 4.500 metros quadrados desenhados pelo arquitecto David Adjaye. Nesse espaço, pensado para criar uma sensação por vezes de recolhimento e outras de festa, estão 200 obras de Basquiat, 177 nunca antes exibidas, além de artefactos, objectos e documentos da infância e adolescência, desenhos, palavras soltas, a reprodução da sala e da cozinha da casa da família, do estúdio, de uma sala da discoteca Palladium. A exposição fornece o contexto da vida de Jean-Michel que tem estado ausente da narrativa. Isabel Lucas conduz-nos por esse mundo íntimo. 33 anos depois da sua morte, Basquiat vive.
Entrevista de José Riço Direitinho ao italiano Sandro Veronesi (o autor de Caos Calmo, que foi depois um filme com Nanni Moretti, lembram-se?). O Colibri é o novo livro. Mas à semelhança do que já acontecia no outro romance, o escritor italiano cria um protagonista que tenta lidar com as tragédias como um náufrago que se esforça, e consegue, nadar até à praia mantendo a cabeça sempre fora de água. Não há traços de comiseração, de desistência.
"Eu trabalhei sempre com temas do meu tempo. E um deles, que exploro neste livro, é a minha percepção de que o sentimento de tristeza começou a ser considerado quase socialmente inaceitável. A tristeza é a coluna das civilizações. Também a dor humana. Mas agora vivemos num tempo em quase se criminaliza a dor e a tristeza. Por isso, comecei a pensar nas pessoas que são capazes de continuar, capazes de viver o luto sem ser de maneira neurótica, sem ficarem paralisadas", diz Sandro.
Um "pequeno grande romance": a pequena história quotidiana, o império dos sentidos, que é a fábrica da ficção de Bohumil Hrabal, avessa às grandes narrativas. Comboios Rigorosamente Vigiados deve ser o mais conhecido dos seus romances, e para tal popularidade terá contribuído o filme que Jirí Menzel realizou a partir dele em 1966, e que viria a ganhar um Óscar para o melhor filme em língua estrangeira. A acção decorre em 1945 a leste de Praga, com a guerra ainda em curso mas, como escreve Mári0 Santos, "não será certamente por falta de zelo patriótico ou de consciência política que o desamparado protagonista vive obcecado com a ejaculação precoce. Simplesmente — e esta parece-nos ser a condição mais incitante do romance —, à abstracção guerreira e belicosa opõe-se aqui o invencível desejo amoroso na sua concretude quotidiana".
Sim, a erecção da vida até na morte.
Nitram — falo-vos de cinema, agora — é um filme baseado em acontecimentos reais sucedidos na Tasmânia nos anos 80, quando um atirador solitário matou dezenas de pessoas em Porth Arthur (o maior massacre na história da Austrália). O maior mérito do filme é elidir qualquer causalidade psicológica no desequilíbrio da personagem e no cometimento do massacre. Caleb Landry Jones foi prémio de interpretação em Cannes 2021.
E ainda há A Chiara, o terceiro título (depois de Mediterranea e A Ciambra) de uma trilogia em que o italo-americano Jonas Carpignano tem filmado a mesma região da Calábria, uma das zonas mais pobres e socialmente mais complexas de Itália. Não nos vai ser revelada uma família mafiosa, vai-nos ser mostrado o olhar de uma personagem a quem essa família se revela...
Mas a nossa aposta como filme da semana é...
... a banda sonora do genérico inicial traz-nos a soul-funky dos 70s; há um taxi driver chamado “Jack”, poderia chamar-se “Travis”; estamos em Alhandra, no lugar do East e do West Side de Manhattan. No Táxi do Jack, de Susana Nobre, é uma fantasmagoria artesanal, “aparições” a propósito de Joaquim Veríssimo Calçada que nos anos 70 emigrou de Alhandra para Nova Iorque. É um taxi driver doce este filme. Um documentário a caminho da ficção. Que é onde a realizadora está agora, afinal. Ela conta...
Jorge Mourinha conduz-nos pelo maior, e melhor, concurso português de sempre do IndieLisboa: desta sexta até dia 8 de Maio, nove longas-metragens que representam um cinema que não quis, nem quer, parar apesar das vicissitudes que enfrenta.
Deixo-vos com The Deities Ball, com um baile de voguing, com uma festa, com uma disputa de território — a primeira vez que a cultura ballroom, maturada nos anos 70 e 80 no Harlem, Nova Iorque, entra numa instituição cultural em Portugal. Sábado, no Rivoli, no Festival DDD, vamos ver “uma quantidade de pessoas queer que não é habitual ver num espaço como este, desta maneira”, dizem as organizadoras Nala Revlon e Piny 007. Mariana Duarte leva-nos até lá...