“Russos de todos os países, unam-se contra a guerra!”, exortam celebridades russas numa carta aberta

Três personalidades russas, que têm em comum o facto de não compactuarem com Vladimir Putin e de residirem fora do país, decidiram apelar aos seus compatriotas espalhados pelo mundo que se manifestem contra a guerra ajudando os ucranianos em fuga.

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Mais de dois milhões de ucranianos já fugiram do país pelas fronteiras com a Eslováquia Hungria, Moldávia, Polónia e Roménia NACHO DOCE/Reuters

O escritor Boris Akunin, pseudónimo de Grigory Chkhartishvili, nascido na Geórgia e autor de A Rainha do Inverno, actualmente a residir no Reino Unido; o director artístico Mikhail Baryshnikov​ (um dos melhores bailarinos de sempre), naturalizado norte-americano; e o economista Sergei Guriev, professor de economia no Instituto de Estudos Políticos de Paris, França, uniram-se na denúncia e no apelo contra aquilo que descrevem ser “uma guerra criminosa”. O trio exorta os russos em todo o mundo a “ajudar as pessoas que estão a fugir do Exército russo”. Mas sem deixarem de corrigir: não do Exército, mas “de Putin”.

Na carta, em que divulgam a criação do fundo True Russia, com o objectivo de ajudar os ucranianos, Akunin, Baryshnikov e Gouriev acusam “o Estado Federação Russa, no qual o poder foi tomado pelo ditador”, de ter desencadeado “uma guerra criminosa”, a qual, sublinham, constitui “um golpe para todas as pessoas que pertencem à cultura russa e falam russo”. E lamentam: “A própria palavra ‘russo’ tornou-se tóxica aos olhos do mundo.”

No entanto, explica o grupo, mais grave é “o que está a acontecer com o povo ucraniano”: “Uma verdadeira catástrofe humanitária a desenrolar-se diante dos nossos olhos.” E, ainda que notem que a maioria está demasiado longe dos acontecimentos para “travar este pesadelo”, instigam os compatriotas a tomar uma posição: “Não podemos, não queremos, não temos o direito de permanecer de braços cruzados.” Isto porque, de acordo com a mesma carta, “o ditador está a fazer guerra não só com a Ucrânia, mas também com o seu próprio país” que, declaram, “é maior, mais forte e duradouro do que o Estado de Putin”.

O objectivo do fundo é reunir meio milhão de libras, através da plataforma GoFundMe, e o valor angariado será para o Comité de Emergência de Catástrofes (DEC, na sigla original), que reúne instituições sediadas no Reino Unido, como a Save the Children, Action Against Hunger e OXFAM (e que já contou com a contribuição da rainha Isabel II).

Ao fim de dois dias, já foram reunidas mais de 220 mil libras (263 mil euros) que terão como destino a ajuda humanitária nas fronteiras da Ucrânia com a Eslováquia, Hungria, Moldávia, Polónia e Roménia, pelas quais se estima já terem saído mais de dois milhões de pessoas. Entre os contributos mais avultados, além de vários anónimos (como o maior, de 50 mil libras), estão os do antigo diplomata Vladimir Kuznetsov ou do empresário Stanislav Oleynikov.

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