Glossário da guerra: das bombas de vácuo à bandeira falsa
Com a invasão russa da Ucrânia, vários termos militares e não só entraram no nosso vocabulário. Lei marcial, mísseis Stinger ou Vyacheslav Mikhailovich Molotov. O que é que isto quer dizer?
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Armas antitanque Panzerfaust-3
São armas alemãs para atacar tanques, como o próprio nome indica, e que foram usadas (na sua primeira versão) durante a Segunda Guerra Mundial. A Holanda prometeu enviar à Ucrânia 50 destas armas com 400 foguetes.
Armas nucleares
A Rússia e os Estados Unidos têm em conjunto cerca de 90% das cerca de 13.080 ogivais nucleares do mundo, segundo as estimativas mais recentes do Stockholm International Peace Research Institute e do Departamento de Estado dos EUA, referentes ao final de 2021. O regime de Vladimir Putin é o que tem mais. Trata-se de cerca de 6257 armas nucleares, das quais 4497 estão prontas a usar e as restantes 1760 aguardam desmantelamento. Com o fim da União Soviética, a Rússia manteve o seu arsenal e ficou com as armas das antigas repúblicas soviéticas da Bielorrússia, do Cazaquistão e da Ucrânia.
Já os EUA foram os primeiros a desenvolver com sucesso uma arma nuclear e, até à data, o único país a usar este tipo de força bélica em combate. Os danos humanitários provocados pela acção atómica norte-americana em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, servem, em parte, de dissuasão do uso futuro deste tipo de armamento. Os EUA têm presentemente 5550 armas nucleares. Apesar de não terem ogivas próprias, Alemanha, Bélgica, Itália, Países Baixos e Turquia têm acordos para armazenarem armamento nuclear dos EUA.
Reino Unido e França são os únicos outros países do Ocidente a terem armamento nuclear próprio. Os britânicos começaram o seu desenvolvimento em 1952 e detêm, segundo as estimativas mais recentes, 225 ogivas nucleares. Destas, 120 estão prontas a usar e 105 estão armazenadas. A França começou mais tarde, em 1960, mas, actualmente, tem mais do que o Reino Unido. São cerca de 290 ogivas nucleares, segundo as estimativas mais recentes.
Já a China é o principal país do Oriente em termos de armamento nuclear, tendo até mais, do ponto de vista individual, do que Reino Unido e França. Começou o desenvolvimento de ogivas em 1964 e detém cerca de 350 armas nucleares. O Departamento de Defesa norte-americano acredita que o regime chinês pode duplicar, ao longo da próxima década, o seu armazenamento nuclear. Segundo os EUA, a China tem acelerado a sua produção e poderá ter até 700 armas nucleares em 2027 e cerca de mil, em 2030.
O Paquistão, a Índia e a Coreia do Norte assumiram a produção de armamento nuclear, ao longo das últimas décadas. A Índia foi o primeiro a desenvolver e testou com sucesso um dispositivo nuclear, pela primeira vez, em 1974. Neste momento, tem cerca de 156 ogivas nucleares.
Foi na sequência do teste nuclear da Índia que o Paquistão decidiu desenvolver o seu próprio armamento. Neste momento, possui 165 ogivas, superando a Índia.
A Coreia do Norte começou mais tarde, só depois de 2003, e é o país que, segundo as estimativas actuais, possui o menor número de armas nucleares. Neste momento, o regime norte-coreano tem entre 40 a 50 ogivas, sendo que tem recursos suficientes para mais seis ou sete armas nucleares e está a desenvolver estruturas para produzir mais.
Israel é o único país que não assume publicamente que possui armamento nuclear, optando por uma comunicação intencionalmente ambígua, mas é estimado que o país já tenha cerca de 90 ogivas e que tem material para desenvolver.
Bombas de fragmentação
Esses armamentos são formados por um dispositivo que abre e liberta um grande número de explosivos menores. Uma das características desse tipo de artefacto é provocar grande número de vítimas. Isso porque as submunições libertadas pelas bombas de fragmentação espalham-se para todos os lados em grande velocidade e atingem uma grande área em vez de acertar um alvo preciso. Costumam ser atiradas de médias e grandes altitudes e podem-se desviar do alvo. Podem ser de diversos tipos — anti-infantaria, anti-tanque, incendiárias, entre outras. As submunições são concebidas de modo a explodirem no ar ou em contacto com o alvo, mas elas têm um alto índice de não accionamento — ou seja, muitas não explodem imediatamente.
Bomba de vácuo
Este tipo de bomba usa o oxigénio envolvente como gatilho e divide-se em duas etapas. Primeiro, a distribuição de um aerossol feito de um material muito fino (desde um combustível à base de carbono até pequenas partículas de metal). Na segunda etapa, uma “nuvem” é acendida, criando assim uma espécie de bola de fogo, que cria uma onda de choque e um vácuo enquanto suga todo o oxigénio ao redor. Esta onde de choque pode durar muito mais do que um explosivo “normal” e é capaz de vaporizar corpos humanos. É proibida pela Convenção de Genebra.
As bombas de vácuo são muito perigosas, mas têm sido usadas pela Rússia e Estados Unidos. Uma das utilizações mais recentes partiu mesmo dos Estados Unidos, em 2017, sob a liderança de Donald Trump, no Afeganistão. A Rússia já tinha sido condenada pela utilização desta bomba em 1999 na Chechénia.
Cocktail molotov
O cocktail molotov é uma arma química incendiária geralmente utilizada em protestos e guerrilhas urbanas. A sua composição inclui uma mistura líquida inflamável e perigosa ao ser transportada, como petróleo, gasolina, ácido sulfúrico, clorado de potássio, álcool e éter etílico misturados no interior de uma garrafa de vidro, e pano embebido do mesmo combustível como um pavio. O pavio pode ser desnecessário dependendo da mistura que for arremessado sobre o alvo.
O nome deriva do diplomata soviético Vyacheslav Mikhailovich Molotov. Esse nome foi atribuído, por ironia, pelos finlandeses durante a invasão da Finlândia pela União Soviética na Guerra de Inverno em 1939. O então comissário de Relações Exteriores afirmou em programas de rádio que os soviéticos não estavam a atirar bombas sobre os finlandeses mas sim a fornecer-lhes alimentos. Estava a referir-se aquilo que os finlandeses passaram a chamar cocktail molotov.
Crime de guerra
Violação do direito internacional ocorrida em guerras, principalmente com violação dos direitos humanos. Os crimes de guerra são definidos por acordos internacionais, incluindo as Convenções de Genebra e, de maneira particular o Estatuto de Roma, gerindo as competências do Tribunal Penal Internacional.
De uma maneira geral, um acto é definido como um crime de guerra a partir do momento em que uma das partes em conflito ataca voluntariamente objectivos (tanto humanos como materiais) não militares, compreendendo civis, prisioneiros de guerra e feridos.
Drones
O Bayraktar TB2 é um veículo aéreo não tripulado turco de média altitude e longa duração, capaz de realizar operações de voo controladas por uma tripulação na Estação de Controle de Terra, incluindo o emprego de armas, via satélite. Bayraktar significa “estandarte” ou “porta-estandarte” em turco.
A aeronave dependia anteriormente de componentes e tecnologias importados e regulamentados, como os motores (fabricados pela Rotax na Áustria) e optoelectrónicos (sensores FLIR importados do Wescam no Canadá ou Hensoldt da Alemanha). As exportações de motores foram interrompidas quando a Bombardier, dona da Rotax, soube que os seus motores de aeronaves recreativas estavam a ter uso militar. Em Outubro de 2020, as exportações canadianas de WESCAM (óptica e sensores) foram restringidas pelo Ministério das Relações Exteriores do Canadá. Ao mesmo tempo, os testes de integração FLIR locais começaram com o sistema CATS FLIR da Aselsan em 6 de Novembro de 2020.
O desenvolvimento do Bayraktar TB2 foi estimulado pela proibição dos EUA de exportações de aeronaves armadas não tripuladas para a Turquia devido a preocupações de que seriam usadas contra grupos do PKK dentro e fora da Turquia.
Efeitos do nuclear
Os efeitos da deflagração de uma bomba nuclear passam por círculos. Até 1,8 quilómetros do local do impacto, verifica-se uma destruição completa. Até três quilómetros provoca destruição severa. Até à distância de cinco quilómetros gera danos graves e até aos oito mil metros gera danos.
Os efeitos também são graduais. A bola de fogo que resulta da deflagração destrói edifícios, objectos e pessoas. A onde expansiva da deflagração provoca a morte, ferimentos e danos às construções. Já a radiação provoca danos às células do corpo e causa doenças. O denominado pulso electromagnético provoca danos a vários quilómetros de distância e, finalmente, a poeira radioactiva e detritos que caem minutos depois da explosão provocam várias doenças.
Estado de emergência
Designação de uma situação declarada e/ou imposta pelo governo de um país. Isso significa que o governo pode suspender e/ou mudar algumas das funções do executivo, do legislativo ou do judiciário enquanto o país estiver neste estado excepcional, alertando ao mesmo tempo os seus cidadãos para que ajustem o seu comportamento de acordo com a nova situação.
Lei marcial
Chama-se lei marcial ao sistema de leis que tem efeito quando uma autoridade militar (geralmente após uma declaração formal) toma o controle da administração ordinária da justiça (normalmente de todo o Estado). A lei marcial traduz-se geralmente pela suspensão de todas as (ou parte das) liberdades fundamentais do cidadão, como o acto de se deslocar, ou de se reunir.
Operação bandeira falsa
São operações conduzidas por governos, corporações, indivíduos ou outras organizações que aparentam ser realizadas pelo inimigo de modo a tirar partido das consequências resultantes. O nome é retirado do conceito de utilizar bandeiras do inimigo. Operações de bandeira falsa foram já realizadas tanto em tempos de guerra quanto em tempos de paz.
Mísseis Stinger
O FIM-92 Stinger é um míssil terra-ar guiado por infravermelhos, produzido nos Estados Unidos e utilizado por todas as componentes das suas Forças Armadas, com as quais entraram ao serviço em 1981. O Stinger já contabilizou 27 abates confirmados de aeronaves. Durante a Guerra do Afeganistão (1979-1989) centenas de stingers foram enviados para os guerrilheiros, o que mudou bastante o carácter das operações aerotransportadas soviéticas a partir de 1986. A resistência afegã alega ter abatido cerca de 270 aviões e helicópteros soviéticos entre Outubro de 1986 e Setembro de 1987. O Stinger é produzido pela Raytheon Missilw Systems e sob licença da EADS, também na Alemanha. Até à data (2006), 29 países utilizam o Stinger e já foram produzidas 70.000 unidades.
Missil Javelin
Lançador de mísseis antitanque portátil produzido e desenvolvido pelos Estados Unidos.
Pantsir
O Pantsir russo é um sistema de artilharia anti-aérea móvel armado com sofisticados mísseis terra-ar. É produzido pela empresa KBP na cidade de Tula, na Rússia. Considerado um dos mais avançados do mundo, o Pantsir-S1 é um aprimoramento do antigo SA-19/SA-N-11.
Patriot
MIM-104 Patriot é um míssil terra-ar, o primeiro a ser utilizado pelos Estados Unidos, e outros países. É fabricado pelo construtor de Defesa Raytheon.
Recolher obrigatório
É uma medida excepcional, que proíbe a circulação e a permanência de pessoas nas ruas durante um determinado período de tempo.
Veículo blindado de transporte de pessoal
Um veículo blindado de transporte de pessoal é um veículo blindado utilizado para o transporte de tropas, feridos e equipamento.
Zona de exclusão aérea
Uma zona de exclusão aérea é um espaço onde está restringido ou proibido o voo de aeronaves, por decisão do Estado ao qual pertence o espaço aéreo em questão, ou por imposição externa, sendo então uma forma de sanção. Esta medida é adoptada por necessidade militar ou de segurança pública. Apesar de o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea ser uma faculdade do próprio Estado, tal como se depreende do princípio de soberania estatal, registaram-se já situações nas quais o Conselho de Segurança das Nações Unidas, amparando-se no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, decretou zonas de exclusão aérea (como sucedeu na Bósnia Herzegovina em 1992 ou na Líbia em 2011) sem que obtivesse o consentimento do Estado afectado. Chegaram mesmo a dar-se casos em que vários Estados, unilateralmente, acordaram na imposição de uma zona de exclusão aérea a um terceiro (caso do Iraque em 1991). A regulação jurídica básica das zonas de exclusão aérea encontra-se redigida no artigo nono da Convenção sobre Aviação Civil Internacional, ratificada por um total de 190 Estados até ao momento presente.