Até os passarinhos gostam…
Uma montra de beijos nas diferentes espécies convida ao afecto e à ternura entre nós. E não precisamos do Dia dos Namorados para isso.
O livro começa no mar, com beijos salgados. “De manhã, no mar azul, conversavam seis peixinhos. Dizem eles: Glu-Glu-Chuac! Anda cá dar-me um beijinho!”
Depois, avança pelas flores do jardim, onde esvoaçam cinco abelhas. “Dizem elas: Bzz-Bzz-Chuac! Olha, sabes a groselhas!” Seguem-se patos, serpentes, elefantes, passarinhos e… humanos.
Todos se beijam neste livro, o leitor pode vê-los como beijos românticos, entre família ou entre amigos, nas múltiplas relações afectivas possíveis.
“Sobre o lago, quatro patos jogam à apanhada. Dizem eles: Quá-Quá-Chuac! Mas que grande salganhada.”
Com ilustrações simples, mas muito expressivas, recorrendo à engenharia do papel, com abas e dobras para levantar e elementos para deslocar (como, por exemplo, o trio de pares de peixes aqui reproduzido). Um bom livro para quem gosta de espreitar.
A autora, Marta Comín, nasceu em 1982, em Santander, vive em Valência (Espanha), estudou Belas-Artes no Politécnico dessa cidade e é ilustradora. No site da Orfeu Negro, pode ler-se sobre ela: “Os seus álbuns privilegiam a surpresa e a descoberta do mundo, numa exploração narrativa e sensorial bem-humorada para os primeiros leitores. Tem livros publicados em espanhol, francês e agora em português.”
“Lá na selva, à tardinha, combinaram os elefantes. Dizem eles: Vuu-Vuu-Chuac! Belas trombas! Que elegantes!”
Com uma linguagem concisa e directa, Marta Comín tem como referências no seu trabalho os livros para a infância “de Paul Rand e Fredun Shapur, as colagens de Matisse ou o grafismo de Ikko Tanaka”.
Como bem descreveu Andreia Brites na revista Blimunda (21 de Dezembro de 2021), “há um cuidado com todos os detalhes que se converte num livro muito acessível e empático que apetece ler com as mãos”.
Também as rimas, repetições, onomatopeias seguram a atenção das crianças, mesmo as de mais baixa idade.
“No seu ninho, passarinhos e um filhote para cuidar. Dizem eles: Piu-Piu-Chuac! Também tu irás voar!”
No final, é a nossa espécie que surge retratada, com a doçura de um beijo de boa noite, entre pais e filhos.
“Cá em casa, já é noite. Olha o sono a vir também. E o bebé diz: Chuac e Chuac! Boa noite! Durmam bem.”
Sabemos que a comemoração em Portugal do Dia de São Valentim (14 de Fevereiro) é importada. Há importações piores, esta é pelo amor. Se é dos que acham ser apenas um aproveitamento comercial, faça ainda assim por ajudar o sector, que bastante tem sofrido nos tempos recentes. Ofereça um livro à pessoa que lhe é mais próxima. Pode até ser este. É apropriado da primeira à última… infância.
Aqui se representa a delicadeza, a ternura e o afecto. A forma como deveríamos tratar-nos sempre, não apenas por um dia. Chuac!