Morreu a ex-Miss EUA Cheslie Kryst. Advogada e modelo caiu da torre onde habitava
O incidente com a antiga rainha da beleza norte-americana, de 30 anos, reforça a importância da saúde mental, numa altura em que, nos EUA, se assiste a um aumento de diagnósticos de depressão e ansiedade.
A vencedora do concurso de beleza norte-americano de há três anos, Cheslie Kryst, foi identificada como a mulher que caiu do edifício Orion, em Nova Iorque, por volta das 7h da manhã de domingo. Momentos antes, a também advogada tinha publicado na sua conta de Instagram uma mensagem aos seus seguidores: “Que este dia te traga descanso e paz”, seguido de um emoji em forma de coração e como legenda a uma fotografia sua.
A família confirmou o óbito numa declaração, citada pelos órgãos de media norte-americanos: “Em devastação e grande tristeza, comunicamos a morte da nossa amada Cheslie.” A família lembrou “a sua grande luz” que inspirava outros, mas também como “se preocupava, amava, ria e brilhava”. Mais: “Cheslie encarnou o amor e serviu os outros, fosse através do seu trabalho como advogada de luta por justiça social, como Miss EUA e como anfitriã no [programa televisivo] Extra. Mas, mais importante, como filha, irmã, amiga, mentora e colega — sabemos que a sua influência continuará viva.”
Cheslie Kryst vivia no nono andar do edifício Orion, um arranha-céus no Theatre District, onde se concentra a maioria das salas de teatro da Broadway, em Midtown Manhattan. De acordo com as autoridades, citadas pelo New York Post, não há indícios de crime, já que Kryst estava sozinha, e a existência de uma mensagem escrita (em que a modelo especifica que deixa todos os seus bens à mãe) aponta para um cenário de suicídio.
Apesar de a notícia ter apanhado o país de surpresa, Kryst já tinha abordado por diversas vezes a importância que a sua saúde mental tinha no seu dia-a-dia. Em Outubro de 2019, ano em que conquistou a coroa da beleza, falou no Facebook para o Dia Mundial da Saúde Mental, dando dicas de como lidava com o stress. “Faço muito para me certificar de que mantenho a minha saúde mental”, disse ela. “E a coisa mais importante que fiz foi falar com uma terapeuta. É muito fácil falar com ela. Ela dá-me grandes estratégias, especialmente se estou triste ou feliz ou se tenho um mês ocupado pela frente.”
No ano seguinte, voltou ao tema numa entrevista, descrevendo três rotinas: “Tento estabelecer um horário regular para que o meu alarme toque todos os dias às 6h45 (…); tento estabelecer limites muito claros (…); e tenho um horário de treino regular que mantém o meu corpo saudável e a minha mente focada.”
O incidente reforçou a importância do tema da saúde mental na agenda dos EUA, que tem vindo a sinalizar sinais preocupantes, uma vez que, depois de o número de suicídios ter registado uma ligeira quebra em 2019 (revertendo uma tendência de crescimento verificada nas duas décadas anteriores), os diagnósticos de depressão e ansiedade aumentaram durante a pandemia.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem todos os anos por suicídio, sendo que nos EUA é a décima causa de morte e a segunda em pessoas com idades compreendidas entre os dez e os 34 anos. O Instituto Nacional de Saúde Mental do país identifica o suicídio como uma grande preocupação de saúde pública.
A OMS é clara a frisar que “os suicídios são evitáveis”, apontando para “uma série de medidas que podem ser tomadas para prevenir suicídios e tentativas de suicídio”, nomeadamente, “interagir com os meios de comunicação social para uma abordagem responsável sobre o suicídio”.
Em todo o mundo, há cerca de 30 países com um plano de prevenção contra o suicídio, e Portugal, desde 2013, é um deles, sendo que este passa pela formação dos agentes de primeira linha: profissionais de saúde dos cuidados primários, de emergência e de segurança, mas também pela identificação das populações mais vulneráveis.
O suicídio, explicava em 2020 ao PÚBLICO a assessora do Programa Nacional para a Saúde Mental, a psiquiatra Ana Matos Pires, “é um problema de saúde pública”, no sentido das implicações sociais colaterais que tem, “mas é preciso compreender que não é uma doença; é um comportamento e, felizmente, raro”, indicando que o caminho para que se consiga limitar o número de suicídios passa pela prevenção precoce, mas também pela informação de que a depressão é tratável, para que quem esteja a passar por um momento difícil saiba que existe ajuda e onde a procurar.