Covid-19 poderá passar a ser vigiada como a gripe depois desta vaga
Instituto Ricardo Jorge está a estudar novo modelo de combate à pandemia. Transição só deverá acontecerá entre a Primavera e o Verão. Rede de “sentinelas”, com hospitais e laboratórios, permitirá ter estimativas semanais da evolução da doença. Ministério da Saúde não se compromete.
Não será uma mudança imediata, mas a vigilância da covid-19 poderá passar a ser feita de forma semelhante ao que acontece com a gripe sazonal, com base numa amostragem feita por “sentinelas”, que incluem hospitais e laboratórios. Dessa forma, será possível ter estimativas semanais da evolução da doença. É o que preconiza um modelo que o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) está a estudar e que deverá ser implementado depois da actual vaga da pandemia.
A solução encontra-se, para já, no plano teórico. O Insa está a desenvolver o modelo e a decisão final cabe à Direcção-Geral da Saúde (DGS) – que até ao momento não se pronunciou publicamente sobre o tema. A transição para um novo sistema de vigilância da covid-19 também não será imediata, até porque os serviços de saúde ainda estão a braços com a vaga da doença que mais infecções tem causado. Os especialistas apontam o final da Primavera ou o início do Verão, momento em que o SARS-CoV-2 tem tido menos impacto, para introduzir as mudanças.
Mas os dois modelos podem existir em simultâneo antes disso, adiantam especialistas do Insa ao Jornal de Notícias e à Rádio Renascença, que, esta sexta-feira, dão conta de alguns pormenores sobre o novo sistema de vigilância.
A intenção do Insa é passar a acompanhar a evolução da covid-19 da mesma forma como é feita a monitorização do vírus da gripe e de outros vírus respiratórios, como o rinovírus ou o vírus sincicial respiratório, através de “sentinelas”. Este modelo inclui uma rede de médicos-sentinela, criada em 1989, e ainda serviços de urgência e de obstetrícia de hospitais, unidades de cuidados intensivos e a rede de laboratórios.
Quando um utente vai ao médico de família ou a um hospital, são colhidas amostras para análise. Esta decisão não abrange todos os pacientes, sendo feita por amostragem. Dessa forma, será possível, de forma regular e com os mesmos critérios, identificar casos de covid-19, gripe e outras infecções respiratórias, para que haja estimativas semanais que permitam perceber a evolução da doença. Isto implica que deixem de ser contabilizados todos os casos de infecção pelo SARS-CoV-2, como até agora. Ou seja, será o fim dos boletins diários da DGS, várias vezes anunciado, mas nunca concretizado.
Na semana passada, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças já tinha pedido aos países europeus para considerarem uma mudança de estratégia no combate à covid-19, passando a monitorizá-la como se fosse o vírus da gripe.
Essa mudança poderá também abranger a estratégia de vacinação. Segundo os especialistas do Insa ouvidos pelo Jornal de Notícias e a Renascença, o cenário pode passar por um período de vacinação contra a covid-19 anual, como já acontece com a gripe, com campanhas de vacinação focadas em grupos de maior risco.
Ministério da Saúde não se compromete
O Ministério da Saúde não se compromete com datas para a mudança de procedimento em relação à covid 19. Em resposta ao PÚBLICO, o gabinete de Marta Temido confirma apenas que este protocolo “está em fase de estudo” e tem por base a experiência do Insa na monitorização da gripe.
“O trabalho prévio, em desenvolvimento, tem como propósito antecipar e preparar, em articulação com a Direcção-Geral da Saúde e Ministério da Saúde, o sistema para uma eventual necessidade de adaptação da vigilância da SARS-CoV-2 no modelo de vigilância global de infecções respiratórias, à semelhança do que já vem acontecendo noutros países da Europa”, acrescenta a tutela.