Jerónimo espera, “com a arte e sorte, daqui a uma semana já estar outra vez na estrada”

O secretário-geral do PCP vai ser operado de urgência quinta-feira, o que significa que ficará fora da campanha nos próximos dias.

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Jerónimo de Sousa agradeceu aos camaradas e aos jornalistas e amigos do PCP toda a solidariedade LUSA/ESTELA SILVA

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, assumiu nesta terça-feira que há sempre um risco quando se tem de ser submetido a uma cirurgia de urgência, mas prometeu regressar “à estrada” daqui a uma semana. Mas manifestou-se confiante de que daqui a uns dias o país poderá contar com ele para “o bem e para o mal”.

“Tem um risco relativo, mas tem sempre um risco. Era impossível aguentar até ao fim da campanha e creio que, enfim, a vida tem destas coisas”, declarou Jerónimo de Sousa, admitindo, “com a arte e sorte, daqui a uma semana já estar outra vez na estrada”.

“Irei amanhã ser internado. No dia seguinte, em princípio, serei operado, embora com esta ou aquela data a fixar, e confiar que a coisa saia bem. Isto a vida tem destas coisas. Tenho este sentimento de confiança de que mais uns dias e podem contar comigo para o bem e para o mal”, declarou Jerónimo de Sousa, à margem da acção de campanha eleitoral da CDU que hoje decorreu em Matosinhos, a última antes da cirurgia.

O líder comunista agradeceu aos camaradas e aos jornalistas e amigos do PCP toda a solidariedade. “Foi importante para mim as demonstrações de muitos homens e mulheres, homens e mulheres importantes, as manifestações de apreço de jornalistas e até de comentadores num quadro de manifestação de simpatia, de apreço e de solidariedade. É das coisas melhores para quem anda na vida política, porque é um valor que não determina nem vai esmorecer o combate político”, disse.

Jerónimo de Sousa agradeceu a solidariedade que tem recebido de todos os quadrantes políticos, designadamente do primeiro-ministro e do Presidente da República, bem como dos seus camaradas do partido, adversários políticos, jornalistas, entre outros, devido ao seu estado de saúde.

Questionado pelos jornalistas sobre se a cirurgia de urgência iria prejudicar a campanha eleitoral e os resultados da CDU, o secretário-geral do PCP respondeu com um “não” categórico. “Não. O meu partido foi claro e inequívoco ao dar prioridade ao atendimento do problema [de saúde]. A urgência em concretizar um esforço muito grande por parte dos meus camaradas de partido, particularmente da direcção. A pressa, ou a prioridade, não teve a ver com a falta, maior ou menor, na campanha eleitoral. O meu partido fê-lo por razões que são óbvias em termos de saúde, não definiu aqui metas, objectivos calendarizados de forma rígida (...). Acho que tenho forças para corresponder àquilo que são os anseios do meu partido, da CDU, de muitos democratas”, declarou o secretário-geral do PCP.

Questionado sobre o porquê da escolha de João Ferreira e João Oliveira para o substituir na campanha eleitoral, Jerónimo de Sousa disse que, “em primeiro lugar”, foi porque fazem parte da direcção do partido, da sua comissão política, do Comité Central.

“Em segundo lugar, porque são candidatos às eleições e têm este valor intrínseco, correspondendo assim a esta situação excepcional, procurando dar a sua contribuição. Mais do que isto, é uma contribuição valiosa de dois dirigentes do partido também candidatos à Assembleia da República”, acentuou.

“Foi num quadro de exames de rotina que se verificou um problema que resulta da obstrução de uma válvula e uma equipa multidisciplinar médica considerou que, com a subjectividade do grau de risco, havia uma questão incontornável da urgência em realizar a intervenção cirúrgica e, como medida de segurança, tendo em conta os tempos em que a campanha [eleitoral] vai decorrer, há essa decisão”, disse.

Questionado sobre os riscos de voltar ainda para a campanha eleitoral depois da cirurgia, o secretário-geral do PCP admitiu que “qualquer esforço superior” poderia “ter consequências”, manifestando a intenção de acatar as decisões médicas quanto ao regresso ao trabalho. “Essa preocupação e esse aconselhamento penso naturalmente acatar e ter esta perspectiva em que o andamento será definido conforme a capacidade de recuperação deste problema”, precisou.

O secretário-geral do PCP vai ser submetido a uma operação urgente na quinta-feira e vai falhar a campanha das eleições legislativas enquanto estiver a recuperar, sendo substituído por João Ferreira e João Oliveira. O PCP prevê que “retome no final da próxima semana a sua intervenção política, nomeadamente na campanha eleitoral em curso para a Assembleia da República”.

De acordo com um comunicado divulgado pelo partido, o dirigente comunista vai ser submetido “uma intervenção cirúrgica urgente da estenose carotídea (à carótida interna esquerda), que não pode ser adiada para depois das eleições”.

Na acção de campanha que teve ainda esta terça-feira, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu que “vale a pena” continuar a luta pela redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais.

“Hoje falámos dos horários de trabalho, da sua desregulação e das suas consequências na vida de quem trabalha. Não vale a pena perdermos tempo a demonstrar as implicações, as injustiças e os problemas que resultam da brutal e desregulada carga horária de que os trabalhadores são alvo, cada um de vós, cada um dos trabalhadores conhece bem essa dura realidade. Vale a pena continuar a luta pela redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais, sem perda de remuneração. Esta é uma luta que vale a pena e é uma luta possível de levar por diante, tal como aqui ficou demonstrado em sectores tão diversos”, declarou Jerónimo de Sousa, numa intervenção que arrancou pelas 15:50, na Junta de Freguesia da Nossa Senhora da Hora, em Matosinhos (Porto).

O secretário-geral do PCP foi recebido esta tarde por dezenas de trabalhadores portugueses, que o aplaudiram à chegada à Junta de Freguesia da Senhora da Hora (Matosinhos), entoando palavras de ordem da CDU.

Jerónimo de Sousa é o segundo secretário-geral do PCP a fazer uma operação cirúrgica, depois de Álvaro Cunhal ter sido operado a um aneurisma, ainda na antiga União Soviética, em 1989.

Em 1989, Álvaro Cunhal foi à União Soviética, então sob a liderança de Mikhail Gorbatchov, para ser operado a um aneurisma da aorta. Dois anos depois, começou a sucessão, com a escolha de Carlos Carvalhas, primeiro como secretário-geral adjunto e depois como líder.

Jerónimo de Sousa também quis falar dos “problemas concretos” dos trabalhadores da Administração Pública em Portugal, e da “não valorização de carreiras”, e dos “anos sucessivos de estagnação salarial e perda de poder de compra”.

“Os trabalhadores não podem ser joguetes nas mãos dos operadores privados, são homens e mulheres que todos os dias transportam à sua responsabilidade milhares de utentes, merecem respeito e é urgente a sua valorização. A todos eles reafirmamos que é fundamental para o país a valorização dos serviços públicos e dessa valorização depende o respeito e o reconhecimento dos seus trabalhadores, das suas carreiras, dos seus salários das suas condições de trabalho. Esta é uma luta que é preciso também continuar e que vale a pena”.