Escolhido o júri para o julgamento de Ghislaine Maxwell

Doze jurados e seis suplentes foram seleccionados na segunda-feira para ouvir o caso, que deve durar seis semanas. As declarações de abertura estão definidas para começar nesta segunda-feira.

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Um júri foi escolhido na manhã desta segunda-feira para o julgamento de Ghislaine Maxwell, que é acusada de recrutar e preparar raparigas menores para o multimilionário Jeffrey Epstein abusar sexualmente.

A acusação defende que entre 1994 e 2004, a socialite britânica Ghislaine Maxwell — que trabalhou e foi companheira de Epstein — ganhou a confiança de várias raparigas, levando-as ao cinema, enviando-lhes presentes como lingerie e debatendo temas sexuais, acabando por as influenciar a manter relações sexuais com Epstein.

Maxwell, 59 anos, declarou-se inocente de oito acusações de tráfico sexual e outros crimes, incluindo duas acusações de perjúrio que serão julgadas noutro julgamento. A socialite, que compareceu ao tribunal usando uma máscara branca, pode ser condenada a uma pena até 80 anos de prisão se for considerada culpada de todas as acusações.

Doze jurados e seis suplentes foram seleccionados na segunda-feira para ouvir o caso, que deve durar seis semanas. As declarações de abertura estão definidas para começar nesta segunda-feira.

Depois de o grupo ter sido seleccionado, um jurado disse que o seu empregador lhe daria apenas duas semanas de licença remunerada, e outro disse que o seu cônjuge o surpreendeu com uma viagem que coincide com parte do julgamento. A juíza distrital dos EUA, Alison Nathan, disse que falaria com o último jurado, bem como com o empregador do primeiro, para determinar se continuariam no caso.

A juíza já havia dispensado um jurado que informou que os seus colegas de trabalho descobriram que ele poderia fazer parte do júri de Maxwell e deram-lhe opiniões “inflexíveis e apaixonadas” sobre o caso.

Bode expiatório?

Os advogados de Maxwell argumentam que a acusação, incapaz de condenar Epstein, está a usar a filha do falecido magnata da média britânico Robert Maxwell, como bode expiatório. Epstein morreu, em 2019, aos 66 anos, numa cela da prisão de Manhattan enquanto aguardava julgamento por acusações de abuso sexual. “Sem nenhum peixe para fritar, o governo tardiamente recorreu à Sra. Maxwell”, escreveram os advogados num processo de 4 de Fevereiro.

O julgamento de Maxwell surge na esteira do movimento #MeToo, que encorajou vítimas de abuso sexual a manifestar-se contra homens poderosos como o produtor de cinema Harvey Weinstein e o cantor de R&B R. Kelly acusado de má conduta. O caso contra Maxwell destaca-se porque se trata de uma mulher a sentar-se no banco dos réus.

A acusação diz que Maxwell encorajou as jovens a massajar Epstein enquanto estavam total ou parcialmente nuas. Em alguns casos, Epstein ou Maxwell pagavam em dinheiro ou ofereciam-se para pagar viagens ou mesmo a educação das raparigas, e o multimilionário, às vezes, masturbava-se ou tocava nos órgãos genitais das meninas durante as massagens.

“As vítimas sentiram-se em dívida e acreditaram que Maxwell e Epstein estavam a tentar ajudá-las”, escreveram os procuradores. Em alguns casos, Maxwell “esteve presente e participou do abuso sexual de vítimas menores”, dizem.

Os advogados de Maxwell indicam que questionarão a credibilidade das quatro supostas vítimas perguntando por que esperaram para se apresentar recentemente; e argumentando que têm incentivos financeiros para mentir ou exagerar. “Qualquer acusador que testemunhar que Maxwell participou de abuso sexual ou tráfico sexual não diz a verdade”, escreveram os advogados de Maxwell em documentos do tribunal.

Do lado da defesa, há uma proeminente psicóloga Elizabeth Loftus, que testemunhou pela defesa no julgamento de violação do produtor de cinema Harvey Weinstein e no julgamento de assassinato do herdeiro imobiliário Robert Durst — e que deve testemunhar sobre como as pessoas podem ser manipuladas para terem “falsas recordações”.

Alguns especialistas jurídicos dizem que a estratégia é arriscada na era pós #MeToo, e que os procuradores não teriam acusado Maxwell a menos que estivessem confiantes de que os depoimentos da acusação resistiriam ao escrutínio. “Envergonhar a vítima não funciona, especialmente agora em 2021”, aponta Zachary Margulis-Ohnuma, advogado de defesa de Nova Iorque especializado em casos de crimes sexuais.