Príncipe Harry diz que avisou o Twitter um dia antes da invasão do Capitólio ter ocorrido

Depois de ser, juntamente com a sua mulher Meghan Markle, um dos grandes alvos de informações falsas e discurso de ódio nas redes sociais e nos próprios media, o neto da rainha acha ser urgente que as plataformas online adoptem um pulso firme para travar o fenómeno.

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EPA/JASON SZENES

O príncipe Harry, duque de Sussex, revelou esta quarta-feira que avisou o empresário e dono da rede social Twitter Jack Dorsey, por correio electrónico, que a sua plataforma estava a ser usada para “organizar um golpe”. Isso aconteceu apenas um dia antes da invasão do Capitólio, em Washington D.C., EUA, no passado dia 6 de Janeiro de 2021, e que fez cinco mortes. 

A informação foi divulgada pelo próprio enquanto discursava na conferência RE:WIRED'S 2021, moderada pelo jornalista Steven Levy e que se centra sobre temas como a desinformação e o papel das redes sociais em disseminar mentiras, propaganda e discurso de ódio

Nas páginas que gerem, bem como nas entrevistas que dão, Harry e a mulher, Meghan, têm chamado a atenção para o impacto a nível psicológico do fenómeno das fake news, do qual dizem ser vítimas, apontando o dedo às grandes plataformas para que tomem alguma atitude. Quando questionado se alguma vez teve a oportunidade de confrontar um dos responsáveis por detrás das redes sociais sobre o contributo destas em difundir notícias falsas, Harry contou como alertou Jack Dorsey sobre o ataque ao Capitólio.

“Jack e eu andávamos a trocar e-mails antes do incidente a 6 de Janeiro quando eu disse-lhe que o Twitter estava a ser usado para organizar um motim”, explicou na conferência. “Esse e-mail foi enviado no dia anterior ao ataque”, continuou. “Depois tudo aconteceu e eu nunca mais ouvi nada da parte dele.” O Twitter ainda não veio a público comentar as declarações do príncipe. 

Do ataque, levado a cabo por um grupo de apoio ao antigo presidente norte-americano Donald Trump, resultou a morte de cinco pessoas; foram agredidos pelo menos 140 agentes e obrigou a que muitos políticos se trancassem em salas para se protegerem. As acções violentas resultaram na evacuação do Capitólio, enquanto todo o mundo assistia aos acontecimentos pela televisão ou na Internet. 

Previamente à invasão, o FBI chegou a receber ameaças violentas em grupos e fóruns usados por apoiantes de extrema-direita. Por sua vez, as grandes plataformas, como o Twitter, têm vindo a ser criticadas por não adoptarem uma política suficientemente eficiente contra a disseminação de fake news e discurso de ódio, permitindo que Donald Trump publicasse declarações erradas antes das eleições de Novembro. Depois do incidente no Capitólio, o Twitter anunciou que iria suspender a conta de Trump temporariamente, afirmando que o ex-presidente teria, através da sua página, incitando à violência, violando assim as regras da comunidade online. 

Não ao termo “Megexit

Harry aproveitou a conferência para comentar que o termo “Megexit” — que se tornou popular nas redes sociais depois de o casal ter anunciado que se ia afastar da família britânica real —, era “misógino”, tendo em conta que surge de uma junção da palavra Brexit e subentende que foi Meghan a culpada pela decisão de sair de Buckingham. Sobre a matéria, Harry criticou ainda os jornalistas que começaram a usar o termo na cobertura mediática sobre o casal. 

De acordo com uma análise divulgada no último mês pelo Bot Sentinel, uma plataforma do Twitter que analisa as publicações, Meghan foi um dos grandes alvos de campanhas de ódio na rede social. Depois de estudar mais de 114 mil tweets relacionados com o casal, a investigação descobriu que 83 contas estavam por detrás de 70% das publicações anti-Sussex e a maioria destas aparentam ter sido criadas por pessoas, sem grandes indícios de “actividade de bots”. 

Tendo em conta a excessiva cobertura mediática negativa de que já foi alvo, Meghan chegou mesmo a pôr o jornal britânico Mail on Sunday em tribunal, vencendo o caso no início deste ano. Em comunicado, a duquesa afirmou que as práticas do jornal referido eram “ilegais e desumanas” e que estas não passavam de “um jogo”, disse. “Para mim e para tantos outros, é a nossa vida, as nossas relações e é realmente triste”, acrescentou.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Bruna Ferreira Edição: Bárbara Wong

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