Alentejo, “guardião” do vinho de talha: produtores unem-se para “defender” prática milenar
Associação de Produtores de Vinho de Talha quer criar selo de qualidade para as produções que seguem o método aprendido com os romanos. Na quinta-feira, abrem-se várias adegas alentejanas ao público, porque, já se sabe: “No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”.
Onze produtores vinícolas do Alentejo criaram uma associação para defender e promover o milenar método de produção de vinho de talha e conceber um selo para atestar a qualidade deste produto.
Trata-se da Associação de Produtores de Vinho de Talha (APVT), que foi criada por 11 empresários produtores daquele tipo de vinho dos concelhos de Vidigueira, Cuba e Alvito, no distrito de Beja, disse à agência Lusa o secretário da direcção deste organismo, Luís Amado.
Segundo o responsável, a APVT pretende, “acima de tudo, unir os produtores para defender e promover o milenar método de produção de vinha de talha”, que consiste numa técnica artesanal de vinificação típica do Alentejo, criada há mais de 2.000 anos pelos romanos e feita em grandes vasilhas de barro, chamadas talhas.
A associação, que conta com o apoio da Câmara de Vidigueira, também quer ajudar os associados nos processos de produção, comercialização e certificação dos seus vinhos e tem como “grande objectivo” criar um selo de qualidade do vinho de talha, adiantou.
“Alguns dos produtores têm os seus vinhos certificados, mas outros não, e, por isso, a APVT quer ajudar os associados no processo de certificação junto do Instituto da Vinha e do Vinho”, explicou.
Os associados da APVT com vinhos certificados também vão dispor de um selo, que permitirá atestar a qualidade e confirmar junto dos consumidores que efectivamente se trata de vinhos de talha.
A associação também quer criar sinergias e mecanismos para permitir contratar compras, “a preços muito mais reduzidos”, de produtos necessários à produção de vinho, como garrafas, “em vez de ser cada produtor a fazê-lo por si”, coordenar os preços dos vinhos e participar em feiras.
Segundo Luís Amado, a APVT, que já tem órgãos sociais e vai instalar a sede na vila de Vidigueira, pretende alargar-se a produtores de todos os territórios onde se produz vinho de talha.
Na quinta-feira, seguindo o lema “No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”, nove dos 11 associados vão abrir as suas adegas ao público para dar a conhecer o método de produção de vinho de talha e a própria associação, assim como dar a provar os seus vinhos da produção deste ano.
A iniciativa, promovida pela APVT, engloba oito adegas situadas em Vila de Frades, a “capital do vinho de talha", no concelho de Vidigueira, e uma em Vila Alva, no vizinho concelho de Cuba.
Em cada adega, uma pessoa, por seis euros, vai poder provar três vinhos de talha e saborear um petisco, explicou Luís Amado, referindo que metade daquele valor servirá para cobrir as despesas de cada adega com a iniciativa e a outra irá reverter para o arranque do funcionamento da APVT.
Segundo a Comissão Vitivinícola Regional do Alentejo (CVRA), em Portugal, "o Alentejo tem sido o grande guardião” do vinho de talha e tem “sabido preservar” a prática de vinificação criada pelos romanos há mais de 2.000 anos.
Ao longo dos tempos, a técnica de produzir vinho em grandes vasilhas de barro, conhecidas como talhas, foi passada de geração em geração, “de forma quase imutável”.
Não há apenas uma forma de fazer vinho em talhas, já que a produção varia ligeiramente consoante a tradição local, mas, segundo a forma mais clássica, que “pouco mudou em mais de 2.000 anos”, as uvas esmagadas são colocadas dentro de talhas e a fermentação ocorre espontaneamente, explicou a CVRA.