Na Amoreira houve chuva, vento e Benfica nublado
Os “encarnados” vacilaram na I Liga e perderam a liderança do campeonato para o FC Porto. Neste jogo houve chuva, algum vento e um Benfica por vezes forte e outras muito nublado. Como definiu Jesus, o Benfica “pôs-se a jeito”.
Como se escreveu na antevisão do Estoril-Benfica, nunca os “encarnados” tinham tido um contexto tão favorável a um tropeção na I Liga – desde a força do adversário ao cansaço físico, passando pelas recentes exibições cinzentas e pela permeabilidade defensiva.
Neste sábado, esses indicadores de uma anunciada perda de pontos revestiram-se de realidade e a equipa de Jorge Jesus vacilou mesmo. O empate (1-1) na Amoreira faz o Benfica cair da liderança do campeonato, dando o “trono” ao FC Porto, que passou no teste frente ao Boavista. Estão, agora, separados por um ponto. E tudo isto poderá ser ainda pior para o Benfica consoante o que se passar em Alvalade entre Sporting e Vitória de Guimarães.
Neste jogo houve chuva, algum vento e um Benfica por vezes forte, mas outras muito nublado. Os “encarnados” pareceram ter sempre o jogo sob controlo e só a ineficácia em alguns lances de finalização impediu um final de noite com menos sobressalto, apesar da segunda parte mais modesta. Já o Estoril teve um par de lances interessantes, mas, globalmente, tal como já tinha acontecido com o Sporting, acabou por ser pouco capaz de ferir – apenas dois remates à baliza. No fim de contas, este foi um jogo em que o Benfica recorreu à “força aérea”, com um golo de cabeça de Lucas Veríssimo, após um canto, e o Estoril fez o mesmo, com golo de Rosier, já aos 90’, também após um canto.
Na Amoreira, ainda os espectadores se acomodavam e já o Benfica celebrava o primeiro golo. Aos 2’, João Mário bateu um canto e Lucas Veríssimo “enganou” Rosier e Ferraresi, ficando livre para cabecear com sucesso. O médio francês, responsável inicial pela marcação, ficou particularmente mal neste lance.
Mas este golo mais não foi do que o atestar de um dado sobre este Estoril: é a terceira equipa da I Liga com menos duelos aéreos ganhos – valor enviesado pelo estilo “térreo” de jogo, é certo, mas que mostra, ainda assim, incapacidade para responder a preceito quando o jogo vai para o plano aéreo.
Este foi um bom início de jogo para o Benfica, mas não apenas pelo golo precoce. A equipa de Jorge Jesus apareceu agressiva e dinâmica com bola e intensa sem ela – demorou sempre poucos segundos a “abafar” as saídas do Estoril pelo chão, ora recuperando a bola, ora obrigando os adversários a baterem longo, pelo ar, facilitando a acção da defesa “encarnada”.
Jorge Jesus manteve o sistema de três centrais, mas desenhou uma nuance que já não é inédita: Rafa na zona central, nas costas de Yaremchuk e Darwin. O 3x5x2, com o uruguaio mais descaído para a direita, pareceu tirar algumas referências de marcação ao Estoril, sobretudo porque Bruno Pinheiro queria Gamboa a baixar para o meio dos centrais – opção que ofereceu um jogador adicional para condicionar os avançados do Benfica, e isso foi quase sempre bem feito, mas que criou a famosa metáfora da manta que se tapa de um lado, destapa do outro.
Se Gamboa baixa, o espaço à frente da defesa fica livre para o “10” adversário, Rafa, mais ainda quando a defesa baixa não é acompanhada pela linha ofensiva, abrindo muito espaço entre linhas.
O internacional português conseguiu algumas acções pelo corredor central – e parecia estar ali o “ouro” –, mas até foi pelos corredores que Benfica e Estoril mais tentaram chegar ao golo. Aos 11’ houve cruzamento sem finalização de Clóvis, aos 14’ cruzamento de Darwin para quase autogolo de Gamboa e aos 17’ um bom cruzamento de Arthur novamente sem finalização.
O Estoril, apesar da incapacidade de construir de forma apoiada, até teve aproximações interessantes à área de Odysseas – faltou apenas mais presença e sagacidade dos atacantes, algo que já se tinha visto frente ao Sporting.
Aos 45+1’, Rafa voltou a tentar castigar a marcação deficiente do Estoril e surgiu sozinho à entrada da área, em boa posição. O remate, após passe de Radonjic (o eleito para ala-direito), saiu por cima.
Ao intervalo, Jesus tirou Yaremchuk e não colocou um ala, como habitualmente. A aposta em Gonçalo Ramos mostrava que a opção de ter dois avançados na zona central, mesmo que bastante móveis, não era trivial nem para abandonar.
A segunda parte não foi tão rica como a primeira. As equipas começaram a falhar mais acções técnicas e não há estratégia ou sistema que resista a isso. Houve mais faltas e passes errados do que lances bem construídos, até porque o Benfica, a vencer, estava confortável a controlar a partida – e mantendo a pressão à construção do Estoril, que raramente conseguia criar jogo, fosse pelo chão, fosse pelo ar.
Oportunidades de golo em 20 minutos só um livre de Áfrico aos 52’, defendido por Odysseas. O futebol de qualidade só surgiu já depois da hora de jogo. Uma boa jogada do Benfica aos 65’, com Rafa e Diogo Gonçalves a soltarem Veríssimo, permitiu ao central aventurar-se para um remate fraco. Pouco depois, Diogo Gonçalves e Gonçalo Ramos inventaram uma combinação em que o avançado acabou por não assistir com qualidade, já perto da baliza.
Incapaz de jogar, o Estoril esteve perto do golo aos 68’, num cruzamento torto desviado por Vertonghen, que obrigou Odysseas a aplicar-se. Aos 70’, Bruno Pinheiro sentiu que o jogo, como estava, dificilmente daria algo ao Estoril. Tirou Gamboa do jogo, para colocar Francisco Geraldes, e ganhou mais “perfume” com bola, que tanto estava a faltar, mas perdeu, por outro lado, algum músculo e ocupação de espaços na zona à frente da defesa.
E foi também por isso que Gonçalo Ramos, sem oposição capaz, pôde ter tempo e espaço para rematar à entrada da área, aos 80’, para defesa de Dani Figueira, que respondeu novamente bem a um remate de Everton, aos 83’.
Aos 90’, sem que nada fizesse prever, o Estoril chegou ao golo num canto, por Rosier. O francês, também sem marcação, vingou-se do “adormecimento” no golo do Benfica. Como definiu Jesus após o jogo, o Benfica “pôs-se a jeito”.