Adolfo Mesquita Nunes anuncia saída do CDS: “O partido em que me filiei deixou de existir”

O ex-dirigente centrista anunciou no Facebook a desfiliação do CDS por se ter transformado num “partido distinto” daquele em que se havia filiado. Mesquita Nunes decidiu sair do CDS “em nome da liberdade”.

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Mesquita Nunes Daniel Rocha

Adolfo Mesquita Nunes anunciou, este sábado, a desfiliação do CDS. A saída do antigo dirigente centrista torna-se assim a mais recente réplica da agitação interna que vive o CDS e que teve, na última madrugada, um polémico conselho nacional em que se digladiaram os interesses do actual líder, Francisco Rodrigues dos Santos, e do candidato à liderança, Nuno Melo.

“É em nome da liberdade que me desfilio”, é a conclusão do longo texto publicado na manhã deste sábado por Mesquita Nunes no Facebook, intitulado “O partido em que me filiei deixou de existir”.

Liberdade é aliás uma expressão nove vezes repetida pelo ex-dirigente centrista no texto em que justifica ainda a desfiliação por considerar que “o CDS é hoje, estruturalmente, um partido distinto”. “Um partido que quer afastar-se do modelo de partido que servi como dirigente”, acrescenta o ex-governante centrista e responsável pela coordenação do programa eleitoral com que Assunção Cristas se apresentou às últimas legislativas. 

“Nunca pensei pedir a desfiliação do partido em que milito há 25 anos, a quem tanto devo e a quem entreguei boa parte da minha vida, do meu empenho e do meu entusiasmo. E se o faço hoje, no que provavelmente é o mais difícil acto político da minha vida, é porque o partido em que me filiei, o CDS das liberdades, deixou de existir”, pode ainda ler-se na argumentação usada por Mesquita Nunes para explicar a saída.

O administrador da Galp refere ainda que não fundamenta esta desfiliação “nas profundas discordâncias com o rumo seguido pela direcção eleita nem na avaliação que esta publicamente faz da minha honra e da minha militância”, considerando que “todas as direcções são conjunturais e a militância não deixa de fazer sentido se estivermos em desacordo com o discurso, ética e estratégia da direcção do momento”. “Fundamento esta desfiliação na convicção de que o CDS é hoje, estruturalmente, um partido distinto daquele em que me filiei”, remata. 

Referindo-se à conjuntura actual centrista e indirectamente à actual direcção, Mesquita Nunes diz que “sempre houve quem lidasse muito mal com a contemporaneidade e com a liberdade”. “O que se passa é que é essa a tendência maioritária, e dela resulta uma estratégia clara, com respaldo em sucessivos conselhos nacionais, de afunilamento e reposicionamento do partido. Em Janeiro deste ano, em vão, fiz o que a minha consciência mandava e alertei para tudo isto propondo uma mudança de rumo”, afirma recordando a tentativa de marcação de um conselho nacional com o propósito de ser antecipado um congresso electivo, tendo então demonstrado vontade de ser candidato à presidência centrista.

A forma como decorreu a reunião do conselho nacional marcado com “carácter de urgência” para a noite desta sexta-feira foi a gota de água para Mesquita Nunes, para quem “o CDS desistiu, enquanto partido, de discutir e decidir em congresso com que liderança e com que estratégia deve enfrentar as próximas eleições legislativas”.

“É apenas a confirmação de que o partido deixou de existir, com pensamento e estratégia autónoma, aceitando com entusiasmo o caminho para a nossa irrelevância, dependendo da bondade e caridade de terceiros. Como é possível que o CDS aceite que uma direcção retire aos militantes o direito de escolher o seu líder e a sua estratégia; e que o faça num conselho nacional ilegalmente convocado e ignorando as decisões do órgão jurisdicional do partido; e ainda para mais para manter uma direcção cujo mandato termina em Janeiro?”, prossegue dizendo acreditar que a transformação imprimida ao partido pelo líder Francisco Rodrigues dos Santos “se tornou irreversível”.

Em Junho último, também Francisco Mendes da Silva, que é próximo de Mesquita Nunes, anunciou a desfiliação do CDS, justificando então a decisão por o partido ter deixado “de querer ser um instrumento relevante e autónomo”. 

Conselho nacional ao lado de Rodrigues dos Santos

O centrista põe assim em causa o conselho nacional extraordinário que foi realizado na última noite apesar de o tribunal do CDS (conselho de jurisdição nacional) ter dado razão ao pedido de impugnação do mesmo apresentado pelo eurodeputado Nuno Melo. O assumido candidato à liderança centrista tentou inviabilizar um conselho nacional convocado por Rodrigues dos Santos com o objectivo de adiar o congresso electivo que o próprio presidente centrista convocara para os dias 27 e 28 de Novembro.

Não obstante a decisão do tribunal centrista, a reunião realizou-se e já durante a madrugada foi votado favoravelmente o adiamento das eleições internas para depois das eleições legislativas antecipadas que o Presidente da República deverá agendar nos próximos dias. De acordo com a Lusa, o pedido de adiamento recebeu 144 votos favoráveis e 101 contra, tendo ainda sido registadas quatro abstenções.

Ainda dessa votação, Nuno Melo havia avisado, também através de uma publicação no Facebook, que, tendo em conta a decisão do conselho de jurisdição, quaisquer decisões saídas deste conselho nacional "serão nulas". Nuno Melo poderá ainda recorrer para o Tribunal Constitucional. 

Por seu turno, ao início da noite desta sexta-feira, Francisco Rodrigues dos Santos defendeu ter total “legitimidade” para protagonizar a candidatura do CDS às próximas legislativas porque tem mandato “até ao final de Janeiro”.

Nuno Melo diz que está em causa “legalidade e decência”

Pouco depois do anúncio de Mesquita Nunes, foi a vez do próprio Nuno Melo reagir. O eurodeputado promete tomar posição pública “ao final da tarde” deste sábado e diz ter recebido “mensagens de militantes do CDS profundamente indignados com o simulacro de deliberação ontem (sexta-feira) promovido por um presidente do conselho nacional que tomou decisões premeditadamente ilegais (…) violando a decisão do tribunal do partido”.

“A direcção fugiu aos votos num congresso já marcado por saber que o perderia, apenas para se poder apresentar em eleições legislativas já fora de mandato”, critica Nuno Melo novamente em publicação feita no Facebook.

O pretendente a líder do CDS sustenta que “quem foge aos votos dos militantes, violando a lei, não merece o respeito do partido, nem a confiança dos eleitores” e garante que aquilo que “está em causa neste momento [é] a legalidade e a decência”.

E conclui com um apelo dirigido ao Presidente da República, que pelas 16h30 desta tarde recebe, em Belém, o líder do CDS para o ouvir sobre a crise política e a marcação de eleições antecipadas. Nuno Melo espera que Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto “garante do regular funcionamento das instituições democráticas”, tenha “noção do que aconteceu e releve suficientemente o golpe institucional” da última noite.

Texto actualizado às 14h00 com reacção de Nuno Melo

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