Nunca as nossas casas tiveram tanta influência no nosso bem-estar mental
Os portugueses foram obrigados a passar mais tempo em casa e perceberam que o espaço, que antes servia quase só para dormir, lhes influencia o bem-estar. Por isso, muitos, apesar de acusarem dificuldades financeiras, optaram por reorganizar o lar — que pretendem manter como um lugar de excelência.
A pandemia obrigou a maior parte das pessoas a passarem um tempo em casa que não era habitual. E, em termos globais, o Relatório da Vida em Casa 2021, desenvolvido pelo gigante do mobiliário Ikea, concluiu que quem se sentiu bem em casa verificou uma melhoria no seu bem-estar mental — isto apesar de o último ano, afectado pela pandemia de covid-19, ter tido um efeito negativo neste aspecto para 27% dos inquiridos.
A importância que a casa adquiriu nas vidas das pessoas é uma novidade, sobretudo se se olhar para “o estudo anterior que trazia uma conclusão diametralmente oposta”, aponta Ana Teresa Neta, da área de Design de Interiores da empresa sueca. Há um ano, o estudo verificou que “havia um grande número de pessoas mais confortável fora das quatro paredes, fora de sua casa — nas idas a restaurantes, ginásios, em todas as actividades que se realizavam fora de casa”.
“As pessoas tinham uma relação com a casa um bocadinho toca-e-foge, não havia intensidade emocional com a casa”, refere a responsável em conversa com o PÚBLICO, acrescentando que a pandemia também veio trazer a oportunidade de as pessoas conhecerem melhor a sua casa. “A pandemia veio obrigar-nos a confrontarmo-nos com algumas coisas que vínhamos a empurrar com a barriga”, o que explica que 64% das pessoas inquiridas tenham partilhado o facto de terem “reorganizado o espaço” — um dado que é transversal a praticamente todos os países. “No futuro as pessoas querem casas mais limpas, mais fáceis de manter”, de forma a terem tempo para outras actividades. E, no Japão, por exemplo, 88% dos inquiridos dizem que é importante que a casa os faça sentir satisfeitos e à vontade.
Já em Portugal, “a casa em teve um papel muito importante no bem-estar”, até pelo facto de terem passado a receber actividades que não estavam relacionadas com aquele espaço: “Passámos a ter escolas, ginásios, locais de trabalho, restaurantes…”
Todas estas necessidades acabaram por impulsionar negócios, como o do Ikea, que oferece mobiliário de escritório ou de exterior (“o espaço exterior foi extremamente valorizado, mesmo que se tratasse apenas de uma pequena varanda”), tendo sido relevante ainda o crescimento dos produtos relacionados com plantas e jardins, com muita gente a levar para casa um pouco da natureza que lhes foi vedada, ao mesmo tempo que a planta oferecia a oportunidade de cuidar, de ter uma rotina e ver algo a crescer.
Assim, a ideia de casa ideal mudou e, no caso português, nos últimos 12 meses, foi observado um crescimento de importância de determinados aspectos como estar situada perto de zonas verdes (43%), ter privacidade (40%), ser fácil de limpar (40%), ter um jardim privado (38%) e ser espaçosa (36%). Já o bem-estar mental em casa passa pela qualidade do tempo de descanso (59%), do sono (56%), tempo com companheiro (40%) e tempo sozinho (35%).
Nas relações, aliás, 43% pessoas que responderam ao inquérito — realizado online em 34 países a 34.387 pessoas, de 4 Junho a 28 Julho 2021, tendo sido aplicadas quotas de género, idade e regiões —, consideraram que o ambiente dentro do agregado familiar tinha melhorado nos últimos 12 meses, ao passo que as amizades foram negativamente afectadas para 28% dos inquiridos.
Já nas finanças, Portugal consegue a dianteira: 44% afirma ter sentido um impacte negativo nas suas finanças pessoais, o valor mais alto de todos os países do estudo, alínea que globalmente marcou 29%.
A casa no centro das vidas
Se o relatório anual do Ikea aponta para uma maior importância da casa nas vidas de todas as pessoas em todo o mundo, o estudo “Uma (nova) casa portuguesa, com certeza”, desenvolvido pela rede francesa Leroy Merlin, que comercializa materiais de construção, acabamento, decoração, jardinagem e bricolagem, com o olhar sobre o território nacional, conclui que isso não irá mudar tão cedo. “Para 92% dos portugueses a casa vai continuar a ser um espaço de excelência para a realização de actividades, como por exemplo, para trabalhar, praticar exercício físico, relaxar, brincar com os filhos e passar tempo com a família e amigos.”
De acordo com o mesmo estudo, que entrevistou 629 pessoas de todas as regiões em Abril deste ano, 85% dos portugueses afirmam ter passado a atribuir um papel diferente à sua casa: um papel maior, para 60%.
No entanto, apenas 45% dos portugueses sentem que a casa é um lugar onde conseguem conciliar a vida pessoal e profissional, sendo este equilíbrio mais fácil para os mais jovens.
A casa estará no centro das vidas dos portugueses, mas a maioria pretende fazer remodelações e ajustes nas suas habitações próprias: 60% dos portugueses pretendem actualizar a decoração do espaço para tornar a casa mais acolhedora e 54% consideram prioritário melhorar a eficiência energética. Quando? Pelo menos 46% dos portugueses prevêem fazer este investimento na casa num período de seis meses a um ano.