NATO recusa ideia de falta de consultas sobre retirada do Afeganistão em Agosto
Secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, disse em Lisboa que a decisão foi amplamente debatida e tomada em conjunto com pleno conhecimento dos riscos.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, recusou esta segunda-feira, em Lisboa, a ideia de que não houve consultas entre os aliados sobre a retirada do Afeganistão, em Agosto, a que se seguiu o regresso ao poder dos taliban.
“Dizer que não consultámos é factualmente errado. Consultámos e tomámos uma decisão difícil juntos, conhecendo os riscos”, disse Jens Stoltenberg ao responder a perguntas de deputados de vários países durante a 62.ª sessão anual da assembleia parlamentar da NATO.
Stoltenberg disse que a questão foi amplamente debatida em três reuniões ministeriais na primavera e em reuniões “quase semanais com embaixadores”.
Referiu que nas consultas, mas também em público, “foi claramente afirmado” que a saída das tropas aliadas do Afeganistão implicava o risco do regresso ao poder dos taliban e admitiu que a rapidez com que isso aconteceu é que foi uma surpresa.
“Os europeus não foram abandonados”, disse Stoltenberg, recordando que os esforços conjuntos dos aliados permitiram retirar milhares de pessoas de Cabul num curto espaço de tempo.
A retirada do Afeganistão, concluída em Agosto após 20 anos de presença internacional no país asiático, foi um dos temas mais em foco num longo período de perguntas de vários deputados ao secretário-geral da NATO na sessão plenária da assembleia parlamentar da aliança.
Já depois desse debate, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, criticou o “diálogo insuficiente” na saída “embaraçosa, para dizer o mínimo”, do Afeganistão e apelou para que a NATO e a União Europeia alinhem posições.
A tensão entre a China e Taiwan foi outro dos temas abordados pelos deputados, com Jens Stoltenberg a recordar que a NATO é uma aliança regional, entre a América do Norte e a Europa, mas que tem de lidar com ameaças globais.
Jens Stoltenberg recordou que a NATO é uma aliança regional, entre a América do Norte e a Europa, mas que tem de lidar com ameaças globais.
Nesse sentido, defendeu o aprofundamento do relacionamento entre a NATO e países do Indo-Pacífico, como a Austrália, o Japão ou a Coreia do Sul, tendo em conta a emergência da China a nível global.
“Não podemos deixar de lidar com o impacto na segurança da emergência da China (…). Não sou a favor da NATO se tornar uma aliança global, com membros de todo o mundo, mas, como aliança regional, temos de lidar com ameaças globais”, disse.
Stoltenberg foi também questionado sobre o recente acordo entre Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, conhecido por AUKUS, e voltou a dizer que reconhece o desapontamento da França, que tinha negociado um contrato para venda de submarinos ao país da Oceânia.
Disse, no entanto, que o AUKUS é um acordo entre dois aliados, Estados Unidos e Reino Unido, com um parceiro próximo, a Austrália, pelo que não é uma iniciativa contra a Europa ou a NATO.
“Este tipo de disputa não deve causar uma fenda na Aliança, nem minar a força da ligação transatlântica”, insistiu, lembrando que a NATO provou, ao longo de mais de sete décadas, ser capaz de ultrapassar as diferenças entre os seus 30 membros de ambos os lados do Atlântico.