Regressar às aulas e equilibrar a saúde mental
A investigação demonstra que a prevalência dos sintomas de ansiedade e de depressão aumentou com a pandemia, sobretudo nas crianças que tiveram menos apoio dos pais.
Passados quase dois anos de incerteza, de rotinas alteradas, afastamento dos colegas e muito isolamento profiláctico, é natural que este início de ano escolar, com aulas presenciais a tempo inteiro, seja marcado por insegurança tanto dos pais como dos filhos. A investigação demonstra que a prevalência dos sintomas de ansiedade e de depressão aumentou com a pandemia, sobretudo nas crianças que tiveram menos apoio dos pais.
O nosso cérebro só permite a aprendizagem quando está livre de preocupações e vê satisfeitas as nossas necessidades básicas e de segurança. Assim, para aquelas crianças e jovens que apresentam dificuldades relacionais, que sofrem de bullying, de ansiedade ou de dificuldades de aprendizagem, regressar à escola pode ser um grande desafio com reflexo no seu bem-estar emocional. Pequenos gestos de pais e professores podem ajudá-las a colmatar necessidades e a evitar ou reduzir a ansiedade.
Explicar aos mais novos o que vai acontecer e envolvê-los na aprendizagem
Antes de mais, pais, professores e educadores devem mostrar às crianças que a escola é um lugar seguro e que contribui para a sua saúde física e mental. Depois, será importante explicar, de forma simples e clara, quais são as regras relacionadas com a pandemia que se vão manter. As crianças gostam de saber com o que contam e isso gera segurança e promove o cumprimento das normas. Se a escola criar um ambiente de aprendizagem seguro e previsível e criar formas atractivas de manter a atenção das crianças, como por exemplo, o uso de variações no tom de voz ou de sinais visuais, mais facilmente conseguirá envolvê-las nas tarefas.
Conversar e escutar as crianças e os jovens
Promova um momento descontraído de conversa, mostre-se disponível para escutar e dê atenção aos receios dos seus filhos sem julgamento. Fale abertamente sobre sentimentos, dificuldades e medos esperados, procurando encontrar uma solução em conjunto que os ajude a lidar com o que os deixa inseguros. Exercícios de relaxamento e de respiração podem ser uma mais-valia. Um exemplo é a respiração 4x4: inspire contando até 4, prenda a respiração contando até 4 e expire pela boca contando até 4. Depois de iniciar as aulas, reserve tempo em família para actividades de lazer. Não é preciso nada complicado, dançar, andar de bicicleta, fazer um bolo ou bolachas, são actividades que podem ser feitas em família e que aproximam as pessoas.
Ajustar expectativas sobre a aprendizagem
Tornar as expectativas de todos mais flexíveis face à etapa que se aproxima pode contribuir para um processo de adaptação mais positivo. O estado emocional de cada pessoa condiciona o seu bem-estar geral e tanto pode expandir as suas capacidades como pode reduzi-las. Com a pandemia, a segurança física e emocional dos jovens e das crianças foi abalada e, em consequência, a sua capacidade de aprendizagem. Na verdade, ninguém consegue estar concentrado e pronto para aprender se estiver preocupado, com medo ou perante uma situação de instabilidade. Pais e professores devem transmitir segurança através de encorajamentos e elogios, mesmo de pequenas conquistas, e não valorizar só as notas altas, mas também o esforço e a vontade de colaborar e de aprender, motivando os alunos para conseguir.
Promover a interacção social
Tanto adultos como crianças encontram-se cansados da pandemia, sendo os dois últimos anos desafiadores do equilíbrio emocional de qualquer um. Embora ainda seja preciso manter alguns cuidados relacionados com a pandemia, se praticados com uma atitude tranquila, podem evitar ou reduzir a ansiedade e os receios de crianças e jovens. Crianças e jovens precisam e querem interagir umas com as outras e é possível fazê-lo em grupos mais pequenos, colmatando as necessidades básicas de pertença e facilitando a aprendizagem que também é interactiva e relacional.
Desenvolver o bem-estar e a aprendizagem através das competências sociais e emocionais
Tal como acontece com as competências cognitivas, as competências sociais e emocionais também afectam a capacidade da criança e do adolescente para aprender. As competências sociais e emocionais incluem a comunicação, a auto-regulação, o pensamento crítico, a resolução de problemas, o pensamento criativo e a adaptabilidade. A promoção destas competências pode ser feita por pais e professores através do encorajamento dos comportamentos positivos, da construção da confiança, da auto-estima, e da motivação para a aprendizagem, da expressão aberta de sentimentos, do estabelecimento de regras claras e de limites previsíveis, e da responsabilização crescente das crianças e jovens pelos seus comportamentos. No que toca às crianças e jovens, a aquisição destas competências terá reflexo na sua capacidade de pensamento, na identificação, expressão, aceitação e regulação das emoções, no saber estar em sociedade e na relação com os outros.