Longe de um balanço final, Haiti regista 1300 mortos no terramoto de sábado

Equipas de socorro ainda não conseguiram chegar às zonas mais remotas e o país está em alerta contra possíveis inundações e deslizamentos de terra provocados pela chegada da tempestade tropical Grace.

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Os trabalhos de busca e salvamento prosseguem em Les Cayes, a cidade mais afectada EPA/Ralph Tedy Erol

O terramoto de sábado no Haiti fez pelo menos 1297 mortos, segundo o balanço mais recente avançado pelas autoridades do país. Mas teme-se que o balanço final venha a ser muito mais trágico — os hospitais e centros de saúde que não ficaram danificados estão a trabalhar além da sua capacidade para socorrerem quase 6000 feridos, e as equipas de resgate ainda não conseguiram chegar às zonas de mais difícil acesso.

A agravar o quadro para as próximas horas está a aproximação da depressão tropical Grace, que deverá atingir o Haiti ainda esta segunda-feira. A queda de chuva pode provocar deslizamentos de terras, o que pode dificultar os esforços de salvamento e fazer aumentar o número de vítimas mortais.

“A situação é muito difícil”, disse Jerry Chandler, o chefe da Protecção Civil do Haiti, à agência Reuters. “Há instalações que estão disfuncionais, e as que funcionam estão a braços com um excesso de pacientes.”

Na cidade de Jeremie, no noroeste do Haiti, os médicos tratam dos feridos debaixo de árvores e em colchões à beira da estrada.

Sergundo Alix Percinthe, da organização ActionAid, as equipas de socorro ainda não conseguiram chegar às povoações mais remotas e não é possível contactar por telefone outras populações afectadas. Pelo menos 47 pessoas que morreram numa aldeia no sudoeste do Haiti não foram incluídas no balanço desta segunda-feira.​

O terramoto, de magnitude 7,2 na escala aberta de Richter, destruiu milhares de habitações e outros edifícios no Haiti, um país que ainda não recuperou totalmente do tremor de terra de 2010, que matou cerca de 200 mil pessoas, e que assistiu ao assassínio do seu Presidente, Jovenel Moïse​, há pouco mais de um mês.

O Governo do Haiti tinha anunciado a realização de eleições presidenciais o mais rapidamente possível, mas é provável que o terramoto de sábado adie por mais tempo a indefinição política no país.

As grandes dificuldades financeiras e económicas no Haiti também agravaram as lutas entre gangues, que controlam muitas das estradas por onde as equipas de socorro têm de passar. 

Em cima de todas estas dificuldades, o Haiti enfrenta também as consequências da pandemia de covid-19.

Ajuda internacional

Igrejas, hotéis, hospitais e escolas ficaram muito danificadas ou completamente destruídas, e pelo menos uma prisão desabou. Segundo as estimativas iniciais, 13.694 casas ficaram destruídas.

Em Les Cayes, no sudoeste do Haiti e a cidade mais afectada pelo sismo de sábado, as equipas de resgate continuam a tentar resgatar sobreviventes nos destroços dos edifícios.

A oferta de ajuda chegou de vários sítios, a começar pela vizinha República Dominicana e pelo México, que enviaram alimentos e medicamentos. A Colômbia e os Estados Unidos também responderam ao pedido de ajuda e enviaram equipas de busca e salvamento.

Mas as autoridades locais pediram às organizações internacionais que não montem acampamentos provisórios no país, numa aparente tentativa para evitar os erros cometidos na sequência do terramoto de 2010.

Nos anos seguintes, os planos de assistência internacional ficaram marcados por um escândalo de abusos sexuais na organização Oxfam International e por um surto de cólera ligado aos capacetes azuis da ONU.

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