Sobre a noite passada: Loki é um Loki é uma Loki. E vai ter segunda temporada

Um novo rosto entra na Marvel, que fez uma série sobre existencialismo, livre-arbítrio e... guiões para o seu plano diabólico de domínio do entretenimento-espectáculo. O que faz de um Loki um Loki? Ser mais uma ponte para novos filmes e séries.

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Loki foi a terceira série Marvel a estrear-se e é a primeira a obter confirmação oficial de que vai ter continuidade — a novidade vem nos créditos do fim do último episódio da primeira temporada, claro, ou não se tratasse de um produto Marvel entrelaçado com muitos outros consumíveis. Loki perguntou-se, durante seis episódios, o que faz de um Loki um Loki? Foi homem, mulher, criança, negro, branco, Presidente e até crocodilo. Foi mais um chamariz de muito público numa temporada de televisão atípica em todo o mundo, atrapalhada e inchada pela pandemia, em que o tempo parece passar a um ritmo novo. Loki é precisamente uma questão de tempo, mas também uma afirmação da lei da identidade, qual Gertrude Stein a falar de uma rosa.

Este artigo contém spoilers sobre o final de Loki

“Rosa é uma rosa é uma rosa”, escreveu a poeta, e Loki é um Loki mas também é uma Loki. Começou por perguntar “Se Loki não gostar de si, quem gostará?”, qual anúncio de leite português, e depois divertiu-se a explodir coisas e a confundir o vasto público que a seguiu (foi a mais vista das estreias de uma série Marvel na Disney+, segundo as audiências parciais da americana Nielsen — que só mede os episódios vistos num televisor, deixando de fora os telemóveis, tablets e computadores) com “linhas temporais”, “eventos nexus”, “guardiões do tempo”, com o “Vazio no fim do tempo” e, no episódio final, com o potencial vilão chamado “Ele Que Fica”.

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Sophia Di Martino MArvel

Tom Hiddleston ressuscitou a sua personagem dos filmes numa história televisiva sobre vários universos e tempos e o que acontece se se tenta mudar o curso da História. E acabou esta quarta-feira com medo de uma “Guerra Multiversal” — mas não há medo de mais um palavrão para o dicionário geek nem de deixar mais uma pista, tal como no final de WandaVision, para o próximo grande filme Marvel. No grande novelo da Marvel, está tudo ligado.

Brutalismo & ovos Fabergé

Esta semana, a Disney tem um filme Marvel na sua plataforma de streaming (o mesmo filme está nos cinemas) e completou a sua terceira série de super-heróis para o catálogo streaming. O Wall Street Journal fez as contas — com um cronómetro — para concluir que o filme Viúva Negra gasta de longe muito mais tempo em cenas de acção do que as séries Marvel e que Loki é a que menos pancadaria, perseguições e explosões contém.

Se WandaVision foi um passeio pela história das sitcom americanas, Loki foi uma visita à sala dos argumentistas das séries tendo como cicerone um Deus da Mentira e a ideia teológica de omnisciência. “É ficção”, diz Sylvie, ou Loki criado mulher (interpretada por Sophia Di Martino). “Escrevemos o nosso próprio destino”, completa Loki "versão Hiddleston”.

A série é totalmente realizada por Kate Herron que, como o autor Michael Waldron, debitou um chorrilho de influências para a série e que foram de David Fincher à trilogia “Antes do” de Richard Linklater. Mas o que mais influenciou Loki foi mesmo o facto de se ir ligar a Thor: Love and Thunder (em que Natalie Portman vai ser o deus do trovão) e Doctor Strange in the Multiverse of Madness, tudo parte da Fase Quatro da Marvel no seu plano diabólico de domínio do entretenimento-espectáculo.

No episódio final, discute-se o livre arbítrio — “só para a pessoa que manda”, diz-se — e o grande dilema: “ordem sufocante ou caos cataclísmico”? Quem manda é Ele Que Fica, ou Jonathan Majors no seu primeiro papel pop depois de Lovecraft Country, uma personagem que a certa altura mostra aos protagonistas que sabe tudo o que lhe vão dizer. É como um guião: frase dele, frase dela, páginas e páginas de vida. É, como disse Waldron ao site Marvel.com, “um sociopata muito carismático” que avisa que se ele cair, outras versões piores dele virão. Para a Fase Quatro, supõe-se. Majors entra no mundo Marvel pela porta televisiva mas fica em aberto que outras se abrirão.

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Loki é uma série existencialista que oscilou entre o visual retro-burocrático inspirado no brutalismo e modernismo soviéticos, com uns toques de Ovos Fabergé, e o design de produção de psicadelismo cósmico a que os filmes do Universo Cinemático da Marvel já habituaram os espectadores que lhe deram a ganhar 18,5 mil milhões de euros de receitas de bilheteira nos últimos 13 anos. Gerou o que já é habitual — teorias, garimpo dos comics — e o que não é garantido mas tem resultado para a Marvel na sua vida streaming: elogios da crítica. Esta semana as suas antecessoras WandaVision e O Falcão e o Soldado do Inverno conseguiram 28 nomeações para os Emmys (e não só nas chamadas categorias técnicas).

No futuro, que ainda não se sabe quando é, haverá uma segunda temporada de Loki. Os próximos filmes Marvel são Shang Chi and the Legend of the Ten Rings (3 de Setembro), Eternals (5 de Novembro) Doctor Strange in the Multiverse of Madness (25 de Março de 2022) e Thor: Love and Thunder (6 de Maio de 2022).

Notícia corrigida: acrescenta-se um filme aos produtos Marvel iminentes

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