Bolsonaro alega ignorância para justificar suspeitas de corrupção na compra de vacinas
O Presidente foi alertado para irregularidades na negociação para a aquisição de vacinas indianas e nada fez. Senadores pedem abertura de investigação pela Procuradoria-Geral da República.
O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse não ser capaz de saber tudo o que se passa nos ministérios do seu Governo a propósito do caso de suspeita de irregularidades num contrato para a compra de vacinas.
Nos últimos dias, Bolsonaro tem visto o seu nome cada vez mais envolvido num aparente escândalo de corrupção no âmbito da aquisição de 20 milhões de vacinas contra a covid-19. O Ministério da Saúde brasileiro fechou um acordo, intermediado por uma empresa nacional, para adquirir 20 milhões de doses da Covaxin, a vacina desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech a um preço dez vezes mais elevado do que o que estava inicialmente negociado.
O caso tornou-se central na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aberta pelo Senado para avaliar a resposta governamental à pandemia. Na sexta-feira, o deputado federal Luís Miranda e o seu irmão, Luís Ricardo Miranda, que é funcionário do Ministério da Saúde, foram ouvidos pelos senadores e contaram ter alertado em Março o Presidente para a existência de suspeitas de irregularidades nos contratos.
O conhecimento prévio por Bolsonaro de aparentes sinais de ilegalidade no contrato de compra das vacinas – e a sua inacção – levaram um dos senadores da CPI a pedir a abertura de um inquérito pela Procuradoria-Geral da República para investigar se o Presidente cometeu algum crime.
Bolsonaro tem tentado retirar importância ao caso. “Não tenho como saber o que acontece nos ministérios, vou na confiança em cima de ministro, e nada fizemos de errado”, afirmou o Presidente esta segunda-feira em declarações à imprensa. O chefe de Estado reconhece ter recebido a visita dos irmãos Miranda, mas não adiantou se foi avisado para alguma irregularidade nas negociações: “Aqui vem tudo quanto é tipo de gente.”
Os irmãos Miranda também implicaram directamente o líder da bancada parlamentar do Governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros, no caso, dizendo ter sido por causa dele que Bolsonaro nada fez para apurar o que se passava com a compra da Covaxin. O deputado negou qualquer envolvimento no negócio.
As revelações surgem num momento delicado para Bolsonaro e podem acelerar ainda mais a erosão da sua popularidade. Nos últimos estudos de opinião, o Presidente tem aparecido com uma taxa de aprovação abaixo dos 30%, com uma maioria dos brasileiros a responsabilizá-lo pela crise sanitária que já deixou mais de 500 mil mortos.
As sondagens também mostram um favoritismo cada vez mais acentuado do ex-Presidente Lula da Silva para as eleições presidenciais de 2022, à custa do enfraquecimento político do actual Presidente.
Bolsonaro também tem enfrentado uma crescente contestação nas ruas, embora continue a participar em acções de apoio quase todos os fins-de-semana. Na quarta-feira, vários partidos e organizações da sociedade civil vão apresentar um pedido de “super-impeachment” contra o Presidente, na esperança de que o seu envolvimento num aparente caso de corrupção possa forçar o Congresso a agir.