O Porto quer ser cenário de filmes e criou uma nova comissão para o afirmar
Filmaporto vai lançar bolsas de apoio à produção audiovisual e agilizar as condições de rodagem.
A cidade do Porto transformada em cenário londrino para acolher uma história passada na segunda metade do século XIX – a de um burlão de origem portuguesa que inspirou Arthur Conan Doyle, e ao qual o inventor de Sherlock Holmes chamou mesmo “o pior homem de Londres”. Esta é uma possibilidade de trabalho que, no próximo ano, poderá já passar pela plataforma Filmaporto – Film Commission, apresentada esta terça-feira no Cinema Trindade.
O projecto atrás citado, que assumiu o título O Pior Homem de Londres, tem como realizador Rodrigo Areias, com produção da Leopardo Filmes de Paulo Branco, e argumento de Eduardo Brito. A personagem em causa é Charles Augustus Howell (1840-1890), um mestre chantagista e falsificador de obras de arte nascido no Porto, filho de pai inglês e mãe portuguesa, e depois radicado em Londres, onde desenvolveria as suas artes… que Conan Doyle viria a ficcionar em Sherlock Holmes e As Aventuras de Charles Augustus Milverton.
O projecto de Rodrigo Areias é apenas um dos múltiplos “cenários” que a nova Filmaporto tem no seu horizonte, ampliado agora com a criação desta plataforma associada ao Departamento de Cinema e Imagem em Movimento da empresa municipal Ágora.
Numa apresentação bastante concorrida por gente do sector, e que teve por cenário um dos cinemas históricos da Baixa, o presidente da Câmara, Rui Moreira começou por lembrar que “o Porto é a cidade do cinema e das imagens em movimento”, um património que “precisa de ser cuidado constantemente”, o que passa pelo “apoio à produção contemporânea”.
Frente a um ecrã que lembrava, evocando o pioneiro Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931), que o cinema tem vindo a “filmar o Porto desde 1896”, Guilherme Blanc, responsável por aquele departamento da Ágora, situou a criação da Filmaporto na continuidade do trabalho da anterior Film Commission da cidade, em ligação estreita com a Portugal Film Commission e o Turismo de Portugal, sublinhando que o Porto usufrui actualmente de “um tecido em renovação” na área do cinema e do audiovisual, a que o novo Cinema Batalha irá dar acolhimento, a partir de 2022.
Em termos práticos, a Filmaporto está agora a criar um site que acolherá também um directório destinado a centralizar informação e a apoiar oportunidades de produção cinematográfica, aproveitando os décors e a massa crítica da cidade. Outra medida imediata será o lançamento de um concurso para a atribuição das Bolsas Neves & Pascaud – uma referência à histórica empresa de exibição cinematográfica que esteve na origem de salas como o Trindade e o Batalha –, de apoio à produção. Anualmente, a Filmaporto – Film Commission irá atribuir cinco bolsas no valor de 20 mil euros cada, destinadas a produções de diferentes géneros e durações, que serão decididas por um júri externo à comissão.
Tanto o lançamento das bolsas como a abertura do site ao público estão agora apenas dependentes da respectiva aprovação em reunião de câmara, onde serão votadas na próxima segunda-feira, dia 28 – com o objectivo programático de “promover a empregabilidade e a contratação de técnicos e empresas ligadas ao sector audiovisual da cidade”, diz o comunicado da Ágora.
À frente da Filmaporto – Film Commission vai ficar Luís Araújo, produtor, argumentista e realizador formado na Escola de Artes da Universidade Católica/Porto. Coube-lhe fazer, no Trindade, a apresentação do site da nova comissão, exemplificando a navegação que todos os interessados vão poder nele fazer a partir da próxima semana, e também prometer uma agilização dos processos e da burocracia. A diminuição de 22 para sete dias do prazo do licenciamento autárquico para fazer chegar os lugares do Porto aos pequenos e grandes ecrãs de todo o mundo foi uma das medidas que anunciou.