Impostos sobre o plástico poderão ser solução para desacelerar a moda que prejudica o ambiente
Governo do Reino Unido deve criar impostos sobre o plástico se quer travar a moda rápida “que está a alimentar as alterações climáticas e a poluição desenfreadas”, considerou um grupo de reflexão.
Metade dos artigos da moda rápida (fast fashion) vendidos por marcas online populares britânicas é feita inteiramente de plásticos não reciclados como o poliéster, revelou um grupo de reflexão, na sexta-feira, que exortou o Governo britânico a criar um imposto sobre este tipo de vestuário.
A Royal Society of Arts, Manufactures and Commerce (RSA), que trabalha para encontrar soluções para os desafios sociais, explicou que a maioria da roupa produzida contém tecidos sintéticos como o nylon, acrílico e elastano, que são fabricados com combustíveis fósseis e prejudicam o ambiente através de emissões e resíduos. “Estes tecidos fazem parte de uma economia petroquímica que está a alimentar as desenfreadas alterações climáticas e a poluição”, sublinhou Josie Warden, chefe de design regenerativo da RSA e co-autora do relatório Fast Fashion’s Plastic Problem (à letra, o problema da moda rápida com o plástico). Além disso, a cultura descartável da Grã-Bretanha faz com que a maior parte dos artigos provindos desta produção acabe em aterros onde poderão levar milhares de anos a desaparecer, frisou a organização.
Publicado antes da Semana da Moda de Londres, com início este sábado, o relatório destaca que as empresas de moda rápida são demasiado lentas a adoptar materiais reciclados. Apenas 1% do vestuário no site da Pretty Little Thing continha materiais reciclados, 2% na Boohoo, 4% na Asos e 5% na Missguided, de acordo com a análise da RSA, que envolveu dez mil artigos recentemente listados pelas marcas. Mais: as empresas de moda rápida foram acusadas de “lavagem verde” das suas imagens, produzindo pequenas gamas sustentáveis, enquanto a maioria dos seus artigos é fabricada a partir de produtos petroquímicos, cuja utilização deve ser restringida com o intuito de combater as alterações climáticas.
A Asos respondeu ao estudo, afirmando que que não era uma marca de moda rápida e que concebia roupas para durar, apostando na educação dos clientes sobre como prolongar a vida útil das peças de vestuário. Outras empresas ainda não reagiram. Contudo, o relatório constatou que 65% da mercadoria no site da marca continha plásticos novos. O mesmo acontecia, ainda em maiores quantidades, noutras como Pretty Little Thing (89%), Boohoo e Missguided (84%). No total, 49% das peças de roupa eram inteiramente feitas de plástico novo.
Com a utilização de fibras sintéticas na moda a duplicar entre 2000 e 2020, o grupo de reflexão sublinhou que a Grã-Bretanha — que acolhe a cimeira global sobre o clima COP26 em Novembro deste ano — deve tomar medidas para criar um sistema de moda mais sustentável. “O enorme volume de vestuário produzido por estes sites é chocante. Devemos ver muitos destes artigos, que têm preços baixíssimos, como outros plásticos de curta duração”, informou Warden. “A natureza das tendências da moda rápida significa que não são concebidas para terem uma vida longa nos nossos roupeiros”, concluiu.
Assim, as receitas de um imposto sobre o vestuário que contém plásticos virgens poderiam depois ser investidas na criação de novos materiais, na reciclagem e no fomento de uma produção mais sustentável, de acordo com a sugestão da RSA.
A organização britânica exortou ainda a que as marcas publicassem regularmente estatísticas sobre a quantidade de plástico que entra no seu vestuário e que explorassem formas de promover a roupa em segunda mão, destacando que a maioria dos consumidores desconhece a escala da utilização de plástico no mundo da moda rápida.