Portugueses doam as suas roupas, mas não compram em segunda mão

O desejo de adquirir as últimas novidades e a facilidade em comprar novos artigos vencem na altura de escolher entre roupa nova e em segunda mão, revela um novo estudo.

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58% dos inquiridos admitiram terem roupa que nunca vestiram UNSPLASH/BECCA MCHAFFIE

A indústria da moda é notória pelo seu impacto no planeta, devido aos elevados níveis de poluição que gera. Por esse motivo, um novo estudo foi realizado com o intuito de apurar o papel dos portugueses no ciclo de vida das suas roupas. Os resultados são claros: apesar de a maioria doar as peças que usa quando estas já não servem, ainda não existe a tendência de comprar vestuário em segunda mão em Portugal, o que contribui para a contínua produção em massa que tem vindo a marcar cada vez mais acentuadamente o mundo da moda.

De acordo com os dados recolhidos, através de um inquérito concebido pela fabricante de etiquetas My Nametags e executado pela especialista em estudos de mercado online Markup, que auscultou 1041 pessoas, a maioria da população portuguesa tem bons hábitos no que respeita à transferência das suas roupas para outros que delas precisem quando estas já não lhes servem.

Assim, 52% doam as suas peças a instituições de beneficência ou entregam-nas em lojas de segunda mão, enquanto 45% oferecem-nas a familiares ou amigos. Dos inquiridos, apenas 6,72% não participam em qualquer iniciativa similar, deitando simplesmente a sua roupa fora quando decide não voltar a usá-la.

Roupa em segunda mão, caso de insucesso

Apesar da facilidade com que o vestuário é passado para outros, o mesmo não se pode dizer da compra de peças que já foram usadas. Aqui, a tendência é inversa. Quase metade dos portugueses (46%) nunca comprou uma peça de roupa em segunda mão para si mesmo, e 68% para os filhos (de um total de 85% com descendentes). Entre as razões apresentadas, o desejo de adquirir as últimas novidades do mundo da moda (30%) e a facilidade em comprar novos artigos (25%) foram as mais citadas.

Quanto aos produtos, os sapatos (28%) e as calças ou saias (27%) são os que são mais frequentemente substituídos. Talvez a excepção surja na roupa das crianças, que dura usualmente um ano lectivo, sendo que 48% dos pais compram logo à partida peças de números acima para assegurar a maior longevidade das mesmas.

É ainda de destacar o facto de, apesar de a tendência ser a de adquirir novas peças, 58% dos inquiridos possuem roupa que nunca vestiram. Dos diminuídos 8% que optam por fazer compras em lojas de segunda mão, os principais motivos elencados são a poupança de dinheiro (34%) e a sustentabilidade (19%).

De acordo com um estudo recente do Parlamento Europeu, o vestuário, o calçado e os têxteis para uso doméstico contribuem para a poluição da água, para o aumento das emissões de gases com efeito de estufa e o aumento dos aterros.

No que respeita à poluição da água, estima-se que a produção têxtil contribua para 20% de toda a contaminação de água potável a nível global devido ao processo de tingimento e acabamento dos produtos. Já no que diz respeito à emissão de gases com efeito de estufa, a indústria da moda é, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente,​ responsável por cerca de 10% das emissões de carbono a nível mundial — mais do que os voos internacionais e o transporte marítimo combinados. Por fim, menos de 1% do vestuário é reciclado mundialmente, com a maioria (87%) do que é adquirido na União Europeia a ser incinerado ou depositado em aterros, sendo a própria inexistência de tecnologias adequadas um dos motivos.

Texto editado por Carla B. Ribeiro

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