Influencers franceses aliciados a passarem informação falsa sobre vacina da Pfizer
Os influencers foram instruídos para fazerem parecer que estavam a dar conselhos aos seus seguidores. Nas suas publicações deveriam transmitir o perigo da vacina e criticar os órgãos de comunicação e governos.
Nos últimos dias, diversos influencers franceses ligados à área da saúde e da ciência têm vindo a público relatar que foram contactados para transmitir informações falsas sobre a vacina da Pfizer, em troca de dinheiro.
“Esta manhã [20 de Maio] recebi um pedido de parceria que me chocou seriamente, sou obrigado a partilhá-lo convosco”, começa por escrever no Twitter Sami Ouladitto, conhecido pelo seu canal de YouTube homónimo, que conta com mais de 400 mil subscritores. “Uma agência contactou-me para compartilhar, em troca de pagamento, artigos que desacreditassem a vacina Pfizer, e para falar sobre sua taxa de mortalidade”, acrescentou.
Une agence m’a contacté pour partager, en échange de rémunération, des articles qui décrédibilisent le vaccin pfizer, et de parler de son taux de mortalité. 2/4
— Sami Ouladitto (@SamiOuladitto) May 20, 2021
Léo Grasset, fundador do canal de YouTube DirtyBiology, seguido por mais de um milhão, relatou uma história similar quatro dias mais tarde, a 24 de Maio, na mesma rede social. “Orçamento colossal, o cliente quer permanecer incógnito e o patrocínio tem de ser ocultado”, divulgou. Juntamente com o texto, Grasset expôs capturas de ecrã da mensagem que recebeu. Nestas pode-se ler “não uses as palavras ‘publicidade’, ‘vídeo patrocinado’, etc. nos teus posts, histórias e vídeos! Eles devem parecer um conselho para a audiência”. “Apresenta o material nativamente. Age como se tivesses a paixão e o interesse neste tópico. Apresenta o material como a tua própria perspectiva independente”, continuava o texto.
C'est étrange.
— Léo Grasset (@dirtybiology) May 24, 2021
J'ai reçu une proposition de partenariat qui consiste à déglinguer le vaccin Pfizer en vidéo. Budget colossal, client qui veut rester incognito et il faut cacher la sponso.
Éthique/20. Si vous voyez des vidéos là dessus vous saurez que c'est une opé, du coup. pic.twitter.com/sl3ur9QuSu
As conclusões que se deveriam retirar das publicações em torno do tema eram também desde logo fornecidas. A primeira, sobre o perigo desta vacina em comparação com outras: “Elabora a conclusão principal: a taxa de mortalidade entre os vacinados pela Pfizer é quase três vezes maior do que entre os vacinados pela AstraZeneca.” Depois, um ataque aos órgãos de comunicação social: “Diz que os principais meios de comunicação ignoram este tema e tu decidiste partilhá-lo com o teu subscritor”. E, por fim, aos governos dos países: “Coloca uma questão como ‘porque é que alguns governos compram activamente a vacina Pfizer, que é perigosa para a saúde das pessoas?’”.
A agência em questão, a Fazze, supostamente sediada no Reino Unido, foi rapidamente associada à Rússia. Além dos erros presentes nas construções frásicas, suscitando a dúvida sobre o real país de origem do autor das mensagens, também a morada fornecida não correspondia à empresa em questão. Como explica Grasset, “o endereço da agência londrina que me contactou é falso. Nunca tiveram lá quaisquer escritórios, é um centro estético! Todos os funcionários têm perfis de LinkedIn estranhos... que desapareceram esta manhã. Todos trabalharam na Rússia antes”.
Incroyable.
— Léo Grasset (@dirtybiology) May 24, 2021
L'adresse de l'agence londonienne qui m'a contacté est bidon. Ils n'ont jamais eu de locaux là bas, c'est un centre laser esthétique ! Tous les employés ont des profils LinkedIn chelous... qui disparaissent depuis ce matin. Tout le monde a bossé en Russie avant.
WTF pic.twitter.com/RKiEpYoMgV
O acontecimento surge depois da publicação de um relatório da União Europeia, a 28 de Abril, que expôs uma tentativa sistemática, por parte dos meios de comunicação russos e chineses, de espalhar desinformação com o objectivo de fomentar desconfiança em relação às vacinas contra a covid-19 desenvolvidas pelo Ocidente. A vacina da Pfizer é, actualmente, a mais administrada entre a população francesa (tal como em Portugal).
Ao canal de notícias francês BFMTV, o ministro da saúde, Olivier Véran, reagiu, terça-feira, ao sucedido: “Não sei de onde isto [oferta de parceria] vem, da França ou do estrangeiro. É patético, é perigoso, é irresponsável e não funciona”. Quanto aos influencers, deixaram uma mensagem final clara ao seu público: tenham cuidado com aquilo em que acreditam, independentemente da fama de quem o diz.
Texto editado por Carla B. Ribeiro