Estrela de F9 John Cena chama Taiwan de país e pede desculpa à China

“Cometi um erro. Lamento muito, muito este erro. Amo e respeito a China e o povo chinês”, lamentou o actor norte-americano. As reacções ao sucedido não foram favoráveis.

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Cena, de 44 anos, disse numa entrevista que Taiwan seria o primeiro país a ver Fast & Furious 9 REUTERS/Mario Anzuoni

O campeão da WWE e actor norte-americano John Cena pediu desculpa aos fãs chineses, na terça-feira, depois de ter chamado Taiwan de país durante uma entrevista para promover o seu mais recente filme.

Ao falar com a TVBS taiwanesa no início deste mês, Cena, de 44 anos, disse que Taiwan seria o primeiro país a ver Fast & Furious 9. Problema: a China considera Taiwan como uma província sua, uma asserção que a maioria das pessoas na autodeterminada e democrática ilha rejeita, mas que é reconhecida pela maioria da comunidade internacional.

“Cometi um erro. Lamento muito, muito este erro”, disse o actor em mandarim num vídeo que publicou na sua conta em Weibo, uma plataforma de microblogging popular na China semelhante ao Twitter. “Amo e respeito a China e o povo chinês”, acrescentou. Quando questionado sobre a polémica, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan recusou-se a comentar o sucedido.

O wrestler junta-se, assim, a uma longa lista de celebridades internacionais que tem motivado a ira de um público chinês devido aos comentários sobre Taiwan, Hong Kong ou Xinjiang. Também as companhias aéreas e hoteleiras têm estado debaixo de fogo, tendo várias pedido desculpa à China nos últimos anos por terem incluído Taiwan como país nos seus sites de reservas na Internet.

Ainda assim, o arrependimento da estrela norte-americana não foi suficiente para muitos internautas da China continental. E também não correu bem nos Estados Unidos. “Alguém pode ajudar John Cena a localizar a sua coluna vertebral, por favor?”, escreveu Matt Karolian, gestor do site de notícias Boston.com, no Twitter. Até o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos Mike Pompeo participou na conversa. “Na sua reverência ao Partido Comunista Chinês... Não o vejo”, foram as palavras publicadas pela figura política no Twitter. As relações entre os Estados Unidos e a China entraram em declínio sob Pompeo, durante a presidência do republicano Donald Trump.

Já para o senador norte-americano Tom Cotton o pedido de desculpas foi “patético”, como descreveu numa publicação no Twitter. E a resposta do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijian, não tardou. Numa conferência de imprensa em Pequim, esta quarta-feira,​ Lijian considerou que as críticas ao actor nos Estados Unidos não faziam sentido, acrescentando que as observações de Tom Cotton foram “tal qual papel usado”.

Fast & Furious tem sido, no entanto, um sucesso de bilheteira na China continental desde a sua estreia, a 21 de Maio. No último fim-de-semana, a China foi responsável por 135 milhões de dólares (cerca de 110 milhões de euros, ao câmbio actual) dos 162 milhões de dólares (quase 132,4 milhões de euros) de receitas do filme, de acordo com a revista americana de entretenimento Variety.

Formalmente, Taiwan chama-se República da China. Nasceu em 1949, da derrota na guerra civil contra os comunistas de Mao Tsetung​, fundador da gigante República Popular da China. Pequim considera Taiwan uma província sua e mantém a ameaça de ataque militar caso Taiwan declare a independência.

Actualmente, somente o Vaticano e outros 14 Estados-membros da ONU têm relações diplomáticas plenas com Taiwan. Países como Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Palau, ilhas Marshall, Tuvalu fazem parte desta lista. No entanto, nem Portugal nem nenhum país europeu reconhecem a soberania do território.

Ainda no ano passado, a propósito da pandemia e da eficácia observada em Taiwan, voltou a ser questionada a ausência de Taipé de outro importante organismo: a Organização Mundial da Saúde (OMS). Com um governo próprio desde os anos 1940, enquanto não pôs em causa a sua pertença à China, Taiwan fez parte, como observador, da OMS. Mas isso mudou com a presidência de Tsai Ing-wen, reeleita há um ano, que tem uma posição pró-independentista liminarmente recusada por Pequim.

Resultado: a OMS diz que precisa da aprovação de todos os seus 194 membros para enviar um convite, e a China opõe-se. Tudo porque Taipé se recusa cumprir a condição imposta por Pequim: reconhecer que é parte da China.