Wang Miao passa mais de dez horas por dia online: por razões profissionais, mas também para ouvir música ou ver filmes. E como 300 milhões de compatriotas, incluindo a maioria dos seus amigos, tem um microblogue. “Falo de coisas pessoais, coloco fotografias divertidas e comento alguns problemas sociais”, disse Wang Miao sobre a sua actividade no Sina Weibo, o Twitter chinês.
Engenheiro informático, de 32 anos, Wang Miao trabalha numa companhia chinesa de "software" em Ningbo, um próspero município de 7,5 milhões de habitantes, na costa leste do país. Um dos “problemas sociais” que o interessou, há cerca de um mês, foi a projectada construção de uma grande petroquímica em Ningbo. “Os media local bloquearam a informação”, mas após vários dias de protestos, o governo municipal anunciou a suspensão do projecto, orçado em 55,8 mil milhões de yuan (6,92 mil milhões de euros).
A “conversa” foi feita via “qq”, o messenger chinês, onde Wang Miao tem como cartão-de-visita uma frase em inglês: “I’m lost, cast off, unloved, unwanted” (“Estou perdido, abandonado, não-amado, não-desejado”). Através do Sina Weibo, onde há dois anos criou um microblogue, Wang Miao sente, pelo contrário, que “os amigos estão por perto”. Um deles vive na Austrália, mas no ciberespaço as distâncias não se medem da mesma maneira. Wang Miao tem 87 “Fen si” (fans ou seguidores) e segue 39 microblogues: não será pouco para quem está “perdido”, mas, à escala da China, é insignificante. O mais popular, o da actriz Yao Chen, tem cerca de 26 milhões de seguidores.
Lançado no Verão de 2009, o Sina Weibo tornou-se “um campo de batalha para a opinião pública e um pesadelo para alguns funcionários”, afirma Michael Anti, pseudónimo literário do ensaísta e bloguer Zhao Jing. “Apesar da censura, Sina Weibo proporcionou a trezentos milhões de chineses uma oportunidade real para falarem todos os dias uns com os outros. De facto, é a primeira vez que há uma verdadeira esfera pública na China”, diz Michael Anti num artigo publicado este mês pelo European Council on Foreign Relations (“China 3.0”). Wang Miao concorda: “Sim, acho que o Weibo é o espaço mais livre da China”.
A reacção ao acidente ferroviário de Wenzhou, que matou 40 pessoas, no Verão de 2011, e cujas causas as autoridades tentaram encobrir, é considerada um marco na afirmação do poder do Weibo e das redes sociais em geral. “Nos primeiros cinco dias após o descarrilamento, dez milhões de pessoas colocaram na Internet mensagens criticando o governo — algo que nunca tinha acontecido na China”, realçou Michael Anti.
Segundo estatísticas oficiais, o número de utilizadores da Internet na China atingiu os 538 milhões em Junho passado, aumentando em média mais de quatro milhões por mês. A suspensão da construção da petroquímica de Ningbo foi decidida “tendo em conta o respeito pela opinião pública”, disse um porta-voz do serviço de imprensa daquele município.
Facebook e YouTube continuam bloqueados, mas entretanto surgiram as respectivas réplicas chinesas, Renren e Youku, que, juntamente com o Sina Weibo, formam a chamada “Chinanet”. “A abordagem chinesa à Internet é simples: ‘bloquear e clonar’. É o que eu chamo ‘censura inteligente’”, afirma Michael Anti.
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