Cancro: a investigação clínica é uma oportunidade agarrada pela Comissão Europeia?
De 25 a 31 de maio, assinala-se a Semana Europeia Contra o Cancro, doença que, anualmente, é diagnoticada a 3,5 milhões de pessoas na União Europeia.
Os factos são iniludíveis: todos os anos, 3,5 milhões de pessoas na União Europeia são diagnosticadas com cancro e 1,3 milhões morrem desta doença. Se não houver uma inversão da tendência atual, o Cancro será a principal causa de morte na União Europeia.
Naturalmente, a Comissão Europeia adotou a luta contra o cancro como uma prioridade para as políticas de saúde, concretizando-se num plano adoptado pela Comissão Europeia em Fevereiro de 2021.
Um aliado importante para o sucesso deste programa será o aumento do conhecimento da doença e da capacidade de intervenção terapêutica através dos ensaios clínicos. Estes são uma das principais fontes de conhecimento sobre o comportamento da doença oncológica face a diversas intervenções de combate ao cancro. Os ensaios clínicos são mais do que o processo cientificamente reconhecido para aprovação de novos medicamentos, apesar de este ser o principal motor económico desta atividade.
Portugal e as suas instituições de saúde, públicas e privadas, têm condições atrativas para serem sede de ensaios clínicos na oncologia: possuem uma boa prática médica, na grande maioria dos centros de tratamento, com uma boa formação dos agentes de saúde, que, frequentemente, estão motivados para serem parte contribuinte da descoberta e do avanço médico.
O Plano Europeu de Combate ao Cancro é uma grande oportunidade para a profissionalização das estruturas de apoio aos ensaios clínicos em Portugal, não só para os oncológicos.
Participar num ensaio clínico significa cumprir com rigor um conjunto de práticas médicas (algumas muito específicas para o estudo em questão) que garantem a maior segurança para o doente e a recolha de informação crítica para a análise científica através de testes laboratoriais, análises de imagens, entre outros. Este processo de recolha tem de ser reportado em ficheiros clínicos eletrónicos num prazo de tempo relativamente curto e que são analisados online a nível central. Isto é, os centros que participam num ensaio clínico em Portugal estão a ser comparados na sua performance, ao momento, com centros de ensaios noutros países da União Europeia, ou nos Estados Unidos da América, por exemplo. É muito competitivo e exige, portanto, treino médico, de enfermagem, de coordenadores de estudo, entre outros. É preciso montar uma equipa capaz.
A oncologia representa uma das áreas com o maior número de ensaios clínicos em Portugal. Tenderá a crescer em número se apostar na qualidade e, para tanto, devem ser promovidas as estruturas necessárias para a condução de ensaios clínicos. Tal estrutura tem sido uma forte aposta da CUF Oncologia que só no ano passado realizou mais de 30 ensaios clínicos na área do cancro — em particular na área do cancro da mama e do cancro do pulmão.
Participar num ensaio clínico pode ser uma oportunidade relevante para um doente com cancro, pelo potencial benefício terapêutico. Saliento também que, o conhecimento que resulta de uma descoberta tem impacto também no futuro de outros doentes, mesmo que não tenham participado em ensaios clínicos. Algo que é referido pelos economistas como externalidades, representa um motor importante no aperfeiçoamento da medicina, não só porque a comprovação médica de uma descoberta científica promove outras descobertas, mas também porque, a descoberta em si modifica a prática habitual, tornando-a mais completa pela informação acrescida que passou a ser standard: trata-se melhor, diagnostica-se com mais detalhe, temos melhor informação prognóstica, entre outras.
As perguntas a responder são muitas para esta doença tão complexa e, por vezes, imprevisível. Tratar e ao mesmo tempo aumentar o conhecimento sobre a doença e o doente é um exercício importante para sermos mais eficazes.
O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990