Entre os vários efeitos da pandemia, o incremento do tempo que permanecemos em casa foi um dos mais evidentes. Há mais de um ano que a casa se tornou o escritório e a escola de muitos portugueses, assim como foi o espaço onde as famílias se divertiram ou criaram novas rotinas como cozinhar. “A casa é o nosso reflexo. Numa casa pode ver-se e sentir-se o que estamos a viver. É como se a casa contasse uma história, a nossa história”, avalia Anne-Sophie Tellier, formada em design de interiores, certificada em feng shui, a arte chinesa de harmonizar os espaços, e criadora do projecto SLO Feng Shui, em Lisboa, que permite ajudar os clientes, incluindo arquitectos, a avaliar os espaços em que habitam à luz desta filosofia oriental.
Devido à ansiedade em torno da pandemia, “houve muitas pessoas que viveram um pouco em desequilíbrio – ou tinham a casa completamente limpa e quase imaculada, [o que significa que] a casa não era vivida; ou tinham a casa exactamente ao contrário”, constatou Vanda Boavida, autora do livro Casa com Alma e também uma especialista em feng shui. Mas, a necessidade de organizar o espaço deveu-se, em alguns casos, ao facto de as pessoas passarem mais tempo em casa, constata Susete Lourenço, consultora em organização e autora do livro Casa Organizada, Vida Feliz. “Há pessoas que perceberam que a casa era demasiado pequena, ou começaram a valorizar o facto de terem uma janela maior, ou mais luz, ou uma varanda... Houve até pessoas que começaram a procurar casas, a procurar outro tipo de espaço que fizesse mais sentido nas suas vidas”, refere.
Mas, para aqueles que não têm a oportunidade de mudar para casas mais espaçosas; ou para os que a arrumação e organização é um problema, há algumas práticas que podem ajudar a viver melhor as suas casas.
Manter uma rotina diária
O truque é juntar o cuidar da casa à rotina. “O melhor método é fazer pouco mas, se possível, todos os dias”, explica Vanda Boavida. Assim, recomenda que a família dedique 20 a 30 minutos diários à arrumação e, de preferência, de manhã, para que possa beneficiar do trabalho feito durante o resto do dia. Desta forma, as tarefas podem ser divididas e os membros da família não se sentem desmotivados.
Criar um ambiente agradável
Qualquer obrigação torna-se mais fácil de realizar com alguma diversão à mistura. Deste modo, Susete Lourenço recomenda ouvir uma música de que se goste no momento da arrumação. “Eu insisto muito com os meus clientes [para que o façam], dá aquela ‘pica’, aquela energia”, justifca. Depois, aconselha também o uso de “uma roupa confortável, com uma cor de que se goste, bonita, que inspire”. Vanda Boavida é apologista da mesma filosofia, destacando a importância de pequenos apontamentos de cor na decoração, por exemplo através de flores e plantas, “porque cor, especialmente o laranja e o amarelo, quando não é em excesso, dá-nos um boost de energia”, defende.
Estabelecer um home office
Aqueles que tiveram de fazer da casa o seu local de trabalho foram dos mais afectados durante este período. Por isso, Anne-Sophie Tellier destaca a importância da optimização da área dedicada à actividade profissional para se “ganhar em concentração, produtividade e criatividade”. É de evitar passar os dias a mudar de uma divisão para a outra, trabalhando umas vezes na sala, outras no quarto ou até na cozinha. “Se possível [arranje] um espaço específico dentro de casa, uma secretária, por muito reduzida que seja, mas mantenha sempre esse ponto”, aconselha Vanda Boavida. Já Susete Lourenço alerta para a localização de um espaço destes, destacando a sala como uma melhor alternativa ao local de dormida. “Sentir-se bem em casa, difundir novas energias, aliviar as tensões é mais importante do que nunca para que cada pessoa possa optimizar o seu potencial e bem-estar”, conclui Anne-Sophie Tellier.
Texto editado por Bárbara Wong