Ferro evoca legado de Mário Soares para um Portugal democrático e europeu
Presidente da Assembleia da República inaugurou exposição “Portugal, a Europa e o mundo”, no Parlamento, integrada na presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.
O presidente da Assembleia da República evocou nesta quinta-feira o legado político do antigo primeiro-ministro Mário Soares na opção europeia de Portugal, considerando que cumpriu o sonho de deixar um país democrático, europeu e aberto ao mundo.
Ferro Rodrigues falava na inauguração da exposição “Portugal, a Europa e o mundo”, no Parlamento, integrada na presidência portuguesa do Conselho da União Europeia e que foi comissariada pelo antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus, embaixador Seixas da Costa, e pela professora universitária Fernanda Rolo.
Tendo e escutá-lo a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, representantes da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, os presidentes das comissões de Negócios Estrangeiros e de Assuntos Europeus, respectivamente Sérgio Sousa Pinto e Capoulas Santos, Ferro Rodrigues destacou a acção do antigo Presidente da República e fundador do PS Mário Soares para a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia.
“Esta exposição percorre o período de 1945 até à actualidade — uma viagem em que se definiu o país que somos hoje — e Mário Soares, como não poderia deixar de ser, surge em grande destaque no leque das figuras mais emblemáticas de Portugal. Tal prova, como aliás tive a oportunidade de afirmar em 2017, no momento em que era conhecida a notícia da sua morte, que a dimensão do legado de Mário Soares era demasiado grande para não ser lembrada frequentemente”, apontou o presidente da Assembleia da República.
Também de acordo com Ferro Rodrigues, esta exposição estimula uma reflexão sobre as consequências das sucessivas crises que a Europa e Portugal têm atravessado, desde a financeira e orçamental, até às de carácter institucional, passando ainda pelas crises migratória, climática e pandémica provocada pela covid-19.
“Convida-nos a reflectir sobre os riscos da desintegração, as sombras que se vão fazendo notar um pouco por toda a Europa no que à democracia e Estado de Direito diz respeito”, salientou o presidente da Assembleia da República.
Tal como Ferro Rodrigues, também Francisco Seixas da Costa destacou o papel de Mário Soares, partindo da observação de que antes do 25 de Abril de 1974 era muito especial e significativo ter uma opção ideológica pela presença europeia de Portugal, já que esse período era sobretudo dominado por ideários soberanistas nas correntes à esquerda e direita.
“Defender a Europa era defender a liberdade, a ligação ao mundo e o multilateralismo. Mário Soares teve uma premonição relativamente àquilo que era a base do nosso futuro. A adesão à Comunidade Económica Europeia foi a decisão mais importante da política externa portuguesa no século XX”, sustentou o diplomata, numa intervenção em que também evocou figuras políticas como Francisco Sá Carneiro, Medeiros Ferreira e, até mesmo, ainda no período do Estado Novo, João Pedro Pinto Leite.
Já sobre a sua experiência como secretário de Estados dos Assuntos Europeus, Seixas da Costa disse que os debates parlamentares que então se travavam sobre a questão europeia “não eram muito profundos”.
“Eram muito sobre a espuma dos dias e quase sempre ligados à conjuntura nacional. Mas, de repente, assisti à densificação da actuação da Assembleia da República relativamente aos temas europeus para não se deixar os governos andar à solta na Europa. Na realidade, houve momentos em que os governos, pura e simplesmente, viviam à luz do que decidiam sem qualquer responsabilização parlamentar”, observou Seixas da Costa.
Para o embaixador, a responsabilização parlamentar começou a densificar-se com os tratados europeus “e com grandes debates europeus”.
“Vemos agora o papel que o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, tem hoje no quadro europeu e a importância que isso tem. Ora, tal faz parte da imagem da dignificação do país. O que está aqui é a mostra do que foi o nosso percurso desde 1945 - um percurso não acabado. Um custo da não Europa seria para um país como o nosso um custo demasiado elevado”, advertiu.
A abertura da exposição foi marcada por um pedido do presidente da Assembleia da República no sentido de se fizesse um momento de silêncio em memória do antigo ministro e dirigente socialista Jorge Coelho, que morreu na quarta-feira, aos 66 anos, vítima de ataque cardíaco fulminante, quando se encontrava na Figueira da Foz, distrito de Coimbra.