Mais de metade dos utentes do SNS diz não praticar qualquer tipo de exercício
Direcção-Geral da Saúde lembra a importância do exercício físico na prevenção da covid-19, mas sobretudo no equilíbrio físico e psicológico.
Quantas horas por dia passa sentado? Quantas vezes por semana pratica exercício físico? Quantas vezes por semana anda a pé? Esta terça-feira, assinala-se o Dia Mundial da Actividade Física e a Direcção-Geral de Saúde (DGS) divulgou o relatório anual do Programa Nacional para a Promoção da Actividade Física (PNPAF). Um em cada três utentes que viram o seu nível de actividade física avaliado nos centros de saúde cumprem os níveis recomendados de pelo menos 2,5 horas de exercício moderado por semana. Ainda assim, 65% dos inquiridos diz não praticar qualquer exercício físico.
Segundo o relatório de 2020 do PNPAF, em média, um em cada 100 utentes inscritos nos centros de saúde tiveram os níveis de actividade física avaliados. Os dados indicam que, ao longo de três anos, foram emitidos 36.134 guias de aconselhamento breve para a actividade física nas consultas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Até Fevereiro deste ano, 160 em cada 100.000 habitantes receberam pelo menos um guia, acrescenta o documento.
As autoridades de saúde recomendam que os adultos acumulem, pelo menos, 150 minutos por semana de actividade física de intensidade moderada, ou 75 minutos de actividades vigorosas (ou uma combinação equivalente). Se dividirmos pelos sete dias da semana, resulta em cerca de 20 minutos diários de exercício físico. Adicionalmente, devem ainda praticar actividades que contribuam para melhorar ou manter a força e resistência musculares, pelo menos, duas vezes por semana.
Os dados do relatório indicam que, em média, um em cada 100 utentes inscritos nos cuidados de saúde primários foi avaliado quanto aos seus níveis de actividade física e comportamento sedentário e 33,1% atingiu a recomendação de prática de, pelo menos, 150 minutos semanais de actividade física de intensidade moderada.
Já no que toca ao sedentarismo, 47% dos inquiridos diz passar menos de quatro horas por dia sentado. Ainda assim, 12% dos utentes passa oito a dez horas por dia sentado e 16% passa quatro a seis horas sentado — situação agravada pelo teletrabalho.
Promoção do equilíbrio
Desde o final de 2017, foram implementados nos sistemas informáticos de apoio às consultas no SNS, com especial foco nos cuidados de saúde primários, várias ferramentas de apoio à avaliação do nível de actividade física e consequente aconselhamento à sua promoção. O documento resume os dados da actividade física em Portugal e faz um ponto de situação sobre as principais estratégias para a promoção da actividade física aplicadas entre Setembro de 2019 e Dezembro de 2020.
A DGS lembra que a actividade física tem, potencialmente, um papel preventivo na infecção por covid-19 — por via do reforço do sistema imunitário, entre outros mecanismos —, mas sobretudo é uma actividade essencial ao equilíbrio físico e psicológico, “particularmente fragilizados neste contexto, principalmente nos períodos mais agudos de confinamento social”, refere.
Em 2019, 65% das pessoas reportou nunca praticar qualquer tipo de exercício físico (68%, em 2017) e 63% indicou estar sentado menos de seis horas por dia (62% em 2017), indica o documento, sublinhando que a prevalência da inactividade física “parece aumentar com a idade em ambos os sexos, sendo superior nas mulheres”.
A DGS reconhece que a pandemia de covid-19 veio colocar “desafios ímpares” a vários níveis, nomeadamente no contexto dos determinantes de saúde, mas lembra que, apesar das limitações de circulação e recolhimento obrigatório adoptadas, “Portugal definiu a prática de actividade física como uma das excepções às medidas de confinamento, reconhecendo a sua importância para a saúde física e mental neste contexto”.
Na nota introdutória do relatório, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, reconhece que a pandemia veio, também em relação à actividade física, “exacerbar iniquidades sociais”, sublinhando que o género, estatuto socioeconómico e a idade “parecem diferenciar as pessoas mais e menos activas”. Não obstante, refere, verificou-se também a ocorrência de “padrões protectores”, em que níveis mais elevados de actividade física tendem a concorrer com outros elementos como o não-aumento do consumo de snacks e o acesso às recomendações de actividade física e alimentação saudável, entre outros.
A responsável sublinha ainda que a prática de actividade física “parece ter tido um papel agregador de outros comportamentos protectores da saúde, com efeito positivo em situação de confinamento social”. Refere ainda que 55,2% da população inquirida disse ter acesso às orientações produzidas pela DGS na área da actividade física em contexto de confinamento, sendo que desses 69,3% consideraram-nas úteis ou muito úteis e sublinha que as actividades e indicadores previstos pelo PNPAF para 2020 foram cumpridos na totalidade, ainda que, nalguns casos, algumas actividades tivessem de ser ajustadas à nova realidade imposta pela pandemia.
Graça Freitas aponta ainda os “resultados promissores” conseguidos pela campanha “Siga o Assobio”, promovida pela DGS e dirigida a pessoas entre os 35 e os 65 anos que consideram que para praticar actividade física precisam de mais tempo, mais dinheiro, equipamento especial ou de estar em forma. “A sua reactivação futura, assim que o contexto de pandemia o permitir, possibilitará potenciar ainda mais o investimento feito”, admite. Reconhece que o prosseguimento da consulta de actividade física piloto e respectiva testagem é uma das principais preocupações da equipa do PNPAF, tendo em conta as alterações ao funcionamento do SNS ditadas pela pandemia.
De acordo com dados publicados no ano passado, a actividade física insuficiente é o 16.º factor de risco de nível 2 ao qual são atribuídas mais mortes (11,1 mortes por 100.000, ajustadas para a idade, a nível mundial) e o 18.º ao qual são atribuídos mais anos de saúde prematuramente perdidos.
Em Portugal, as mortes motivadas por doenças representaram 95,4% do total de óbitos na população residente em 2018, sendo que cerca de um terço de todas as mortes em Portugal se devem a factores de risco comportamentais, nomeadamente riscos alimentares, hábitos tabágicos, consumo de álcool e actividade física insuficiente.
A este nível, sabe-se que níveis adequados de actividade física na população evitariam 4,5% da prevalência de doença cerebrovascular e 4,0% dos casos de doença coronária na população mundial, estimando-se que estes valores possam ser superiores na Europa, devido à maior prevalência de inactividade física.