Aceitar a mudança e usar a resiliência
Embora algumas pessoas sejam mais resilientes do que outras, não se trata de algo exclusivo de “pessoas fortes”, havendo formas de aprender e treinar a resiliência, retirando aprendizagens para o futuro.
O período de crise pandémica que já se prolonga há um ano tem sido particularmente desafiante para muitas famílias, obrigando-as a redobrar esforços para combater não somente o SARS-CoV-2, mas também os efeitos colaterais que a pandemia acarretou e que ameaçam diariamente as pessoas, sobretudo, quem tem um emprego precário ou perdeu rendimentos.
Todos passámos por experiências novas, algumas menos boas ou que foram geradoras de tensão, ansiedade e tristeza, outras, positivas, que permitiram que continuássemos a responder de forma ajustada às tarefas familiares e profissionais que nos foram impostas. Várias foram as pessoas que descobriram que produziram tanto ou mais perante esta situação de exigência física e psicológica do que antes, demonstrando ajustamento.
A essas competências de adaptação aos desafios e adversidades que nos aparecem ao longo da vida chamamos resiliência. Trata-se de uma capacidade que às vezes parece-nos invisível, mas que muitas pessoas puseram em marcha para poder aderir e manter durante tanto tempo os comportamentos de proteção contra o vírus, as alterações do dia-a-dia, o confinamento e o distanciamento de quem mais gostam. Esta capacidade de adaptação desenvolve-se ao longo do nosso curso de vida e contribui para o nosso sentido de competência e para o aumento da nossa autoestima. A resiliência é um processo ativo e adaptativo que também engloba a capacidade de usar pensamentos, emoções e comportamentos para lidar e gerir de forma adequada os fatores de stress e que nos permite recuperar de problemas ou de dificuldades.
Embora algumas pessoas sejam mais resilientes do que outras, não se trata de algo exclusivo de “pessoas fortes”, havendo formas de aprender e treinar a resiliência, retirando aprendizagens para o futuro. Os adultos podem, por exemplo, dar mais atenção ao que funciona nas suas vidas individualmente e em família; dar relevo às suas capacidades e competências individuais e usá-las a seu favor; ser gratos e apreciar aquilo que têm e quem são, mostrar-se disponível para resolver problemas de forma diferente do que estava habituado; cultivar boas relações com os outros; abrir-se às relações que trazem afeto e tranquilidade; manter o foco no presente e não se preocupar em demasia com aspectos que fogem ao seu controlo.
Do ponto de vista dos mais novos, é fundamental que as crianças percebam que não é possível estarmos constantemente felizes e satisfeitos. Diariamente haverá algo que nos deixa tristes, irritados, magoados ou zangados, então, temos de nos permitir sentir e aceitar as emoções, procurando dar-lhes uma resposta satisfatória, equilibrando necessidades físicas e psicológicas.
Para ajudar as crianças a aumentar a sua resiliência, os pais podem:
- Mostrar à criança que os eventos adversos podem ser difíceis, mas não têm de determinar o curso da nossa vida. Existem muitos aspetos que podemos controlar e modificar ou ajustar;
- Dizer à criança o quanto é amada e que tem o apoio dos pais e da família;
- Deixar a criança estar com os seus pares sempre que possível;
- Ensinar a confiar nas suas capacidades para lidar com as situações e a pedir ajuda quando preciso;
- Promover o bem-estar, através do exercício físico, do relaxamento, da brincadeira e da diversão;
- Ajudá-la a centrar-se em pensamentos adaptados e que promovam o ajustamento à situação, por exemplo, focando no que a criança conseguiu fazer;
- Procurar encontrar um significado relacionado com as características, interesses e pontos fortes da criança, preparando-a para aprender com as experiências difíceis;
- Ensinar a criança a partilhar emoções e preocupações com quem confia e não ser crítico das suas emoções negativas;
- Com algumas crianças poderá ser útil construir um diário onde escreve as principais situações do dia, os sentimentos que surgiram e como reagiu o seu corpo, preparando-se para tomar decisões diferentes no dia seguinte, caso seja necessário.