Atrasos nas farmacêuticas não comprometem “objectivo de vacinação”, mas podem levar a ajustes de calendário

O ministro dos Negócios Estrangeiros anunciou que Portugal vai destinar um milhão de vacinas contra a covid-19 aos PALOP e a Timor-Leste.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

Caso venha a verificar-se uma diminuição na quantidade de doses prometidas pela farmacêutica AstraZeneca à União Europeia, é possível que tenha de ser realizado um ajuste do calendário de administração e distribuição das vacinas, sublinhou o ministro dos Negócios Estrangeiros. Augusto Santos Silva deixou claro porém que “o objectivo da vacinação não está comprometido”, até porque a União Europeia comprou mais doses do que as necessárias para inocular toda a população dos países que dela fazem parte. 

Das vacinas que chegarão a Portugal, um milhão serão entregues aos PALOP e a Timor-Leste no segundo semestre de 2021, anunciou esta quarta-feira o ministro. “Em números redondos, significa assegurar um milhão de vacinas visto que a nossa compra global é na ordem dos 20 milhões de doses”, concretizou Augusto Santos Silva, depois de, na terça-feira, o primeiro-ministro, António Costa, ter anunciado que Portugal redireccionaria 5% das suas vacinas contra a covid-19 para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste.

O ministro dos Negócios Estrangeiros apontou o primeiro semestre de 2021 como a data prevista para as vacinas começarem a chegar ao destino, sem avançar detalhes sobre os critérios de distribuição por país. “Esperamos que a distribuição de vacinas comece ao longo do próximo semestre” disse, ressalvando que o calendário está dependente da “cadência de abastecimento por parte das empresas farmacêuticas” das vacinas compradas por Portugal. “A nossa melhor perspectiva é o mais cedo possível ao longo do próximo semestre”, acrescentou.

Na terça-feira, fonte da UE citada pela agência Reuters, adiantou que do total de vacinas da AstraZeneca contratualizadas com a União Europeia para o segundo quadrimestre deste ano, apenas metade devem chegar aos países. Mas logo a seguir fonte oficial da farmacêutica afirmou que a entrega será cumprida com a produção de vacinas a ser feita fora da Europa.

Augusto Santos Silva admitiu, neste contexto, que, tal como poderá acontecer internamente, também o calendário da distribuição de vacinas aos países lusófonos e Timor-Leste poderá ter de sofrer ajustes. “A nossa estimativa é iniciar o processo de distribuição dos 5% de vacinas que afectamos à cooperação bilateral o mais cedo possível ao longo do próximo semestre e esse objectivo não está comprometido”, disse. “O cronograma é, naturalmente, ajustado quer para efeitos de aplicação interna, na União Europeia, quer para efeitos de cooperação internacional”, acrescentou.

Augusto Santos Silva considerou ser “ainda cedo” para avançar mais detalhes sobre a distribuição das vacinas portuguesas por país, cujos critérios serão acordados com as autoridades locais, e não indicou qual ou quais das três vacinas actualmente aprovadas na UE (Pfizer-BioNtech, Moderna e AstraZeneca) serão distribuídas.

“Neste momento, estamos a trabalhar com essas autoridades na preparação dos respectivos planos de vacinação e na formação de recursos humanos que serão agentes de vacinação”, disse.

Além das vacinas direccionadas de forma bilateral, o ministro dos Negócios Estrangeiros referiu que Portugal contribuiu já com mais de um milhão de euros para o mecanismo Covax, iniciativa da Organização Mundial de Saúde (OMS e da Aliança para as Vacinas (Gavi), que visa assegurar a vacinação de 20 por cento da população de 92 países de baixo ou médio rendimento.

“Na participação portuguesa no mecanismo Covax, vamos assinalando que queremos que um dos destinos principais da distribuição de vacinas sejam os países parceiros da cooperação portuguesa”, disse Santos Silva.

Durante a sessão desta quarta-feira, em que participou também a ministra da Saúde, Marta Temido, os dois governantes fizeram o balanço intercalar do plano de apoio à resposta sanitária à pandemia nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste, iniciado em meados de 2020 com duração prevista de um ano.

De acordo com Augusto Santos Silva, Portugal investiu neste plano até ao momento 3,8 milhões de euros em contribuições para organizações multilaterais (1,1 milhões de euros), no fornecimento ou apoio à compra de material médico e de proteção individual, na formação de pessoal médico e no financiamento de projectos no terreno de organizações não governamentais para o desenvolvimento (970 mil euros).

Por seu lado, a ministra da Saúde, Marta Temido, sublinhou a importância da união e da solidariedade no combate à pandemia, antevendo que o envio das vacinas os PALOP e Timor-Leste venha a ser facilitado quando houver vacinas com condições de “armazenamento e distribuição mais simples”.

“O futuro, hoje em 2021, é ainda repleto de incertezas, interrogações às quais não conseguimos responder. Mas unidos estaremos mais bem preparados para enfrentar os desafios que esperam as populações”, afirmou.

Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os países beneficiários do plano.