Começou a tocar piano com apenas 4 anos, no mesmo ano em que morreu aquele que, como disse há três anos à revista Le Nouvel Observateur, foi o grande amor da sua vida: Claude Debussy. Mas lembra-se desde sempre de encontrar na música o conforto ausente na sua rigorosa educação. Hoje, aos 106 anos de idade, a interpretação de Colette Maze ainda emana grande ternura e, sentada ao piano, um dos quatro que ocupam o seu apartamento em Paris, os seus dedos ágeis mal parecem tocar nas teclas enquanto nos embala ao som de Schumann, Debussy e Chopin.
“É o meu alimento, o meu alimento para o espírito e para o coração”, explica Colette Maze, uma pequena e vivaz mulher, à Reuters.
French pianist Colette Maze is 106 years old. She began playing the piano when she was four years old and still exudes great tenderness when she plays today. Maze credits finger gymnastics and yoga for keeping her nimble pic.twitter.com/0jetChvjtJ
— Reuters (@Reuters) February 6, 2021
Nascida em 1914 no seio de uma família de classe média, Colette Maze recorda a sua educação rigorosa, assumida pela austera mãe, enquanto o pai geria uma fábrica de fertilizantes. Depois, prosseguiu os estudos na École Normale de Musique de Paris, um conservatório no 16.º bairro, onde aprendeu a arte do piano com Alfred Cortot e Nadia Boulanger, antes de iniciar uma longa carreira como acompanhadora nas escolas de música da capital.
A agilidade que mantém deve-se, segundo conta, ao ioga e à ginástica especifica para os dedos que pratica diariamente. Se parar de tocar, terá de alimentar a sua imaginação de alguma forma. “Mas eu preciso de algo palpável. Há quem precise de provar doces; os meus dedos precisam de sentir as teclas [do piano], de sentir isto”, diz enquanto os seus pés alcançam os pedais, e recomeça a tocar.
Além disso, disse em 2018 à L'Obs, atribui a sua excepcional longevidade ao consumo diário de três ovos frescos, aos quais junta um copo de vinho de Graves, um pouco de queijo brie e chocolate.
Colette Maze acaba de gravar o seu sexto álbum, uma gravação de três volumes de obras de Debussy, prevista para ser lançada em Abril, tendo no ano passado, gravado obras de Debussy e de Erik Satie.
O seu único filho, o cineasta Fabrice Maze, nascido em 1949, descreve a pianista como uma inspiração, especialmente durante os tempos da pandemia de covid-19. “Por um lado, ela ajuda na parte moral, [mostrando] que aos 106 anos alguém pode estar em boa forma se tiver paixão e se cuidar de si próprio - isso é uma boa notícia”, sublinha o também argumentista. “Depois, o seu sentido de humor, a sua alegria, o seu amor pela vida, faz-nos sorrir.”