Sanofi vai ajudar a BioNtech a produzir 125 milhões de doses da vacina da covid-19
Este exemplo cria expectativas de que mais farmacêuticas cooperem para aumentar a quantidade disponível das vacinas que já demonstraram a sua eficácia, num momento de alta tensão por causa da escassez de doses.
A farmacêutica francesa Sanofi anunciou que vai apoiar a BioNtech na produção da vacina contra a covid-19, facilitando-lhe o acesso às suas infra-estruturas. As primeiras doses da vacina comercializada pela Pfizer-BioNtech devem sair da fábrica da Sanofi em Frankfurt no Verão de 2021, com o objectivo de produzir um total de 125 milhões de doses.
A vacina contra a covid-19 que está a ser desenvolvida pela Sanofi e pela sua parceira britânica GSK está muito atrasada – não deve ter resultados antes do fim de 2021, embora a União Europeia tenha assinado um contrato para adquirir até 300 milhões de doses. Assim sendo, o Governo de Paris tinha pedido à Sanofi, que é uma das maiores empresas farmacêuticas mundiais, para tentar apoiar os seus concorrentes, neste cenário de escassez de vacinas em que se está a viver.
A Sanofi, que está a passar por um processo de reestruturação que em 2020 previa a supressão de 1700 empregos na Europa, incluindo em funções ligadas à investigação científica, está a atravessar um período difícil, e recebeu financiamento da União Europeia e do Governo francês para desenvolver uma vacina e eventuais tratamentos contra o SARS-CoV-2, diz o jornal Le Monde.
“Tomámos a decisão de apoiar a BioNTech e a Pfizer na produção da sua vacina contra a covid-19, no sentido de contribuir para a satisfação das necessidades globais, visto termos a tecnologia e as instalações apropriadas para tal”, disse Paul Hudson, administrador da Sanofi, citado num comunicado da empresa.
Este anúncio surge numa altura de alta tensão entre a União Europeia e as farmacêuticas, devido à incapacidade destas em fornecer a quantidade de doses necessárias para imunizar as populações com a velocidade desejada – tudo começou com a Pfizer, que diz ter de reduzir a sua produção para fazer modificações na fábrica de Puurs, na Bélgica, para poder aumentar a capacidade de produção para dois mil milhões de doses anuais, e provocou já ameaças de processos de alguns países da UE, e uma insatisfação crescente com o processo em alguns países, como a Alemanha.
Mas o sentimento de que as farmacêuticas não estão a cumprir o contrato agravou-se com a AstraZeneca, que segundo o calendário previsto deverá ver a sua vacina aprovada pela Agência Europeia do Medicamento na sexta-feira, mas anunciou entretanto que vai fazer cortes de 60% na quantidade que deveria fornecer à UE inicialmente.
O acordo com a Sanofi cria expectativas de que outras grandes farmacêuticas abram as portas das suas unidades de produção e as suas cadeias de distribuição às vacinas que já provaram ser eficazes – para ajudar a produzi-las em maior quantidade e a facilitar a sua distribuição, em vez de continuar a competição por recursos escassos. “A acção da Sanofi mostra que isso é possível”, disse Sam Fazeli, analista da Bloomberg Intelligence, citado pela Bloomberg.
Mas a Sanofi não desiste de desenvolver a sua vacina com a britânica GSK. “A nossa prioridade é focarmos os esforços e a capacidades na luta contra esta pandemia mundial. Mas, acima de tudo, iremos também consegui-lo continuando a desenvolver as nossas próprias vacinas candidatas para a covid-19, em paralelo com esta colaboração industrial”, frisou o administrador Paul Hudson.
A vacina da Sanofi-GSK, que usa uma tecnologia de proteína recombinante, baseada numa das suas vacinas para a gripe sazonal, combinada com um adjuvante, vai iniciar um novo ensaio clínico de fase 2 em Fevereiro, com uma fórmula melhorada, nos Estados Unidos, em que deve ser feita uma comparação com uma vacina já existente, diz a publicação especializada Fierce Pharma. Se os resultados forem favoráveis, poderá avançar um ensaio de fase 3 no segundo trimestre do ano e, se tudo correr bem a partir daí, o cenário previsível é que a vacina seja aprovada no final de 2021, diz a Sanofi.
Os resultados iniciais, no entanto, revelaram uma vacina pouco eficaz nas pessoas com mais de 49 anos e uma resposta imunitária “comparável à obtida nas pessoas que recuperaram da covid-19” nos voluntários com idades entre os 18 e os 49 anos.