Lisboa pondera abertura de hospital de campanha para aliviar pressão nas unidades do SNS
No Algarve, hospital de campanha montado no Pavilhão Arena é coordenado pela administradora do centro hospitalar que é médica e fez três turnos seguidos de 24 horas.
No dia em que foi ultrapassada pela primeira vez a fronteira dos quatro mil doentes com covid-19 internados nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), quase seis centenas dos quais em cuidados intensivos, o cenário é muito complicado, há transferências de doentes e reconversão de enfermarias, as urgências acusam uma pressão crescente e as unidades já se preparam para o agravamento da situação nas próximas semanas. Em Lisboa e Vale do Tejo (LVT) está mesmo a ser ponderada a abertura do hospital de campanha que está montado desde Junho no estádio universitário mas que ainda não foi utilizado.
Um passo que já foi dado no Algarve, onde o hospital de campanha montado no Pavilhão Arena (Portimão) já tinha esta terça-feira 11 doentes e está preperado para receber muitos mais. Coordenado pela presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário local (CHUA), a médica Ana Castro, que já somava esta terça-feira três turnos seguidos de 24 horas naquela estrutura de apoio, o hospital de campanha tem capacidade para receber uma centena de doentes.
Já a “estrutura hospitalar de contingência” no estádio universitário de Lisboa - que resulta de uma parceria entre a Administração Regional de Saúde (ARS) de LVT, a Câmara e a Universidade de Lisboa, além das forças armadas e dos centros hospitalares da capital - está preparada para acolher 58 doentes numa primeira fase, adianta o presidente da comissão directiva, António Diniz. Vocacionado para aliviar a pressão das unidades públicas, o hospital de campanha destina-se a receber doentes sem critérios de gravidade e pode chegar a um máximo de 310 vagas em três pavilhões e, eventualmente, numa tenda de campanha. Para funcionar, porém, a estrutura precisa de médicos e enfermeiros, frisa António Diniz.
Os hospitais de LVT - onde estavam esta terça-feira internados 1630 doentes com covid, 216 dos quais em unidades de cuidados intensivos (UCI) - são os que se encontram numa situação mais complicada. Alguns já estão mesmo em ruptura e têm tido que transferir doentes, mas o cenário não é homogéneo.
O Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, (S. José, Curry Cabral e D. Estefânia) dispunha esta terça-feira de três vagas em UCI e 15 em enfermarias. Apesar de estar a “avançar” para “o último nível [do plano de contingência]”, que tem “várias fases”, não estava ainda “no fim” dos seus recursos”, segundo assegurou à Lusa o director clínico, Pedro Soares Branco. Na fase mais elevada do plano de contingência e a preparar um aumento da capacidade de resposta, o Centro Hospitalar de Lisboa Norte (Santa Maria e Pulido Valente) tinha oito vagas em cuidados intensivos e 10 em enfermarias e continuava a receber doentes de outros hospitais “fechados ao CODU” (sem disponibilidade para receber casos urgentes).
Em situação mais difícil e “de grande pressão” estava o Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra), com apenas uma vaga em enfermaria (para um total de 150 camas) e uma vaga em cuidados intensivos (21 doentes internados). Mesmo assim, garantia que a a capacidade de resposta “não está esgotada”. Já os hospitais de Loures e de Setúbal estavam a funcionar acima das suas capacidades, de acordo com a Sic Notícias, que divulgou uma circular normativa da unidade de Setúbal em que esta admitia ter estado “à beira do colapso”, tendo sido necessário activar o nível máximo, de “crise”, do respectivo plano de contingência.
Com um quarto da sua lotação destinada a doentes com covid e aumentos sucessivos da capacidade de resposta, o Hospital Garcia de Orta (Almada) transferiu dez pacientes para o Porto e Matosinhos no fim-de-semana e já está "para além do seu nível máximo do Plano de Contingência que previa inicialmente um total de 66 camas em enfermaria e nove em cuidados intensivos”. Até ao final deste mês, o hospital prevê abrir uma “nova unidade contentorizada de internamento e outra destinada ao circuito externo para doentes respiratórios do Serviço de Urgência Geral”.
Mais calmo parece estar o cenário no Norte, onde esta terça-feira havia 979 doentes com covid internados em enfermarias (taxa de ocupação de 79,7%) e 227 em unidades de cuidados intensivos (83,9%). O Centro Hospitalar e Universitário São João, que tem recebido doentes de Lisboa à semelhança de outras unidades do Norte, assevera que a situação “é de tranquilidade, apesar da enorme pressão que se faz sentir ao nível da procura no serviço de urgência e internamento”, graças “ao planeamento efectuado anteriormente”. No nível II (de IV) do plano de contingência, o CHUSJ não teve sequer ainda necessidade de adiar actividade programada.
O Centro Hospitalar e Universitário do Porto, que tinha 141 doentes com covid-19 internados, adintou que a taxa de ocupação nas áreas dedicadas era de 79% em enfermaria e de 78% em cuidados intensivos. No Centro Hospitalar de Gaia/Espinho havia igualmente ainda muitas vagas nos cuidados intensivos (12 internados para uma lotação de 28 camas) e, “como reserva”, uma enfermaria estava em fase de reconversão para o caso de ocorrer um aumento brusco de doentes.
Numa altura em que o “cenário é difícil e transversal a todo o país”, o Centro Hospitalar Tondela-Viseu também não é excepção (163 doentes internados, 12 dos quais em cuidados intensivos) e optou por contratualizar já camas com a Casa de Saúde São Mateus e a CUF Viseu para “doentes não-covid” e as Residências Montepio de Albergaria para doentes com covid.
Os centros hospitalares do Baixo Vouga (Aveiro) e o universitário de Coimbra têm estado a abrir enfermarias para acolher o número crescente de doentes. Esta terça-feira o Baixo Vouga tinha 92 pacientes internados para 121 camas alocadas a covid e apenas uma vaga (das dez) nos cuidados intensivos. Em Coimbra, a taxa de ocupação nos cuidados intensivos era de 89% e de doentes em enfermaria era de 96%. Esta terça-feira foi aberta mais uma enfermaria para doentes “estáveis” com 28 camas. A ARS do Centro não viu por enquanto necessidade de accionar hospitais de campanha, optando por estabelecer adendas aos protocolos de convenções com os sectores privado e social (53 camas para doentes com covid e 51 para pacientes com outras patologias).
Numa altura em que a taxa de ocupação em enfermaria e cuidados intensivos no Algarve rondava os 80%, a ARS desta região, em parceria com o centro hospitalar, a Câmara de Portimão e a Autoridade de protecção Civil, optou por abrir o hospital de campanha no Pavilhão Arena e activou uma estrutura de apoio de retaguarda num hotel de Alvor com capacidade para receber “várias centenas de pessoas com covid-19 que não precisem de internamento hospitalar”.